A redução da força da gravidade torna os movimentos de Marina mais fáceis e fluidos debaixo da água. Com cilindros de espuma coloridos posicionados ao redor de seus braços, a criança flutua, chuta, dobra os joelhos, traz as pernas para perto do peito. Dá saltos no trampolim.
"Uma perninha atrás da outra", orienta a fisioterapeuta aquática, enquanto a criança se concentra em coordenar seus movimentos sob uma plataforma de suporte colorida. Os pés da menina deslizam pela água com a leveza que é difícil de encontrar em terra firme. Marina está andando.
"Por que eu consigo andar na água e não consigo andar fora da água?", ela perguntou esses dias à Renata.
A fisioterapeuta explicou que Marina fica mais leve na água e, com isso, precisa de menos força para andar. Mas isso não significa que caminhar na piscina seja, por si só, mais fácil. "Quando ela era menorzinha, não conseguia ficar de pé lá dentro sem dobrar o joelho; hoje, tem força para fazer isso sozinha", conta a especialista.
Marina sabe que tem AME. Seus pais contaram para ela em dezembro do ano passado, depois de perceberem que a criança parecia estar confusa ao perceber diferenças entre ela e outras crianças.
Este ano a menina irá começar a usar uma cadeira de rodas. O "carrinho", como ela chama o equipamento, será necessário porque Marina está ficando grande para a "motoquinha".
O nome do perfil da criança nas redes sociais criado na época (@cureamarina) reflete a expectativa que sua família tinha quando o "remédio mais caro do mundo" foi lançado.
"No final das contas, aquilo que eu tinha como expectativa de cura, que ela ia sair andando, correndo, não aconteceu exatamente assim" Talita, mãe da Marina
A jornada de Marina fez a família ver a cura de outra forma. "Foi uma cura no sentido espiritual pra gente. Pra poder entender que a gente conseguiu. Hoje ela consegue ter tudo que ela tem. Ela está incrivelmente maravilhosa".
Poucos dias antes de a reportagem ir até a casa de Marina, a criança aprendeu a escovar os dentes sozinha. Para seu pai, esse é um exemplo simbólico do que o casal deseja para filha agora e no futuro: autonomia.
"Quero que a Marina tenha liberdade e autonomia para fazer o que ela quer e para ser uma mulher superfeliz durante a vida", diz Renato.