Salgueiro retrata resistência e traz Viviane Araújo grávida para a avenida
O Salgueiro entrou potente na Marquês de Sapucaí com um enredo sobre resistência. Terceira escola a desfilar no primeiro dia do grupo especial do Rio de Janeiro, a escola ainda chamou a atenção com a rainha de bateria Viviane Araújo, que pela primeira vez desfila grávida no Carnaval. A atriz foi muito assediada já na área de concentração do desfile.
Viviane surgiu vestida como a Cabocla Jurema, entidade de religiões de matriz africana, à frente da Furiosa. Grávida, a atriz privilegiou o desfile do Rio ao de São Paulo, já que neste ano Salgueiro e Mancha Verde desfilaram quase ao mesmo tempo.
"Foi emocionante por vários motivos. Pelo retorno do nosso Carnaval, por esse momento incrível, maravilhoso e lindo que estou vivendo na minha vida, carregando meu filho. Um sonho ele estar nessa avenida vivendo isso", declarou a rainha à Globo logo após o desfile.
A rainha de bateria Viviane Araújo causou verdadeira comoção nas arquibancadas, que gritaram seu nome. Na concentração, ela foi cercada por seguranças para evitar o assédio. Até o momento é a rainha que mais atraiu atenção nas arquibancadas.
Como foi o desfile do Salgueiro
O carnavalesco Alex de Sousa buscou falar do povo preto, da sua cultura, e também falar do Rio de Janeiro, temas recorrentes da agremiação. O desfile trouxe representações de territórios de resistência do povo preto do Rio de Janeiro, como a praça XI, Gamboa e Santo Cristo, a Pequena África, e o próprio Morro do Salgueiro, outro espaço de resistência.
Na comissão de frente, destaque para a Ingrid Silva, que surgiu de surpresa de dentro da alegoria dançando em um pedestal. A bailarina brasileira radicada em Nova York representava Mercedes Batista, primeira bailarina negra do Municipal do Rio de Janeiro. O pedestal que levantou Ingrid tinha formato de punho fechado, símbolo de resistência.
"Consegui guardar essa surpresa, fugi um pouquinho do meu trabalho para viver essa experiência e foi incrível", declarou Ingrid Silva sobre a vinda ao Brasil apenas para participar do desfile do Salgueiro.
Na comissão de frente também vieram integrantes representando a negritude vitoriosa do Brasil, como Machado de Assis, Xica da Silva, Ruth de Souza e Zumbi dos Palmares. No abre-alas a escola mostrou força para conquistar o título desse carnaval com uma comissão de frente impecável, trazendo orixás num tripé.
O Salgueiro tem também como trunfo o casal mestre-sala e porta-bandeira que veio já no início da escola representando a ancestralidade cultural e força negra.
Destaque ainda para um dos carros que veio representando o viaduto Madureira, com integrantes dançando em um baile charme na parte de baixo do carro. Também celebrando o funk e outros ritmos do subúrbio, o carro veio com famosos como DJ Marlboro, Sandra de Sá e a atriz Cacau Protássio. Projetos como o Afroreggae e Voz do Morro, que também são resistência no Rio de Janeiro, vieram representados em alegorias.
Ponto alto do desfile, a última alegoria trouxe uma escultura de um obelisco escrito a palavra racismo entre várias integrantes e componentes negros simulam a derrubada de estátuas ditas preconceituosas. Vários integrantes coreografavam um protesto levando faixas com dizeres anti-racistas e fotos de ícones como Elza Soares, Marielle Franco e Candeia.
O Salgueiro encerrou o desfile com uma hora e dez minutos cravados, ou seja, tempo máximo permitido para o desfile, que são 70 minutos. Houve um pouco de correria, mas a escola cumpriu o tempo determinado.
Há uma máxima do Carnaval carioca que diz que sempre que o Salgueiro vem com enredo afro é forte candidato ao título. O refrão contagiou e fez com que todos pudessem cantar contra o preconceito. Até o momento, foi a escola que mais encantou a Sapucaí.
*colaborou Valmir Moratelli, do Rio
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