Ao analisar a lógica de mercado, pode até fazer sentido que um medicamento usado por poucas pessoas custe rios de dinheiro, mas o emocional talvez não concorde com isso. Para explicar por que os remédios custam fortunas, a reportagem de VivaBem procurou algumas indústrias farmacêuticas.
A Novartis responde pelo Zolgensma e pelo Luxturna, ambos terapias gênicas. A empresa frisou que o Zolgensma tem "apenas" a dose mais cara do mundo, mas não é o medicamento mais caro.
"A gente está falando de uma dose que tem um efeito crônico. Os medicamentos hoje utilizados para essa doença e para outras doenças raras cobertas pelo SUS representam um tratamento de uma vida inteira. Essa terapia reverte a história natural da doença com uma única dose, apenas", ressalta Omar Akl, diretor-executivo da unidade de negócios de Terapia Gênica da Novartis.
O executivo explica que o Zolgensma é um fármaco de alta complexidade que restitui um gene "defeituoso". A empresa não revelou o valor que pretende cobrar pelo medicamento no Brasil, mas afirmou que será abaixo do preço do exterior. "É uma prioridade que a terapia gênica seja oferecida o mais breve possível no sistema de saúde. Esse tratamento que traz uma nova esperança, uma fronteira nova da ciência e uma inovação tem que chegar ao público de forma acessível, sustentável e mais precoce possível. Esse é o nosso compromisso", afirma o executivo.
Responsável pelo Evrysdi, a Roche disse, em nota, que o preço nos EUA foi definido com base no peso do paciente e que irá respeitar o preço estabelecido pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) no país.
"Reforçamos que este é o valor nos EUA, e não significa que no Brasil será exatamente o mesmo. Entendemos que a disponibilização no âmbito do SUS, é importante para apoiar o país em seus esforços por ampliar o acesso a terapias inovadoras e garantir mais qualidade de vida a estes pacientes".
Em nota, a BioMarin, responsável pelo Brineura, disse que, além de ser uma terapia inovadora para uma doença rara e fatal, esse é o primeiro tratamento para CLN2 (doença de Batten). "A BioMarin foi pioneira neste tratamento inovador e abriu a possibilidade para outros pesquisadores explorarem terapias em outras formas da doença de Batten e outras doenças neurodegenerativas em geral".
Em relação ao custo, a empresa alega saber os desafios enfrentados pelas famílias para conseguir comprar, mas ressalta que tem um histórico positivo de ajudar os pacientes e que os valores são estipulados a partir de critérios rigorosos. "Além dos investimentos da BioMarin no desenvolvimento e suporte de Brineura para a ultrarrara comunidade CLN2, o preço do medicamento também reflete: (1) o valor do benefício clínico; (2) a natureza ultrarrara da doença; (3) a inovação alcançada - primeira terapia de reposição enzimática administrada diretamente no cérebro, e o primeiro tratamento para qualquer forma de doença de Batten; (4) a complexidade, risco e despesa na fabricação da terapia; e (5) os compromissos pós-marketing
para conduzir estudos adicionais".
A Recordati, dona do Carbaglu, destaca os efeitos do medicamento na prevenção de graves problemas neurológicos. Segundo a empresa, a longo prazo, o remédio previne as crises agudas de hiperamonemia, além de permitir uma maior flexibilidade na dieta dos pacientes. "Muitos pacientes tinham uma sentença de morte e com essas terapias elas passam a ter uma vida, qualidade de vida ou o que a gente chama de sobrevida a longo prazo", diz Paulo Pinton, gerente-geral da Recordati - RRD Brasil.
"Quanto vale, por exemplo, a vida de um paciente que não consegue sair de um hospital, que tem inúmeras deficiências? E um medicamento que consegue prover uma vida decente?", questiona Pinton. "Essa equação é muito difícil de se harmonizar. A indústria, pelo seu lado, tenta oferecer o tratamento à necessidade médica não atendida, mas ela também tem todos os anos de pesquisa, então, do ponto de vista econômico, o preço se justifica por aí", explica.
Assim como o Zolgensma, o Spinraza é um medicamento usado para o tratamento de AME. Questionada sobre o alto custo, a Biogen alega que o Spinraza é o primeiro modificador do curso natural da doença registrado no Brasil e no mundo.
"O perfil de eficácia e segurança do Spinraza é fundamentado pelo mais robusto grupo de evidências clínicas em AME. A eficácia do medicamento vem sendo demonstrada também em estudos de vida real que reportam ganhos funcionais clinicamente muito significativos, além de estabilização da doença, independentemente da idade".
A empresa não revelou o preço que o Spinraza está sendo vendido no mercado brasileiro. "A Biogen, ciente de sua responsabilidade com a sustentabilidade dos sistemas de saúde nos países em que atua, negocia preços e condições comerciais abaixo do preço estabelecido pela CMED para o fornecimento do medicamento ao SUS e a operadoras de saúde suplementar", finaliza.