Aos 26, Priscila Sampaio estava desanimada porque a missão de encontrar um namorado parecia impossível. A sensação era de que todos os homens da faixa etária dela já estavam namorando, noivos ou casados. No trabalho, não havia nenhum solteiro. Nas baladas (antes da pandemia), quando muito, suas tentativas deram "quase certo". Por um lado a jornalista se sentia feliz, pois tinha muitos amigos e uma família unida e afetuosa; por outro, a falta de alguém para beijar e abraçar chegava a doer. Ela até apostou nos aplicativos de paquera, mas desistiu quando perdeu o pai.
Foram necessários dois anos de terapia para que Priscila se recuperasse de diferentes sofrimentos e se desse uma nova chance. "Voltei para o aplicativo muito mais esperta por reconhecer as ciladas e indícios de furada —e mais seletiva. Então chegou o meu namorado", conta. O compromisso foi selado depois muita conversa pelo WhatsApp, quando ambos descobriram várias afinidades. Mas antes de conhecer o parceiro atual, a jornalista tentou se envolver com outros rapazes e nem todas as experiências foram boas. Uns sumiam do nada, outros só queriam sexo. Mas também conheceu alguns amigos.
Tudo isso fez com que Priscila, que hoje tem 35 anos, chegasse a uma conclusão. "O aplicativo é só mais um recurso para conhecer alguém, buscar o amor". Ela frisa que as desilusões que acontecem dentro desses dispositivos são as mesmas que acontecem fora deles. E que não é preciso ter medo, desde que a pessoa faça uma boa análise antes de levar o amor para o mundo real. "Nesse oceano de gente, sempre terá uma pessoa que vai valer a pena", acredita.
Ailton Amélio da Silva, psicólogo clínico especializado em relacionamentos, lida com experiências como a da jornalista. Ele acompanha de perto as mudanças que vêm ocorrendo com o tempo quando o assunto é namoro. "A forma de se relacionar amorosamente é determinada pela cultura, pela época e por características de personalidade", afirma. Ele acrescenta que todas as sociedades têm seus "paqueródromos", ou seja, locais onde os flertes acontecem, como praças, bares, baladas, festas e até as missas.
Cerca de 20 anos atrás, Silva fez um estudo sobre como os namoros começavam. O resultado mostrou que 37% das pessoas se relacionavam com colegas de escola ou de trabalho, 32% eram apresentadas por um conhecido em comum, 20% engatavam romances com desconhecidos, 5% iniciavam romances a partir de encontros casuais e 2% encontravam parceiros amorosos em agências de casamento, anúncios de jornais e internet. De lá para cá, a web passou a ser um dos lugares mais "frequentados" por quem quer encontrar um amor. Hoje, aproximadamente 20% dos relacionamentos começam em "aplicativos de paquera".
Para o psicólogo, a diferença é que no virtual é tudo mais fácil e rápido, mas, muitas vezes, superficial. Ele fala que a internet não é o melhor caminho para todos. Nela, leva vantagem quem costuma impressionar à primeira vista. Quem não tem um visual que os padrões consideram atraente pode ficar frustrado, pois muitas vezes suas qualidades não chegam a ser descobertas. Isso porque o cardápio de pessoas é tão grande que o interesse precisa ser imediato. Caso contrário, os usuários costumam pular para as demais opções. Outro ponto negativo é que se trata de um lugar "habitado" por casados, golpistas e aventureiros.
Em contrapartida, os aplicativos de namoro oferecem infinitas possibilidades. Eles permitem que dentro do quarto ou da sala, a pessoa conheça parceiros amorosos no mundo inteiro, o que aumenta muito as chances de encontrar a "pessoa certa". Silva enfatiza que esses dispositivos são importantes, sobretudo, para pessoas que passaram dos 35, 40 anos, que não encontram facilmente parceiros dessa idade descompromissados. Mas reforça: "Pelo perigo, é melhor ter uma amizade primeiro".