Mesmo com fiança, Ghosn fica sem internet e tem ligações interceptadas
Resumo da notícia
- Carlos Ghosn deixa a prisão após pagar fiança de US$ 9 milhões
- Executivo está impedido de deixar o Japão após ter passaportes confiscados
- Promotoria ainda tem a possibilidade de voltar a pedir a detenção
- Carlos Ghosn considera que foi vítima de um "complô" da Nissan
Carlos Ghosn, libertado da prisão hoje, no Japão, é um homem "muito marcado" por esta experiência, mas com "firme vontade de lutar" para provar sua inocência, afirmou o advogado da família Ghosn, François Zimeray, à RTL.
O ex-CEO da Renault, que deixou a prisão após 107 dias, "não é mais o mesmo homem", mas "tem firme vontade de lutar para que sua inocência seja reconhecida e sua dignidade reconquistada", acrescentou o representante.
O executivo deixou a prisão cercado por guardas e entrou em um carro diante de dezenas de jornalistas que aguardavam no local. Sua esposa Carole, uma de suas filhas, o embaixador da França e outras pessoas chegaram algumas horas antes à prisão, mas não saíram no mesmo momento que Ghosn.
Algumas horas antes, por meio de seu advogado, Carlos Ghosn pagou uma fiança de um bilhão de ienes (9 milhões de dólares). Segundo ele, a casa de Ghosn "tem as comunicações interceptadas, não tem acesso à internet e seus passaportes foram confiscados" e ele não pode discutir alguns assuntos com sua família.
"Enfim, ele vai poder ter acesso ao inquérito e ter uma verdadeira defesa" em um país que tem "100 anos de atraso na Justiça" e "em transgressão total com os grandes textos dos direitos humanos", criticou Zimeray.
Questionado sobre a possibilidade de que Ghosn conceda uma entrevista coletiva, ele disse: "Não acho que isso plausível no curto prazo, porque é um homem que precisa de readaptar a uma vida normal".
"Chegará o momento em que será preciso se expressar, mas isso não é sua prioridade neste momento", afirmou.
DECISÃO SURPREENDENTE
O tribunal de Tóquio aceitou em definitivo, ontem, o pedido de liberdade do empresário, depois de rejeitar um recurso de apelação da Promotoria.
No Japão é incomum que uma pessoa acusada de abuso de confiança consiga a liberdade antes da definição da data de seu julgamento ou até mesmo antes do início do processo.
Analistas explicaram que o novo advogado de Ghosn ofereceu garantias que convenceram o juiz de que o empresário franco-libanês-brasileiro não estaria em condições de destruir provas ou sair do país.
Em um comunicado, Ghosn se declarou "infinitamente agradecido" aos amigos e parentes pelo apoio. "Sou inocente e estou realmente decidido a defender-me vigorosamente em um julgamento justo contra estas acusações sem fundamento", declarou.
Em tese, de acordo com juristas, a Promotoria ainda tem a possibilidade de voltar a pedir a detenção do homem que já foi diretor geral das montadoras Nissan e Renault com base em outras acusações, mas parece que há poucas probabilidades de que isto aconteça.
Descontente com a rejeição dos pedidos de liberdade sob fiança anteriores, Carlos Ghosn decidiu mudar em fevereiro sua equipe de defesa, antes de abordar a fase de preparação do julgamento, que deve acontecer dentro de alguns meses.
"Estou impaciente por poder fazer minha defesa, com vigor, e esta escolha representa a primeira etapa de um processo que não apenas busca restabelecer minha inocência, mas também jogar luz sobre as circunstâncias que levaram a minha detenção injusta", afirmou Ghosn na ocasião.
A libertação permitirá a Ghosn "defender-se livre e soberanamente", opinou o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire.
"É essencial proteger o princípio da presunção de inocência e dar a cada um a possibilidade de defesa nas melhores condições possíveis", completou o ministro francês, cujo país é acionista na Renault.
ACUSAÇÃO DE COMPLÔ
Ghosn, que já foi venerado no Japão por ter salvado a Nissan, foi detido em 19 de novembro em Tóquio e enviado para o centro de detenção de Kosuge, zona norte da capital.
O empresário é acusado de apresentar declarações de renda falsas às autoridades da Bolsa de Valores e de abuso de confiança em detrimento da montadora Nissan, onde teve início a investigação.
O executivo considera que foi vítima de um "complô" da Nissan para provocar o fracasso de seu projeto de aproximação com a Renault.
"A Nissan não desempenha nenhum papel nas decisões tomadas pelos tribunais ou os promotores e não está em posição de fazer comentários", afirmou o grupo em um comunicado.
"As investigações realizadas a nível interno pela Nissan mostraram comportamentos (de Ghosn) expressamente contrários à ética [...] e outros fatos que seguem aparecendo", completa a nota da montadora, que foi comandada a partir de 1999 por Ghosn, que salvou a Nissan da falência.
A libertação de Carlos Ghosn "não tem consequências para os negócios da Nissan", afirmou o atual diretor geral do grupo, Hiroto Saikawa.
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