Resultado do Carnaval de SP gera debate: 'Antigamente era mais divertido'
Em um campeonato, sempre haverá alguém feliz e muitos outros dizendo que houve injustiça. Não importa se é futebol, festival de música ou desfile de Carnaval.
Nos bastidores do samba, o que se comentou muito após a apuração deste ano é se o Carnaval de São Paulo precisa mudar. Está cada vez mais bonito, mas será que está chato, muito técnico e engessado?
Em entrevista ao UOL, Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre (terceira colocada neste ano), afirma que o Carnaval está cada vez mais competitivo. "É tudo decidido no detalhe dos detalhes. O júri precisa achar erros, porque as escolas apresentam desfiles cada vez melhores."
Dona Guga, presidente de honra da Morro de Casa Verde, campeã do Acesso 2, afirma: "Antigamente, era mais divertido". "Agora fica todo o mundo só pensando em não errar", diz a baluarte.
Mesmo com todas as regras —decididas e aprovadas pelos presidentes das 14 escolas do Grupo Especial— há quem acredite que é possível ser técnico e criativo ao mesmo tempo. "Temos gênios no nosso Carnaval. É como quando você vê um quadro de Michelangelo ou Picasso. Eles emocionam e têm muita técnica", diz o maestro Rogério Brito, orientador técnico dos quesitos bateria, samba-enredo e harmonia.
Bateria com novas regras
Neste ano, houve uma mudança no regulamento: a maior nota para a bateria que não cometesse nenhum erro seria 9,8. A partir daí, para chegar à nota 10, dependeria da ousadia e da criatividade (como paradinhas e performances diferentes das tradicionais). "As nossas baterias de São Paulo são todas nota 10", elogia o maestro.
O Carnaval de São Paulo não é comparativo. "Ele é técnico. Todo o mundo começa com nota 10 e vai despontuando com os erros", explica Bruno Moraes, orientador técnico no módulo visual, que engloba fantasia, alegoria e enredo. Os jurados, nesses casos, avaliam a plástica, e o que é mostrado na avenida deve ser exatamente como apresentado nas pastas entregues aos jurados antes dos desfiles.
Eduardo Santos, presidente da Acadêmicos do Tatuapé, não vê problema no regulamento do Carnaval: "Tem gente que sente saudade da época dos desfiles na avenida Tiradentes, quando o componente ia de um lado para o outro, atravessando a avenida. Hoje não dá. As fantasias são grandes, o projeto é grande. Se o cara atravessa de um lado para outro, ele destrói a fantasia, e a gente perde ponto", diz Edu, que defende as regras como são. "Não há no regulamento algo que impeça a inovação, a ousadia de fazer diferente. Mas, é claro, que o risco de errar acaba sendo maior."
O carnavalesco campeão do Carnaval 2020, Sidnei França, concorda com o presidente da Tatuapé e faz uma ressalva: "O Carnaval é engessado, mas a liberdade de criar não".
Carnavalesco da Mocidade Alegre e da Unidos de Vila Isabel (RJ), Edson Pereira dá sua opinião: "[O Carnaval de São Paulo] Não é melhor nem pior do que o do Rio. Só é diferente e também muito grandioso", diz ele, que continua com o cargo no Carnaval de 2021.
Em relação às regras, Pereira conta que o Rio passou pela mesma experiência de repensar conceitos que São Paulo está enfrentando agora. "Com tanta preocupação, os componentes perdem o lado brincante. No Rio perceberam que assim não funcionava. Talvez esteja na hora de São Paulo rever isso."
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