Eu já havia passado uma semana na Etiópia em 2017. Mas a grande diferença da viagem de 2018 foi que consegui participar de uma competição: a The Great Ethiopia Run. Com percurso de 10 km, ela é a maior prova do calendário africano de corridas, juntando mais de 40.000 corredores, entre amadores e profissionais.
Como já disputei inúmeras corridas e trabalhei na organização de grandes competições dentro e fora do Brasil, não esperava me surpreender. Mais um equívoco! A Etiópia tem um dos trânsitos mais desorganizados que já vi, porém, a The Great Ethiopia Run, maior do que nossa São Silvestre, acontece em uma organização incrível!
O que se vê é um mar de gente esperando educadamente a largada. Além de algo que só deve ocorrer mesmo em países africanos, uma festa sem igual. Sim, as provas brasileiras são muito animadas. Mas foi diferente ver os africanos em grupos se aquecendo dançando e cantando. Uma curiosidade é que as turmas vão crescendo conforme as pessoas vão chegando e se juntando, em um sinal claro de que elas não estavam juntas, mas farão daquilo em grupo.
Durante a prova, o apoio da população era enorme, pessoas por todos os lados incentivando os atletas locais e os facilmente reconhecíveis estrangeiros. No final do percurso, duas coisas me chamaram demais a atenção.
A primeira delas foi que os etíopes não pararam de correr após a chegada. E eu continuei correndo com eles e devo ter feito pelo menos uns 300 m a mais. Eu vi onde terminava a prova, mas como ninguém parou de correr, simplesmente segui junto sem entender direito o que estava acontecendo.
A segunda foi que, na dispersão, enquanto eu ainda cansado por causa da distância e da altitude incomum me deparei com novas rodas de grupos, de pessoas que vinham chegando e se juntando fazendo os mesmos exercícios do aquecimento. Eu não tinha fôlego, mas de alguma forma eles ainda estavam cheios de energia para aquelas danças!
Era o que faltava para voltar ao Brasil com a certeza de que correr com alegria é uma das coisas que fazem os etíopes serem tão bons maratonistas. E esse segredo fica estampado em seus rostos, eles não conseguem esconder de ninguém.