Os nativos digitais —que já nascem conectados — transitam pelo mundo digital de maneira mais tranquila que os mais velhos. Eles convivem melhor com a tecnologia por ter uma plasticidade cerebral maior para desenvolver essa interface com as máquinas, algo que é estimulado desde cedo. Mas nem eles são imunes aos efeitos maléficos do excesso de informações. Independentemente da idade, querer abraçar todas as notícias, conhecimentos técnicos e científicos e fontes de entretenimento como filmes e séries de TV pode levar ao adoecimento. É como olhar uma vitrine cheia de produtos igualmente interessantes e não poder levar todos para casa.
As consequências costumam ser de ordem emocional, como ansiedade, estresse, esgotamento mental, frustração, tristeza, preocupação e angústia. Às vezes vira um fardo tão pesado que pode levar à depressão. "Não diria que num primeiro momento uma pessoa tendo uma sobrecarga de informações ela começaria a ter depressão. Mas talvez a constatação da impotência para lidar com as demandas e pressões atuais, de não ver luz no fim do túnel, pode acionar esse gatilho emocional", avalia Ana Maria Rossi, doutora em psicologia clínica e presidente da Isma-BR (International Stress Management Association no Brasil).
Além de abalar as emoções e elevar o nível de cortisol —hormônio relacionado ao estresse —, expor-se a montanhas de informações também pode provocar males físicos como cansaço, dor de cabeça, nas costas, no pescoço e no peito, desconforto muscular, hipertensão arterial, aumento da frequência cardíaca e diabetes, entre outras doenças inflamatórias. E ainda prejudicar o sono e a memória. "Não que a pessoa vai deixar de ter memória, mas ela fica ocupada com tantas informações que é como se faltasse espaço para acessar as memórias que precisa para as situações do cotidiano", diz Renata Guerra, coordenadora do Programa Ambulatorial de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do IPq-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
É como um efeito dominó. "Num primeiro momento, a informação vai atingir a pessoa emocionalmente. Uma vez que ela afeta suas emoções, poderá ou não servir de gatilho para uma reação fisiológica. E com isso aciona também reações comportamentais", diz Rossi. Em relação ao comportamento, quando a pessoa se sente incapaz de lidar com a situação, ela tanto pode ficar agitada quanto paralisada. Se for sugestionável, é ainda mais difícil, pois fica sem saber em que ou em quem confiar, principalmente diante de notícias inconclusivas. Sofre também quem se apega às informações como uma medida paliativa para preencher o vazio existencial, uma vez que não é possível camuflar essa dor por muito tempo.
Tudo isso causa um desequilíbrio interno maior do que se pode imaginar, sobretudo quando se trata de conteúdos que não fazem bem. "A saúde é afetada pela maneira como a gente se nutre, não só com alimentos, mas com hábitos e informações que chegam, com tudo o que os nossos órgãos do sentido captam. Quem só se alimenta de notícias negativas tem grandes chances de gerar afetos negativos dentro de si. E eles fazem mal à saúde mental quando são repetitivos e crônicos", diz Guerra. Mas, sem dúvida, é a ansiedade que castiga mais, principalmente as pessoas que são ansiosas por natureza.
Elas vivem com a sensação de estar sempre devendo algo a si mesmas, pois nunca conseguem cumprir suas "metas de informação". Quando não conseguem puxar o freio de mão, são tomadas pela culpa. Mesmo quem é aficionado por informações, como o Flavio Paulino, que abriu essa reportagem, pode experimentar seus efeitos nocivos.
"Fisiologicamente nós não diferenciamos as consequências do estresse negativo e do positivo. A frequência cardíaca e a pressão arterial são alteradas, o ritmo cerebral aumenta em termos de ondas cerebrais. Enfim, as reações fisiológicas são muito similares. O que diferencia são as reações emocionais, já que o estresse positivo traz satisfação, prazer", explica Rossi. Ou seja, mesmo sentindo prazer, você ainda está sob efeitos hormonais negativos.
Não importa se a sua relação com as informações é de prazer ou de obrigação. Se elas não estão fazendo bem a você, fique atento. Não está tudo bem quando você não encontra tempo para estar com quem ama, aprender algo novo ou se dedicar a um hobby. Assim como não é normal perder a alegria e a paz. E não adianta tentar fugir desse incômodo, refugiando-se em bebidas alcoólicas, por exemplo. "Muitas pessoas sofrem por um tempo significativo pelo preconceito de procurar um tratamento ou por desconhecimento mesmo, de saber que aquilo é um transtorno. Elas não devem ignorar porque seria um sofrimento desnecessário. Hoje temos muitos recursos para tratá-las", garante Guerra.