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Vinfast: marca do Vietnã foi do macarrão instantâneo ao SUV de luxo

Ricardo Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Paris (França)

03/10/2018 04h00

Marca investiu US$ 2,5 bilhões e surge no Salão de Paris tendo David Beckham como garoto-propaganda

Salão do Automóvel é sempre palco de grandes lançamentos. No entanto, em uma edição enfraquecida do Salão de Paris -- o automóvel está em baixa na opinião pública europeia, a ponto de muitas marcas grandes acharem melhor se ausentar --, boa parte dos holofotes ficou com uma desconhecida: a Vinfast, empresa que vem do... Vietnã.

A histórica é digna de roteiro de filme: a Vinfast nasceu há um ano e acaba de concluir uma fábrica com capacidade para entregar 250 mil unidades por ano. A fabricante é parte de um conglomerado vietnamita, o Vingroup, avaliado em US$ 35 bilhões, com negócios nas mais variadas áreas e 48 empresas subsidiárias, mas que surgiu no ramo alimentício.

Em Paris, dois modelos da Vinfast foram mostrados, abusando do estilo à europeia -- linhas angulosas desenvolvidas pelo estúdio Pininfarina, conjunto óptico totalmente de LED, interior requintado e trem-de-força da BMW -- tendo um jogador de futebol inglês/celebridade como garoto-propaganda: David Beckham.

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De noodles a carros

Mas o que o Vingroup faz? Tudo começou com macarrão instantâneo, isso mesmo. O negócio foi iniciado por Pham Nhat  Vuong, vietnamita que abriu uma fábrica de noodles na Ucrânia, depois de estudar na Rússia. Ele vendeu a empresa de alimentos para a gigante Nestlé e aplicou o lucro em outras atividades em seu país de origem, especialmente no setor de turismo, tornando-se o primeiro bilionário do Vietnã. Ideia vai, ideia vem, surgiu a chance de fazer carros.

"O Vingroup é responsável por praticamente todo o funcionamento da economia do Vietnã. Hotéis e resorts, construção de casas, shoppings  centers, redes de supermercado, agricultura, escolas, universidades, fármacos, hospitais", afirmou o vice-presidente de planejamento da Vinfast, Roy Flecknell, com exclusividade a UOL Carros durante o Salão de Paris.

Vinfast Lux SA2.0 - Regis Duvignau/Reuters - Regis Duvignau/Reuters
SUV Lux SA2.0 usa, assim como o sedã, motor 2.0 turbo de 170 cavalos de origem da BMW
Imagem: Regis Duvignau/Reuters

Projeto de US$ 2,5 bilhões

"O único setor no qual não atuávamos era transporte e mobilidade. Faz sentido entrarmos agora: isso está ligado a uma filosofia da companhia, de estar em todas as fases da vida do vietnamita. Você nasce em um hospital feito por ela, mora em uma casa, vai para a escola. Faltavam então andar nos veículos", disse.

Segundo Flecknell, Paris foi escolhida por ser uma mostra de nome internacional e os dois primeiros modelos apresentados, um sedã e um SUV, são "aspiracionais" e chegam para causar uma boa primeira impressão. No ano que vem, além deles surgirão também dois scooters elétricos.

"Teremos um gama completa, com modelos mais econômicos, bem como ônibus. Há um potencial de crescimento muito grande. O Vietnã tem 84 milhões de habitantes, uma Alemanha, mas um mercado de 300 mil carros. Hoje você passa em ruas de cidades como Saigon é há famílias inteiras, quatro, cinco pessoas, em cima de uma moto. Nosso fundador tem essa visão de entregar um transporte mais seguro para essas pessoas", garantiu Flecknell.

O investimento da fábrica e desenvolvimento inicial para o nascimento da Vinfast foi de US$ 2,5 bilhões. O executivo britânico que trabalhou na General Motors afirmou que nunca viu um crescimento tão rápido de um negócio na indústria automotiva.

"O dinheiro existe, então é mais rápido [entregar os veículos]. Buscamos parcerias para os conceitos, mas também há essa necessidade de superar duas defasagens que existem no país incrível que é o Vietnã, de tecnologia e manufatura", explicou.

Mas vem para brigar globalmente? De acordo com Flecknell, inicialmente, a marca começa focada no mercado vietnamita, mas deve ganhar fôlego para se arriscar em outros mercados com plano de médio a longo prazo.

"Queremos mostrar que existimos e que somos capazes de fazer excelentes veículos. Temos planos [de chegar a outros mercados], na indústria trabalhamos com prognóstico entre cinco e dez anos na frente. Então, ser global algo é que consideramos em um certo período de tempo, mas ainda não podemos dizer exatamente quando ou como", concluiu.