Hoje, o governo da Etiópia já mudou e não há mais riscos para Tamiru voltar a seu país --o atleta, inclusive, recebeu uma carta que o convidava a retornar, mas nunca respondeu. "Eu me apaixonei pelo Brasil. A infraestrutura aqui é muito melhor e quero ficar. Hoje, meu sonho é representar o Brasil nos Jogos de Tóquio", afirma.
E o sonho de competir usando a camisa verde e amarela não é só dele. "Para mim seria muito importante contar com ele [na Paraolimpíada]. É um atleta com muito potencial e seria ótimo para o Brasil, com certeza brigaria por medalha", diz o treinador.
O processo para conseguir a cidadania, no entanto, não é tão fácil. Tamiru entrou com o pedido em 2018, mas o Comitê Paralímpico não se envolve e ele conta apenas com a ajuda dos voluntários da ADD.
"Ele está um pouco desmotivado com essa questão de não conseguir legalizar a situação dele no Brasil e a dificuldade de participar em competições. Mas, ainda assim, segue treinando com muito foco", comenta Breda.
Tamiru não sabe se voltaria para a Etiópia para competir a Paraolímpíada. Porém, para a mãe do africano, não há dúvidas de que ele deve voltar. "Evito ligar para ela muitas vezes, no máximo uma conversa por semana, porque ela só chora. Primeiro chora, depois pergunta sobre mim. Quer muito que eu retorne. Ela poderia vir me visitar, mas se chegar aqui, com certeza vai tentar me levar com ela", explica o atleta.
Tamiru conta que por muito tempo a mãe nem soube protesto. "Escondemos dela porque ela sofreria ainda mais, com medo por mim. Acabou sendo igualmente difícil, já que ela pensou que escolhi ficar aqui desde o início."
O principal motivo que fez com que ele realmente escolhesse ficar foram as pessoas. "É o que eu mais gosto no Brasil. Para mim, as pessoas daqui foram muito boas, me ajudaram demais", explica.
Segundo os --muitos -- amigos que ele fez no Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro, o mérito também é dele. "É um menino de coração muito bom, adora abraçar e está sempre dando o seu melhor nos treinos. Estamos torcendo para a naturalização dele sair logo, o verde e amarelo vai ficar bonito nele", afirma Vinícius Rodrigues, velocista paraolímpico e amigo pessoal de Tamiru.