"De certa forma, sinto que desde março de 2020 eu apenas existo. O viver está aguardando esse momento passar". É assim que a personal trainer A.K.* define seu período de isolamento na pandemia. Bissexual não assumida, a profissional de educação física passou a invalidar sua existência como LGBTQIA+ ao voltar a morar com a mãe aos 41 anos. "Já estava adaptada à situação de me esconder para o 'mundo lá fora'. Agora, quando eu me vi tendo que me esconder dentro da minha própria casa... É como se o único lugar blindado, seguro e livre tivesse desaparecido", relatou.
O caso não é incomum. Segundo um estudo publicado em 2020 pelo coletivo #VoteLGBT, o cenário da pandemia potencializa uma série de situações já enfrentadas pela comunidade no dia a dia. Na pesquisa, 11% das pessoas entrevistadas relataram enfrentar problemas no convívio familiar. Além da convivência forçada pelo isolamento, muitos perderam contato com suas redes de apoio —termo usado para designar amigos que os aceitam e ambientes de convívio social onde podem se sentir inteiramente seguros, física e emocionalmente.
*Nome abreviado a pedido da entrevistada