Chery Celer, flex e mais barato, põe Cielo de castigo; leia impressões
A chinesa Chery apresentou na noite de terça-feira (26) e manhã desta quarta-feira (27) o compacto Celer, seu sexto carro a ser comercializado no Brasil. Com carrocerias hatchback e sedã e motor Acteco de 1,5 litro, 16 válvulas e tecnologia flex desenvolvida em parceria com a Delphi, o modelo já pode ser encontrado nas concessionárias da marca. Os preços são os seguintes:
- Chery Celer Hatch: R$ 35.990
- Chery Celer Sedan: R$ 36.990
Com pacote único, o Celer chega importado de Wuhu (cidade-sede da Chery, na China) com adequações em cerca de 150 itens como motor, câmbio e acabamento interno para, segundo a fabricante, tentar conquistar uma parcela maior do público brasileiro. Ainda segundo a marca, o nome do modelo vem vem do latim "celere" (ágil) e sua missão é justamente acelerar o ritmo da empresa no Brasil. Há explicação: até 2012, a Chery chegava ao Brasil por meio de uma representação; agora, os chineses assumem a operação e assim prosseguem, antecipando o cenário de abertura da fábrica.
A Chery fala em vender de 6.000 a 7.000 unidades do Celer ainda este ano (75% na configuração hatch, mais barata, com os 25% restantes para o sedã), o que representa metade de tudo o que emplacou em 2012. De fato, o novo modelo será o segundo carro mais importante do portfólio da importadora chinesa no país.
A primazia sempre foi e continuará sendo do subcompacto QQ -- que é montado em regime de CKD no Uruguai e se vale dos acordos econômicos com o Mercosul para chegar ao Brasil sem pagar o imposto de importação --, vendido de acordo com a fórmula preço baixo + conteúdo para tentar chegar aos 18.000 emplacamentos até dezembro. O mesmo vale para Face e Tiggo, que devem entregar até 5.000 unidades, cada. No total, a Chery quer chegar à marca de 30.000 unidades este ano.
BELEZA, SÓ, NÃO CONTA
Faltou alguém, certo? Na nova lista de queridinhos da Chery sobrou para o médio Cielo, vendido nas configurações hatch e sedã por valores próximos a R$ 40.000. Com vendas baixas e sem atrativos suficientes (ainda que seja o mais belo dos chineses no mercado), o Cielo vai para a geladeira -- um estoque de cerca de 100 unidades mensais deve dar conta dos poucos pedidos. A Chery acredita que os clientes darão preferência ao Celer, mais equipado e competitivo, ainda que menor. Quem também foi para o banco de reservas, pelos mesmos motivos, é o subcompacto S18, que nunca chegou a emplacar no país.
Voltando ao Celer, tanto hatch quanto sedã se valem da conhecida estratégia chinesa e são vendidos apenas com pacotes "completos" com ar-condicionado, vidros elétricos dianteiros e traseiros, retrovisores externos com ajuste elétrico, regulagem de altura para a coluna de direção, sistema de som, rodas de liga leve de 15 polegadas calçadas com pneus 185/60, banco do motorista com seis posições de ajustes (incluindo regulagem de altura do assento), airbags frontais e freios (a disco nas rodas dianteiras, tambor nas traseiras) com sistemas ABS (antitravamento) e EBD (distribuição de frenagem). O hatch tem quase 4,14 metros de comprimento, com 380 litros no porta-malas; o sedã encosta nos 4,27 m e 450 litros de capacidade para bagagens -- em ambos, o entre-eixos é de 2,52 m.
Com esta ficha, o arquirrival não poderia ser outro: o conterrâneo JAC J3, que também conta com carrocerias hatch e sedã e agora também com versão flex (chamada Sport, também com motor de 1,5 litro), é o carro a ser batido, assume a Chery. Depois, e bem longe, surgem Ford Fiesta, Renault Sandero e, claro, Hyundai HB20, o novo paradigma do segmento de compactos.
No total, a Chery promete 40 itens de conforto/segurança de série e provoca rivais, sobretudo de marcas nacionais. A campanha publicitária, que faz parte do plano de divulgação orçado pela marca em R$ 37 milhões (repartidos entre vendas, pós-vendas e marketing) e é chamada "Chega de carro pelado", explora justamente este mote e estreou na web com um vídeo de gosto duvidoso -- UOL Carros comentou a peça em seu Blog da Redação.
O motor flex de 1,5 litro promete potência máxima de 108 cavalos a 6.000 rpm e torque de 14 kgfm a 3.000 giros, com gasolina no tanque. Por motivos inexplicados, a Chery não sabe informar com precisão os números obtidos com etanol no tanque -- estima-se algo entre 111 e 112 cavalos.
Veja ficha técnica e lista de equipamentos dos modelos clicando aqui.
DE NOVO?
Dois pontos a respeito do Celer valem ser destacados. O carro já havia sido apresentado pela marca durante o Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro de 2012, e tinha até data de estreia marcada para novembro. Entre idas e vindas na decisão de lançá-lo, o modelo chegou às concessionárias antes do lançamento oficial, feito apenas agora.
Mas este não é o primeiro atraso do Celer. Em 2010, também durante o Salão de São Paulo, a Chery havia mostrado o modelo e prometido a estreia para meses depois, que nunca ocorreu por conta das dificuldades enfrentadas pelo setor de importados desde então. À época, ainda era conhecido pelo nome chinês, Fulwin 2.
O segundo ponto joga contra a meta de vendas da marca por mexer com um fator psico-comercial muito prezado pelo brasileiro. A Chery já anunciou que o Celer será seu primeiro modelo produzido em território brasileiro a partir de 2014, sendo seguido por um subcompacto (provavelmente uma geração futura do QQ). Ambos serão fabricados em Jacareí (SP), na unidade de US$ 400 milhões prevista para ser inaugurada até dezembro de 2013, e que terá capacidade inicial de 50.000 unidades, chegando ao máximo de 150.000 unidades por ano (para mercado nacional, América do Sul e México), quando todos os três turnos estiverem operantes.
Entre elevações progressivas do IPI, incertezas sobre o câmbio e sobre a qualidade de automóveis fabricados na China, pode ser que o brasileiro opte por esperar pelo Celer brasileiro. Ou corra para comprar um modelo da concorrência, ainda que pelado. A conferir.
IMPRESSÕES AO DIRIGIR
UOL Carros participou de um test-drive ligeiro a bordo do Celer, de pouco mais de 40 quilômetros entre a cidade de Atibaia (SP) e um terreno às margens da rodovia Presidente Dutra, em Jacareí, onde a fábrica da Chery está sendo construída. O trajeto foi preponderantemente rodoviário, mas seu trecho final era praticamente off-road, por conta das obras de fundação, permitindo uma oportunidade de teste não usual (ainda que interessante) do modelo.
De cara, é possível perceber que o Celer não foge às características dos demais modelos da Chery, sobretudo o Cielo, que curiosamente é "colocado de castigo" com a chegada do compacto. Ambos têm estilo italiano -- o Cielo é projeto encomendado ao estúdio Pininfarina, enquanto o Celer vem da casa Torino Design --, contrastando uma frente angulosa e com faróis amplos à traseira elevada e robusta, cheia de personalidade. Neste ponto, o Celer tem tudo para se destacar nas ruas locais e ganhar ao menos uma batalha: é mais bonito e atual que o rival J3.
Dentro da cabine, porém, a coisa não é tão... bonita. Poderíamos gastar linhas e linhas para criticar estilo e qualidade de acabamento e posicionamento de alguns itens, mas tudo isso é chover no molhado. O segmento de compactos como um todo é permeado por exemplos ruins e o Celer apenas se alinha ao que já existe. Não que isso seja perdoável, todo novo competidor deveria chegar com a premissa de revolucionar o mercado. Mas esta também é a vida real e cabe ao consumidor mudar tal panorama, por exemplo, deixando de comprar quando o conteúdo não o agradar.
Há deslizes mais sérios, por comprometer dirigibilidade e segurança: os pedais são muito fundos e, no caso da embreagem, molengas, obrigando o condutor a sentar-se perto demais do volante, numa postura de condução totalmente errada, sobretudo quando o modelo é equipado com airbags; os freios também se mostraram um tanto "borrachudos", exigindo que o motorista desça a bota, mesmo quando a intenção é apenas reduzir um pouco o ritmo; mas irritante, mesmo, foi o ajuste ruim da manopla de câmbio, que parecia prestes a se desrosquear da alavanca a cada troca de marchas.
Por falar em trocas, o motor C-flex ("C" de Chery) e o câmbio de cinco marchas poderiam travar um diálogo melhor para que os ocupantes da cabine possam conversar civilizadamente. O trem-de-força trabalha a maior parte do tempo em altas rotações, acima dos 3.500 giros, com a quinta marcha servindo mais como overdrive. Tal comportamento acaba incomodando os passageiros, que precisam falar aos gritos se quiserem interagir entre si. Após um tempo, fica claro que o Celer é um carro mais urbano, com suspensão macia (tipicamente chinesa), que se adapta pouco à tocada forte necessária para o tráfego rodoviário. Foi impossível, porém, obter uma média de consumo, não só pela baixa quilometragem percorrida, mas também pela inexistência do computador de bordo (há apenas odômetro e um inútil indicador de consumo instantâneo). Somados, estes deslizes tiram a fantasia do pacote completo.
Viagem a convite da Chery Brasil
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