Kunha Poty Rendy'i, 25 anos, cresceu ouvindo histórias de jovens que tiraram a própria vida na Reserva Indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul. Alguns deles ela não conhecia direito, outros eram membros de sua família —perdeu um primo de 16 anos e outro de 18, um ano mais velho que um amigo dela que também foi encontrado morto na aldeia.
A frequência dos casos transformou a tragédia em rotina.
É uma situação triste e de sofrimento que meu povo vive aqui. Mas de tanto acontecer, é como se fosse normal para a gente. Desde criança sabemos que isso ocorre"
Kunha Poty Rendy'i, ativista guarani-kaiowáQuando estava com 17 anos, o vy'ae'y, palavra guarani que em português significa "ausência da vontade de viver", também chegou até Kunha.
Ela se afastou da família e dos amigos. Estava triste, mas não conseguia chorar. Era como se "um espírito do mal" tivesse se apoderado de seu corpo, conta a jovem. Continuava enxergando, mas sua visão parecia borrada, tingida de arapoju ("céu amarelado", em tradução literal). Não via futuro pela frente.
Em 2015, ficou perto de ter o mesmo fim de tantos jovens que conhecia, mas foi socorrida a tempo por uma vizinha. "Ela disse que eu ainda tinha muito tempo de vida pela frente. E tinha razão", diz Kunha, que hoje tem 25 anos e é ativista de movimentos juvenis em sua aldeia.