De acordo com Hitomi Nakagawa, presidente da SBRA, as duas principais causas para a mulher postergar a gravidez hoje são a busca por estabilidade profissional e ausência de parceiro fixo.
No entanto, a maioria ainda acha que é só passar por um tratamento de fertilização que isso se resolve, e não é bem assim. Hitomi Nakagawa, presidente da SBRA
Isso porque, mesmo com todo o avanço da medicina, ainda não há uma forma de rejuvenescer os óvulos femininos. "O congelamento, assim, é uma forma de preservar a fertilidade da mulher, pois consegue conservar os óvulos saudáveis mesmo com o avanço da idade", diz o especialista em reprodução humana Fernando Prado, diretor técnico da clínica Neo Vita e diretor do setor de embriologia do Labforlife.
Como já explicamos, a mulher nasce com uma quantidade delimitada de óvulos, que vão sendo descartados ao longo dos anos e nunca são repostos. "É um processo natural e inevitável", explica Thais Domingues, médica especialista em reprodução assistida da clínica Huntington Medicina Reprodutiva, em São Paulo. E não é apenas a quantidade que cai com o envelhecimento.
A partir dos 35 anos, também notamos uma piora acentuada na qualidade desses óvulos, o que pode aumentar as chances de síndromes cromossômicas no bebê e abortos espontâneos.
Assim, o congelamento vem sendo uma opção cada vez mais procurada por mulheres que querem ser mães em algum momento da vida, mas não agora, já que o processo aumenta as chances da gestação se tornar realidade mais para frente —e com menos riscos. Isso porque a técnica permite que as chances de engravidar sejam as mesmas da idade que a mulher tinha quando optou pelo método.
Um dos entraves, no entanto, é o preço, ainda bastante alto, já que a mulher passa por praticamente todo o processo de fertilização para recolher os óvulos, incluindo o uso de medicamentos que estimulam a liberação de mais de um óvulo durante o ciclo.
"O ideal é que sejam resgatados pelo menos oito, mas a média que conseguimos é entre 12 e 15", afirma Domingues. Os óvulos são então coletados com a ajuda de um ultrassom transvaginal. Depois, eles são selecionados por um embriologista e apenas os mais aptos são preservados.
No final de todo o processo, a conta pode ultrapassar os R$ 10 mil, além da taxa anual de manutenção do congelamento, que gira em torno de R$ 1.000 —o que acaba inviabilizando o processo para grande parte da população. De acordo com Hitomi Nakagawa, o SUS possui bancos de congelamento, porém, o sistema hoje se encontra bastante fragmentado pelo país. "A saúde pública não dá prioridade para a questão da fertilidade, infelizmente", avalia.