No caso da pandemia, como há urgência, enquanto se faz o ensaio de proteção, paralelamente realiza-se o teste clínico fase um. Nessa fase, os cientistas checam a segurança em humanos. Os testes são feitos em grupos pequenos de voluntários adultos saudáveis (20 ou 30 pessoas) e avaliam se a vacina gera algum efeito colateral.
Todos os voluntários sabem qual o objetivo da pesquisa, o que estão fazendo, os riscos e os potenciais benefícios para a comunidade. "Isso é passado pelos comitês de ética de cada lugar que está fazendo, universidade, grupo, existe uma regulação central ainda, do próprio país, para ver se aquele projeto está dentro de condições éticas", diz Gilio. "Não é feito de qualquer jeito".
Na fase um também podem ser testadas doses diferentes, porque ainda não se sabe qual é a ideal. Geralmente, todo o processo leva de seis a sete meses, porque é preciso adequar a dose, checar se há toxicidade.
A fase dois é o teste de imunogenicidade, para ver se essa vacina realmente gera resposta imune no organismo, se produz anticorpo para aquele vírus. São testadas várias dosagens e esquemas (uma dose é suficiente ou precisa-se de duas?) em um grupo com 100 ou 150 pessoas. Essa fase, que procura o anticorpo neutralizante, pode levar até um ano para ser concluída.
A terceira e última fase do teste clínico é o "test-drive" da vacina. "É quando os resultados das duas primeiras fases permitem que os cientistas avancem para um grupo de voluntários de milhares de pessoas", diz Fonseca. Os participantes são divididos em dois grupos: metade toma a vacina e metade recebe um placebo ou uma outra vacina que não protege contra o patógeno estudado.
"Ninguém sabe quem tomou o que, nem os cientistas nem os voluntários. É o que chamamos de duplo-cego. E ele é randomizado, ou seja, sorteia, equilibra os grupos, porque tem um monte de detalhes que podem influenciar no resultado, como a idade dos participantes", diz Gilio.
Essas pessoas vão para as suas casas e seguem o dia a dia. Eles são expostos ao coronavírus no ambiente, assim como nós, e são acompanhados durante um tempo. "Pode demorar de três a cinco anos, para saber se as pessoas que receberam a vacina ficam menos doentes em um ambiente natural do que as que receberam só o placebo", diz Fonseca.
A vacina de Oxford, por exemplo, uniu protocolos para acelerar o processo e já está na fase três. O Brasil, que ainda tem uma curva epidemiológica ascendente, entrou na lista de países que testarão a vacina em primeira mão, em 5 mil voluntários.
Oxford quer montar um dossiê de registros para a vacina antes de os resultados ficarem prontos, para ser apresentado às autoridades regulatórias do Reino Unido até o final do ano. A expectativa é conseguir o primeiro registro a nível mundial e começar a vacinar os britânicos o quanto antes.
Os estudos, entretanto, continuarão por um ano. "O registro formal só pode ser feito com a finalização desses outros estudos, por isso que todos serão finalizados, para montarmos um dossiê formal e obter o registro formal. Mas para parar a pandemia, tem a aprovação regulatória de caráter emergencial antes", diz Sue Ann Costa Clemens, que liderou a articulação para a vinda dos testes ao Brasil.