Dieta não é comer saudável

Mesmo que a perda de peso esteja ligada a mais saúde, a maioria das dietas trazem mais prejuízos do que ganhos

Cristina Almeida Colaboração para o UOL VivaBem Eryk Souza/UOL

88% das mulheres gostariam de perder 3 quilos agora mesmo. Esse foi o resultado de uma pesquisa da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos) sobre a satisfação do sexo feminino com a própria imagem física.

Não se trata de pensar nos alimentos. É estar atento às suas calorias. Todo o tempo e numa espiral de pensamentos que beira à obsessão.

Lado a lado aos altos padrões estéticos estão valores como felicidade, autoestima, aceitação social, sucesso profissional etc. E quando o objetivo não é alcançado, toda a frustração vem à tona.

Já se sabe que magreza não é, necessariamente, sinônimo de saúde. As dietas para perda de peso estão longe de uma alimentação saudável. Às vezes até parece impossível emagrecer e ser saudável, mas tenha certeza de que essa é a melhor saída.

Erik Souza / Arte UOL
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Dietas fazem mais mal do que bem

Gosto de dados científicos, então vamos a mais um deles: você pode perder de 5% a 10% de seu peso ao seguir um regime, mas, depois os quilos eles voltam e até aumentam. Além disso, fazer dieta é fator que causa ganho de peso no futuro. Os achados foram publicados na revista American Psychologist.

De acordo com os especialistas no assunto, a razão para isso é que esses programas de emagrecimento não são sustentáveis, seja porque são excessivamente restritivos, seja porque excluem determinado tipo de nutriente. Além disso, o corpo tem sua própria sabedoria. Ao perceber a redução do consumo de calorias para as necessidades básicas de seu corpo, ele responde com a diminuição do ritmo de seu sistema.

Isso explica por que pessoas que fazem dietas repetidamente e sem supervisão especializada apresentam sintomas como intestino irritável e constipação, ambos problemas relacionados à digestão lenta.

Quando tentamos reduzir o consumo de nutrientes, outros mecanismos orgânicos entram em ação. Um corpo faminto leva ao constante pensamento sobre comida. Hormônios como a grelina, a leptina e a insulina, ligados à fome e à saciedade, trabalham o tempo todo para avisar que estamos "mais vazios" do que deveríamos. A fome e os perigos para a saúde só crescem.

Confira os riscos físicos e psicológicos de dietas repetidas ou privação de nutrientes:

  • Deficiência nutricional;
  • Alterações metabólicas;
  • Cansaço;
  • Hipertensão;
  • Aumento de risco cardíaco;
  • Efeito sanfona;
  • Pedra nos rins;
  • Obsessão com o peso;
  • Ansiedade;
  • Perda do prazer de comer;
  • Isolamento social para evitar oportunidades para comer;
  • Comer transtornado;
  • Excesso de exercícios ou práticas inadequadas;
  • Baixa autoestima;
  • Aumento da sensação de incompetência por não poder atender aos padrões sociais;
  • Aumento do risco para distúrbios alimentares.
Erik Souza / Arte UOL Erik Souza / Arte UOL

O que é, então, comer saudável?

Se cortar calorias radicalmente não faz bem, mas ser obeso também não, como ser saudável?

Essa pergunta foi feita a um grupo de pessoas. As respostas variaram entre refeições sem gordura e sem sal, isto é, desprovidas de prazer, de vida.

O conceito clássico de alimentação saudável é comer alimentos de todos os grupos: cereais (arroz, aveia, centeio, milho, trigo), leguminosas (feijões, soja, lentilha, ervilha, grão de bico), carnes e ovos, verduras, frutas e legumes, laticínios, além de água e gorduras boas.

Quanto mais natural for a alimentação, mais saudável ela será; quanto mais caseiras forem as preparações, melhor para a sua saúde.

Comer também é prazer

Entretanto, há especialistas que entendem que dieta saudável não se trata apenas de uma questão nutricional, mas também comportamental. Afinal, as pessoas não se nutrem só por meio da comida: os sentimentos igualmente contam. Comer é um ato fisiológico e psicológico.

Essa interpretação parte da etimologia do vocábulo "dieta", cuja origem é grega e significa modo (estilo) de vida. Usá-lo tão repetidamente para descrever planos de emagrecimento fácil o teria desvinculado da sua real e profunda essência.

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Comer bem emagrece

Quer emagrecer? A receita é comer normal. Não se assuste, nutrólogos e nutricionistas consultados nesta reportagem são unânimes quanto à importância dessa estratégia.

Para prevenir interpretações equivocadas é melhor entender que é preciso investir em opções variadas, incluir todos os tipos de alimentos --desde que sejam consumidos em quantidade e contexto adequados.

Diante dessa perspectiva, dá até para comer batata frita, mas não dá para viver dela.

Você deve combiná-la com outros alimentos naturais (como arroz, feijão, frango), reduzindo a ingestão de alimentos processados e ultraprocessados. Some-se a isso a adoção de formas de cocção mais saudáveis (grelhados, cozidos ou assados).

Todos esses elementos compõem esse conceito amplo do comer normal (e saudável). A ideia é começar a entender a importância de trocar prazeres imediatos por um duradouro bem-estar que pode trazer como resultado a perda de peso.

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Mudança e aceitação

Sentir medo de comer e engordar é bastante comum e cria um processo de ansiedade que não ajuda em nada. Os melhores resultados na implementação de um projeto sustentável de manutenção ou perda de peso, aliados a uma alimentação saudável, começam a partir de uma atitude de aceitação da importância do autocuidado e autoconhecimento.

Uma boa opção para começar é estar aberto para novas possibilidades. Estar mais presente, ser mais curioso, gentil e compassivo com os alimentos e o seu próprio corpo. Esses princípios têm sido úteis para motivar a construção de um novo estilo de vida.

O mecanismo envolvido nesse processo se baseia no desenvolvimento da capacidade de ser refletir sobre suas escolhas, reduzindo o sofrimento emocional, permitindo a conscientização e autorregulação das experiências físicas.

Como ter um emagrecimento sustentável?

Por ser uma estratégia tão abrangente, é preciso que ela seja sustentável porque estamos falando de um projeto com prazo indeterminado e que pode durar o resto da sua vida. Vem daí a insistência dos especialistas na ideia de buscar mais equilíbrio e menos restrição.

Prefira metas inteligentes, reais, específicas, mensuráveis e que têm um tempo certo para serem iniciadas. Por exemplo, a meta de "decidir comer de forma mais saudável e se exercitar" é considerada ampla demais e pouco inteligente. Uma melhor escolha seria organizar-se para:

  1. Cozinhar legumes dois dias por semana para o jantar, e pelos próximos 21 dias;
  2. Caminhar por 150 minutos no parque, todas as semanas, especificando 3x por semana, por 50 minutos e das 8 horas às 9 horas, todas as segundas, quartas e sextas-feiras, durante os próximos 2 meses.

Entretanto, mesmo tendo o melhor plano de exercícios e alimentar do mundo, isso não garante que você sempre se sentirá motivado.

Por isso é importante ter um suporte profissional e construir uma rede de relacionamentos para compartilhar suas iniciativas e avanços.

Segundo os especialistas, há evidências científicas que indicam que ter alguém para falar sobre a sua jornada trazem a constância e a motivação que você precisa. Conseguir organizar-se com esses cuidados já mantém você mais saudável.

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Dicas para manter o peso sem escolhas nocivas

  • Busque ajuda especializada
  • Evite bebidas açucaradas industrializadas e a adição de açúcar nas bebidas feitas em casa
  • Participe dos eventos sociais sem medo de escapar da rotina. Mas não faça disso uma constante
  • Aposte em refeições caseiras
  • Alimente-se devagar
  • Organize-se para ter em seu cardápio a maior variedade de alimentos naturais possível. Capriche nas fibras e em proteínas
  • Reduza o tempo de atividades sedentárias (ver TV)
  • Pratique atividade física regular
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