"No ano passado, a minha filha mais nova criou coragem, levantou na sala de aula e disse: 'eu tenho fibrose cística, tomo os meus remédios e estou aqui, bem'. Mas desde que nasceu, ela nunca se sentiu diferente. Ela era igual a irmã dela, e sempre vi isso como uma coisa muito confortante. Ela já cresceu com uma outra visão da situação, porque vi a minha filha mais velha várias vezes se sentindo diferente", recorda.
No entanto, a filha mais velha já está deixando essa fase para trás. Segundo a mãe, ela começou a amadurecer desde setembro do ano passado. Desde então, as coisas ficaram mais fáceis.
No ano passado, ao terminar os estudos, chegou a hora de prestar vestibular. Para muitos estudantes, essa é uma das fases mais importantes em que ele terá que escolher uma profissão e tentar ingressar em uma boa universidade. Mas com a jovem foi diferente. A dúvida se ela conseguiria estudar como os colegas, frequentar uma universidade, depois começar a trabalhar e ainda ter que priorizar sua rotina diária, a fizeram pensar em desistir.
Ela recebeu todo o apoio dos pais e, por fim, após muita insistência, decidiu prestar o vestibular.
Minha filha mais velha sempre disse que não queria ser diferente, então sempre buscou fazer o melhor que podia. No fim, ela passou na USP e faz gestão ambiental.
Como qualquer outra adolescente, chegou a hora de alçar seus próprios voos e testar os limites, e isso sempre deixa os pais mais apreensivos.
"Você começa a viver duas coisas contraditórias: a alegria de ver que o seu filho tem mais autonomia, mas, por outro lado, a adolescência traz essa aflição de agora ele precisar se cuidar sozinho, de incorporar essa prática, independente do que o outro acha e do que o outro perguntou", interpreta Mirian, mas afirma também que está orgulhosa, apesar de todas as dificuldades, de ver suas filhas crescendo como estão.
"A gente precisa acreditar que vai dar certo, porque toda essa rotina toma tempo, então precisa fazer tudo com muito amor e carinho, porque senão você começa olhar para a sua vida como uma chatice, e para mim não é uma chatice. Acho que por mais que a fibrose cística traga alguns desafios, o que interessa nessa vida é ser feliz. E a gente tem muito motivo para isso", afirma.