Por causa do vício, a família do sociólogo e poeta cordelista Zerivan de Oliveira estava desestruturada. Na época, sua filha estava com 5 anos e o casamento ia mal, a separação parecia inevitável. "Ninguém aguentava mais", lembra ele.
Com o excesso de álcool e cocaína veio também a depressão. Nesse momento conturbado, aos 28 anos, ele encontrou uma igreja do Santo Daime, culto religioso que usa ritualisticamente a bebida psicodélica ayahuasca.
A primeira experiência foi tensa, recorda Zerivan. As lembranças são de sensações horríveis, vômito e mal-estar. Mas também de uma voz misteriosa que, segundo ele, apontou um novo caminho para sua vida.
Depois, levou esposa, filha e, após cinco anos, assumiu a direção dos trabalhos do grupo, localizado na zona rural de Cascavel, no Ceará. "Eu me identifiquei, me tocou profundamente", diz.
Para Zerivan, graças ao ritual do Santo Daime, há 20 anos vício e depressão são coisas do passado. Porém, ele percebeu que para outros com dramas semelhantes o chá das visões não surtia o mesmo efeito —pesquisas mais recentes mostram que a substância tem efeito antidepressivo, mas faltam estudos clínicos mais abrangentes e com um número maior de pacientes para comprovar isso.
O sociólogo também percebeu que, para muitos, os espaços religiosos que usavam a ayahuasca pareciam impor uma barreira à terapia. Após participar de um evento sobre ciência psicodélica na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), animado e inspirado nos avanços desse campo de estudo, ele criou o Centro Aya. O local, em funcionamento há três anos, além do uso ritual da ayahuasca, oferece acolhimento terapêutico.