Um dos pontos mais polêmicos da comparação entre reduzir carboidrato ou gordura é o chamado "modelo da insulina" de emagrecimento. Ele diz que, ao reduzir os níveis de glicose em circulação, reduzimos também os picos de insulina, hormônio que inibe a "queima" de gordura. Lembrando que a glicose é o produto da quebra do carboidrato durante a digestão —por isso dietas low carb causam menor circulação desse nutriente no corpo.
A insulina é responsável por armazenar a gordura e impedir seu uso como fonte de energia. Então, do ponto de vista metabólico, a low carb seria mais benéfica para liberar a gordura que está armazenada como fonte de energia Rodrigo Bomeny, endocrinologista
Explicamos: a insulina, hormônio responsável por colocar o açúcar dentro das células, tem uma ação anabólica, o que quer dizer que está envolvido na construção de moléculas, e não na quebra delas —processo necessário para a perda de gordura corporal. Quando o consumo de amido e açúcares é elevado e frequente, pode haver um aumento crônico da quantidade de glicose em circulação e, consequentemente, de insulina.
A lógica até faz sentido, mas a importância dos picos de insulina para o ganho de peso é questionável. "Na low carb, você de fato tem picos menores depois da refeição, mas a importância disso para o ganho de peso é mínima ou nenhuma", aponta Geloneze. De acordo com ele, é o estado elevado de insulina crônico que interfere mais no ganho de peso. Quando você tem uma dieta hipercalórica, começa a engordar e cria resistência a insulina, passando a estocar mais gordura ainda.
Fora que, ao aumentar muito o nível de gorduras consumidas, como pode ocorrer nas dietas low carb, o corpo também acumula mais gordura. Diferente do que se pensa, ela não é imediatamente utilizada como energia na falta dos carboidratos. Primeiro, é transportada para os tecidos adiposo e muscular para só então ser recrutada pelo organismo. Mesmo que o corpo queimasse mais gordura pela ausência de carboidrato, o que depende de uma série de fatores para ocorrer, se a ingestão de gordura não for controlada de perto, é possível que o efeito seja o oposto do esperado.
Olhar para a insulina isoladamente é um erro, primeiro porque, apesar do pico, que pode nem ocorrer dependendo da combinação do carboidrato e do nível de atividade física, seu nível cai muito rapidamente. Depois, porque precisamos deste hormônio também para preservar a massa muscular Antonio Herbert Lancha Junior, doutor em nutrição pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP
Embora a diminuição de carboidratos de fato promova um metabolismo melhor da insulina e da glicose em curto prazo quando ambos já estão elevados, o ideal é que ela seja uma estratégia curta, apenas para arrumar a casa. "A tendência do excesso de lipídios e de proteínas em longo prazo é acentuar o quadro de resistência periférica a ação de insulina, quadro que abre caminho para o diabetes", aponta Lancha.
E tem mais: ao reduzir progressiva e moderadamente a quantidade de calorias e aumentar o gasto energético (o que mais importa no fim das contas para perder peso), o metabolismo da insulina se equilibra não importa qual ingrediente seja o alvo de seu programa de emagrecimento. Isso porque o tecido adiposo influencia no funcionamento deste e de vários outros hormônios. Um estudo de 2018, publicado no JAMA, acompanhou por um ano —tempo considerado longo no mundo das dietas — cerca de 600 adultos divididos entre versões pouco restritivas da dieta low carb e low fat. Ambos perderam peso na mesma medida e tiveram melhora no padrão de secreção da insulina.