Apresentado no ASCO, o estudo do uso do aplicativo ePAL é um bom exemplo de como a tecnologia pode interferir em diferentes níveis no tratamento de doenças.
Criado por uma equipe de Boston especialmente para pacientes com câncer, a pesquisa reuniu grupos com três níveis de dores oncológicas diferentes: pacientes com dor controlada, pacientes com dor crônica (que não é controlada mas não é algo agudo, que necessita socorro imediato) e pacientes com dor aguda.
A partir de um questionário detalhado e relatos de dor dos pacientes, a inteligência artificial foi capaz de distinguir a dor urgente da não urgente e fornecer mensagens educacionais em tempo real, como por exemplo, quando tomar cada remédio e em qual horário.
Se a dor fosse grave ou piorasse, o aplicativo os conectava com seus médicos para um atendimento mais personalizado. "Dessa forma, eles iam aprendendo a lidar com a dor e entendendo seus limites, sem necessariamente precisar consultar um médico", aponta Carnier.
Após oito semanas, o nível de dor dos pacientes que usaram o app diminuiu em 20%, mas o mais surpreendente foi a redução em 69% de chances de visitar um pronto-socorro por conta da dor, em comparação com o grupo controle, que não utilizou a tecnologia.
Isso mostra o potencial da tecnologia para educar as pessoas e diminuir a lotação dos hospitais. A técnica poderia trazer enormes benefícios ao sistema público de saúde
Thiago William Carnier, oncologista do Hospital Beneficência Portuguesa
Por outro lado, a novidade também aumentou os níveis de ansiedade de alguns pacientes, que sentiam insegurança em lidar com a própria dor sozinhos.
Como próximo passo, os autores planejam desenvolver uma plataforma ainda mais robusta e estudá-la em outros ambientes clínicos. "Estamos especialmente interessados em ver se esse tipo de tecnologia pode ser útil em áreas onde o acesso a cuidados paliativos é limitado", disse Mihir M. Kamdar Diretor Associado da Divisão de Cuidados Paliativos do Massachusetts General Hospital, em Boston.