Topo

Rio de Janeiro

Estácio de Sá critica destruição do meio ambiente em retorno à elite do Rio

Do UOL, em São Paulo

23/02/2020 21h31

A Estácio de Sá retornou neste domingo à elite do Carnaval do Rio de Janeiro com um enredo enxuto e, ao mesmo tempo, aberto: pedra. Da Pré-história ao garimpo, a agremiação abriu os desfiles na Marquês de Sapucaí contando a evolução do uso do material pela humanidade e criticou a destruição do meio ambiente para extrair minérios.

O ponto de partida do enredo da Estácio de Sá, idealizado pela carnavalesca veterana Rosa Magalhães, é o famoso poema "No Meio do Caminho", escrito por Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e publicado no livro "Alguma Poesia" (1930): "No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho".

Rosa Magalhães é recordista em títulos na Sapucaí, com sete conquistas, e completa em 2020, à frente da Estácio, cinco décadas como carnavalesca.

A comissão de frente da Estácio representou os homens das cavernas, inspirado no filme "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick. O abre-alas reproduziu uma pedra que se abre e se transforma em Lua, com uma astronauta fincando a bandeira da escola de samba.

Carro da Estácio de Sá - Júlio César Guimarães/UOL - Júlio César Guimarães/UOL
Carro da Estácio de Sá
Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Uma caverna com pinturas rupestres e ossadas de animais compôs o primeiro carro alegórico, que de tão caprichado pareceu ter sido construído com pedras, mas foi fabricado apenas com papel. Os componentes de chão representaram pedras preciosas, como ouro e diamante.

A Estácio de Sá também criticou a destruição do meio ambiente no quinto carro alegórico, "Em Busca do Ouro". A escola de samba reproduziu a saga dos garimpeiros escalando Serra Pelada, no Pará, eternizada em fotos de Sebastião Salgado. Uma das garimpeiras foi Rosa Magalhães, que tradicionalmente desfila entre os componentes.

Duas alegorias, uma fantasiada de floresta e outra de queimada, criticaram o desmatamento. A Lua foi novamente lembrada no último carro alegórico, trazendo São Jorge e dois astronautas suspensos simulando a gravidade seis vezes menor em relação à Terra.

Fundada em 1955 (completará 65 anos na próxima quinta-feira), a Estácio de Sá ganhou um título do Grupo Especial, em 1992, mas conviveu com vários rebaixamentos. Nos últimos 13 anos, disputou na elite em apenas três desfiles: 2007, 2016 e o desta noite.

'Pedra'

Compositores: Edson Marinho, Jorge Xavier, Júlio Alves, Jailton Russo, Ivan Ribeiro e Dudu Miller.

O poder que emana do alto da pedreira
Tem alma justiceira e garra de leão
Senhor não deixa um filho seu sozinho
Tirando pedras do meu caminho

Vai São Carlos
À força dos ancestrais
Pedra fundamental do samba
Batalhas e rituais
Paredes que contam histórias
Na sede pela vitória
Sagrada, talhada, encravada no chão
Conduz meu pavilhão

Ê roda pra lá, ê roda pra cá
Brilha na estrada seguindo o caminho do mar
Diamantes e amores, sedução e fantasia
A riqueza dos senhores
Dos escravos, alforria

No verso duro a inspiração
Da serra do meu pai e meu avô

O trem que leva a produção
Das minas a tinta do grande escritor

Vem peneirar, peneirar
O garimpo traz o ouro a cobiça dos mortais
Peneirar, peneirar
Devastando a natureza no Pará dos Carajás

Da Lua de Jorge, eu vejo o planeta azul chorar
Atire a pedra quem não tem espelho
Quero meu rubi vermelho
Pra minha Estácio de Sá

Rio de Janeiro