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Lamborghini Veneno custa € 3 milhões para dono se gabar

Do UOL, em São Paulo (SP)

02/12/2013 18h59

A Lamborghini, fabricante italiana de esportivos sob comando da Volkswagen, anunciou no domingo (1) o preço oficial do fora-de-série Veneno Roadster, conversível baseado no cupê de mesmo nome: 3,3 milhões de euros, equivalente a R$ 10,5 milhões na cotação direta, sem taxas ou impostos. Atenção: UOL Carros não errou a cotação da primeira moeda e valor milionário realmente corresponde ao dinheiro do bloco comum europeu. O cupê descapotável é 300 mil euros mais caro que sua configuração com teto rígido.

Ao apresentar o cupê Veneno no Salão de Genebra, em março, a marca o apelidou de carro mais rápido da história de sua história, sem especificar se fazia menção ao fato do motor 6.5 V12 poder empurrar o modelo de 0 a 100 km/h em menos de 3 segundos e chegar à máxima de 355 km/h; ou à velocidade com que as três únicas unidades -- cada uma custando 3 milhões de euros -- foram vendidas, antes mesmo do carro ser mostrado no pavilhão da mostra suíça.

Agora, mostrou o Veneno Roadster sobre a pista do porta-aviões italiano Nave Cavour, estacionado no litoral de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), em evento feito para mostrar os predicados do modelo a "autoridades, clientes, VIPs e mídia". O local de apresentação faz sentido, já que o Oriente Médio é o maior mercado para superesportivos de luxo do mundo e os xeques deverão ser os primeiros na lista de interessados pela nove unidades a serem fabricadas.

Se o dito popular aponta que "onde passa um boi, passa uma boiada", a Lamborghini parece ter percebido como é fácil convencer estes milionários a entregar boa parte de sua fortuna por seus carros com nome de touro.

SINAL DOS TEMPOS
O caso da série Veneno é exemplar de como as coisas mudaram no mundo pós-crise econômica de 2008/09: os 300 mil euros de diferença entre o cupê e o conversível permitem, por exemplo, que um italiano coloque na garagem também um Aventador, que é equipado com o mesmo motor do Veneno, aliás, ainda que em configuração menos potente. Por lá, esta situação seria decisiva para que o carro encalhasse. Mas este tipo de comprador manda pouco ultimamente.

No mundo atual, temos duas situações determinantes no mercado automotivo: primeiro, o dinheiro da maior parte dos consumidores ficou mais curto, sobretudo no hemisfério norte, derrubando vendas de carros em mercados até considerados intocáveis, como Inglaterra, França, Japão e Estados Unidos, deixando marcas cada vez mais dependentes de mercados emergentes; segundo, um efeito colateral da primeira situação, se o consumidor comum ficou mais pobre, alguns poucos endinheirados viram o patrimônio aumentar e seu poder de compra valer muito mais, fenômeno registrado não apenas em países emergentes, mas também nos mercados principais. Se os ricos ficaram mais ricos, a venda de modelos de luxo não apenas sobreviveu à crise, como foi estimulada.

COMO SER DIFERENCIADO
No Brasil, por exemplo, o Aventador citado acima, desembarca do navio (ou do avião, em caso de maior pressa do interessado) tarifado em R$ 2.990.000, de acordo com a tabela Fipe para o mês de dezembro. Mas o valor não bate nos R$ 3 milhões porque o cálculo de conversão dos 300 mil euros (que daria pouco mais de R$ 956 mil na relação direta deste começo de dezembro), pagamento de impostos e margem suposta de lucros (jamais revelada) leva a tal soma.

Este "valor mágico" é definido por um motivo menos matemático e mais nebuloso: fará de seu comprador alguém melhor que os outros -- alguém acima dos mortais incapacitados de pagar tanto. Traduzindo: cobra-se R$ 3 milhões por oferecer ao comprador a chance de se gabar por poder pagar R$ 3 milhões.

Situação semelhante ocorreu, por exemplo, com a Audi e seu superesportivo R8. O carro do filme "Homem de Ferro", como ficou mais conhecido, variou pouco de preço no Brasil, da estreia às atualizações mais recentes: o cupê é vendido por algo perto dos R$ 700 mil, enquanto o conversível encosta nos R$ 800 mil. Já a série especial e limitada R8 GT desembarcou com apenas três carros de cada configuração e preços até 35% mais salgados: R$ 1 milhão pelo cupê que passava dos 300 km/h, R$ 1,2 milhão pelo conversível que despertou atenção até do jogador Neymar, então no Santos.

Por quê R$ 1 milhão? Pelo simbolismo, justificou a Audi, mais preocupada à época com o marketing (que aliás funcionou, já que os carros se esgotaram antes da apresentação) do que com repercussões negativas.

E o que parecia ser a regra do clube dos carros de "seis zeros" válida apenas para o Brasil tornou-se um fenômeno global.

E não só a Lamborghini está nessa. A francesa Bugatti (também da Volkswagen) estica ao máximo a vida do esportivo Veyron, com séries especiais que custam até três vezes mais o valor do carro convencional (se é que é possível chamar de "convencional" um modelo com mais 1.000 cavalos), caso da Les Legends de Bugatti. A Ferrari saltou dos 230 mil euros pedidos pelo 458 Italia (R$ 1,5 milhão no Brasil) para 1,5 milhão de euros por cada uma das 499 unidades do super-híbrido La Ferrari.

Até mesmo marcas "comuns", como Ford e Renault, perceberam que a chave do sucesso está em atrair endinheirados com séries especiais, a ponto de criarem as submarcas Vignale e Initiale, respectivamente, como visto no último Salão de Frankfurt.