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Primeira Classe

Por que Onix Plus sobra tanto e ensina rivais que sedãs ainda vendem bem

Colunista do UOL

09/03/2020 04h00

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Imagine entrar no carro para fazer um grande deslocamento, como uma viagem de horas, e perceber que esqueceu o cabo do carregador do smartphone. No novo Chevrolet Onix Plus, isso não é problema. Dependendo da versão, ele traz um carregador de aparelhos de telefone por indução, sem fio - além de Wi-Fi a bordo.

Opcionalmente, a versão de topo do Onix Plus, Premier Turbo (R$ 75.090), tem o Park Assist (pacote que eleva o preço a R$ 78.090), um auxílio automático para balizas e outras manobras de estacionamento.

Esses dois itens colocados no novo sedã, sucessor do Prisma, ajudam a explicar o sucesso instantâneo do carro. Lançado no último trimestre, ele já é pelo terceiro mês seguido o segundo carro mais vendido do Brasil - atrás justamente do 'irmão' hatch.

O resultado vai na contramão da lógica de que apenas um hatch ou SUV aparece atualmente entre os preferidos do público. E coloca pressão em Ford Ka Sedan, Volkswagen Virtus e Hyundai HB20S, seus principais concorrentes.

Desses, é o HB20S quem "sente" mais o golpe. Ele passou por uma grande renovação do ano passado mas, no mercado, o máximo que vem fazendo é manter suas vendas anteriores. Sua receita de mudança não foi tão certeira quanto a do Onix Plus.

Fórmula do sucesso do Onix

Lançado em 2012, o hatch Onix levou mais tempo para chegar ao topo que o sedã Onix Plus. Mas chegou logo. E já é, há quatro anos, líder disparado de vendas.

Há fatores mercadológicos, que incluem rede de concessionários e pós-venda, para ajudar a explicar o sucesso. Aqui, no entanto, a análise é meramente do produto.

O Onix, na primeira geração, nunca foi o melhor em dirigibilidade, não tinha um motor moderno e jamais foi o mais bonito. Porém, nunca foi ruim em nenhum desses aspectos.

Sendo um carro "na média" em quase tudo, como o Onix conseguiu atropelar a concorrência nos últimos anos? Como produto, a resposta é: o carro oferece aquilo que o consumidor quer, e que faz a diferença em seu dia a dia.

A grande sacada do Onix foi ser o primeiro do segmento a ter uma central multimídia, a tecnologia MyLink. Com o tempo, o sistema foi ficando cada vez melhor, mais intuitivo, e também passou a ser oferecido em toda a linha.

Os concorrentes tiveram de correr atrás. E, por muitos anos, a Hyundai cometeu o erro de só oferecer multimídia nas versões mais caras da linha HB20.

Coisas que o consumidor pode ver

Já ouvi o executivo de uma empresa dizendo que seu carro era o único da categoria a ter cinco estrelas (nota máxima) no teste do colisão do EuroNCAP. Um representante de outra montadora certa vez encheu o peito para dizer que seu automóvel, de um outro segmento, era o único com suspensão independente das quatro rodas.

Eu considero a nota máxima em teste de segurança e a suspensão independente mais importantes que itens como central multimídia e Wi-Fi a bordo. Porém, em uma análise mercadológica, fica claro que boa parte do consumidor brasileiro não pensa da mesma forma.

E dá para entender. Muitas pessoas chegam a um local e já perguntam: qual é a senha do Wi-Fi? Principalmente se o sinal estiver ruim. Imagine então um carro que já vem com essa tecnologia? São três meses gratuitos. Depois, quem quiser manter o sistema funcionando tem de pagar mensalidade.

E o Wi-Fi, que no Brasil é sistema raro até em carros de luxo, funciona muito bem no Onix Plus. Em uma viagem de 400 km, na qual fiquei diversos trechos sem a internet nativa de minha operadora de telefonia, o sistema do carro da Chevrolet me "salvou".

Já o sistema multimídia MyLink é fácil de usar e rápido, além de ter diversas funções. Quanto ao carregador de celular sem fio, no caso do meu aparelho, foi de 60% a 100% em cerca de uma hora. Não é tão rápido quanto recarregar na tomada de casa, mas também não é lento.

Todos os sistemas são coisas que o cliente de fato usa. Essas tecnologias facilitam o dia a dia de quem está a bordo, principalmente em um mundo cada vez mais conectado, carente de vagas para estacionar e com picos de congestionamento cada vez mais altos nas grandes e médias cidades.

E, vale lembrar, nenhum dos rivais tem um pacote desses. O Virtus de topo até tem algo que eu, particularmente, adoro: o painel virtual configurável. Mas, na hora do aperto, o consumidor vai optar por Wi-Fi e carregador por indução ou por configurar o quadro de instrumentos?

Onix Plus agora navega no sucesso

A nova geração do Onix aprimorou o que já tinha em destaque no primeiro modelo. Investiu mais alto em conectividade e tecnologias que fazem a diferença no cotidiano. E conseguiu transferir toda essa bagagem para o Onix Plus, levando ao sucesso imediato do carro.

Mas por que o Prisma, antecessor do Onix Plus, não fazia todo esse sucesso? O Prisma também ia bem. Era o sedã compacto mais vendido do Brasil. Porém, ficava entre a quinta e sexta posições no ranking de vendas. Não na segunda.

Por isso, acredito que o fato de a Chevrolet passar a usar o nome Onix também no sedã, nesta segunda geração, foi fundamental para o crescimento da participação de mercado do modelo. Com nomes semelhantes, o cliente que gosta do Onix, e quer partir para um sedã compacto, faz mais facilmente a associação.

Muitas tecnologias citadas acima, no entanto, só estão disponíveis nas versões mais caras do Onix Plus. Nesse segmento, a tendência é que as versões mais baratas vendam mais.

Porém, como em todo produto, seja no mercado de carros ou não, versões mais completas servem como chamariz para as mais baratas. Elas valorizam a imagem do automóvel e acabam impulsionando também as vendas das configurações mais simples.

Preço ajuda o sedã da Chevrolet

No caso do Onix Plus, o custo também ajuda. O carro não é barato, mas tem relação custo-equipamentos vantajosa ante a dos concorrentes, especialmente nas versões mais caras, que são as que têm o pacote tecnológico completo.

O Onix Plus Premier parte de R$ 75.090 e com pacote de opcionais vai a R$ 78.090. Dentre as opções topo de linha, só é mais caro que o já defasado Ka Sedan, que sai por R$ 74.640 para a opção Titanium automática.

O Hyundai HB20S Diamond Plus já começa em cerca de R$ 81 mil. O Virtus Highline também parte de mais de R$ 80 mil.

O Volkswagen, porém, bate na casa dos R$ 90 mil com todos os opcionais. A favor dele está o fato de ter porta-malas bem melhor, e espaço interno um pouco mais amplo.

Além disso, o Virtus obteve o posto de segundo sedã compacto mais vendido do Brasil em 2019. Isso é um feito pois, diferentemente de Ka Sedan, HB20S e Onix Plus, o VW não tem uma versão de entrada com motor 1.0 aspirado. Já começa com o 1.6.

Em fevereiro, o Virtus foi o terceiro sedã compacto mais vendido do Brasil, atrás de Onix Plus e Ka Sedan. No ranking geral, ocupa a 22ª colocação, com o HB20S no 24º lugar. O Ka Sedan é 18º.

Apesar de o Onix Plus vender o triplo dos concorrentes, os números estão um pouco exagerados. É que somam a versão com carroceria antiga, que agora se chama Joy Plus - mas, no ranking da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automores (Fenabrave), aparecem junto com as do novo sedã.

O que o Onix Plus tem de pior

O Onix Plus tem algumas coisas que não são muito legais. Apesar de ter bancos mais confortáveis e ergonômicos que no Prisma, a posição de guiar não é fácil de encontrar.

Além disso, a alavanca de ajuste da altura e profundidade da coluna de direção é tão dura que pode até machucar os dedos. O multimídia, apesar de intuitivo, tem interface poluída.

Nas versões automáticas, a alavanca do câmbio confunde o motorista, pois "para" entre entre o N (neutro) e o D (drive), obrigando o condutor a ter de procurar no painel de instrumentos a posição real.

O porta-malas, apesar dos 470 litros, tem muitos vincos e uma barra exageradamente pronunciada para baixo no fundo. Isso dificulta a acomodação das bagagens. E a dirigibilidade, mesmo superior à do Prisma, ainda deixa a desejar, com muitas folgas na direção.

Essas falhas, porém, não parecem estar incomodando, por enquanto, o consumidor. Pelo visto, o que o Onix Plus tem de melhor compensa os seus problemas.