Coronavírus: Fiocruz descobre reinfecção com variante de origem amazônica
A Fundação Oswaldo Cruz Amazônia encontrou o primeiro caso confirmado de reinfecção de coronavírus com a nova variante que teve origem no Amazonas e vai realizar um estudo para descobrir se ela é capaz de "escapar" de anticorpos prévios de outras infecções, afirmou nesta quinta-feira um dos pesquisadores responsáveis pela descoberta.
A reinfecção pela nova variante, que pode estar contribuindo para uma explosão de casos no Estado, foi confirmada pela Fiocruz na noite de quarta-feira a partir do sequenciamento genômico de amostra colhida de uma mulher de 29 anos, com sintomas leves da Covid-19. A paciente teve caso da doença confirmado em 30 de dezembro, após já ter tido uma primeira infecção em março.
Pesquisadores da Fiocruz Amazônia afirmaram na terça-feira que a nova variante surgiu no Amazonas provavelmente entre dezembro e janeiro, e disseram que pode estar contribuindo para a aceleração de casos no Estado, juntamente com fatores como as aglomerações no período de final de ano e a sazonalidade da transmissão de vírus respiratórios na região.
"A gente precisa suspeitar que essa variante seja também mais transmissível porque ela já carreia mutações que foram encontradas em outras variantes e que já foram associadas com maior transmissibilidade", disse Felipe Naveca, virologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia em Manaus, em resposta a pergunta da Reuters.
"Para que isso seja confirmado, é preciso também estabelecer a frequência dessa variante na população, e também seria interessante fazer estudos de neutralização frente a outros anticorpos para saber se ela tem o poder de escapar de anticorpos prévios de outras infecções. Isso será feito em parceira com o laboratório de referência nacional na Fiocruz do Rio de Janeiro", acrescentou.
A nova variante foi detectada no domingo pelo Ministério da Saúde do Japão em quatro pessoas que chegaram ao país oriundas do Amazonas. Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, autoridades japonesas informaram que foram identificadas 12 mutações na nova cepa, sendo uma delas a mesma já identificada em variantes mais transmissíveis do vírus vistas no Reino Unido e na África do Sul.
De acordo com o Ministério da Saúde, até o momento, não há evidências científicas para determinar a mudança na infectividade ou patogenicidade dessa cepa variante, seu impacto no diagnóstico laboratorial ou eficácia das vacinas contra covid-19 em aplicação atualmente no mundo, sendo necessárias investigações mais detalhadas.
O Estado do Amazonas enfrenta atualmente o momento mais crítico da pandemia, com o colapso do sistema de saúde e números cada vez mais altos de casos confirmados e de óbitos devido à doença. Uma força-tarefa do Ministério da Saúde foi enviada ao Estado para realizar a transferência de pacientes com Covid-19 para outras localidades em razão da caótica situação.
De acordo com o pesquisador, o surgimento da nova variante reforça a necessidade de cumprimento das medidas de prevenção, em especial o distanciamento social e o isolamento.
"As pessoas precisam manter as medidas de isolamento, porque essa nova variante pode ter sido justamente consequência da evolução do vírus em um ambiente que tinha muitas pessoas infectadas", afirmou Naveca, que defendeu medidas para restringir a circulação de pessoas para fora do Estado, mas lembrando que não serão "100% efetivas", uma vez que a variante já se espalhou para outros lugares.
Nesta quinta-feira, o governo do Reino Unido anunciou que vai proibir a chegada de passageiros do Brasil, de outros países sul-americanos e de Portugal devido a preocupações com a nova variante do coronavírus. Em dezembro, o Brasil suspendeu os voos do Reino Unido devido ao surgimento da variante britânica do coronavírus.
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