Ferrari largada há 14 anos deve voltar à vida com ajuda de Otávio Mesquita
No mês passado, UOL Carros contou a história da Ferrari Dino 208 GT4 1975 apreendida em 2006 que enferruja em um pátio da Prefeitura de Santo André (SP) há pelo menos dez anos.
Após a publicação da reportagem, repercutida por outros veículos de comunicação, Bruno Lazar, filho do já falecido proprietário, decidiu tentar resgatar o veículo. Além da deterioração, o carro está bloqueado judicialmente, segundo o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo).
O primeiro desafio será conseguir a liberação do veículo - além da questão judicial, hoje a Dino 208 GT4 1975, única no Brasil, acumula mais de R$ 100 mil a pagar apenas de diárias, informa a prefeitura.
Um advogado orçou em R$ 30 mil os serviços, conta o empresário de 34 anos, dono de uma franquia de pizzas na capital paulista.
"Até a sua matéria sair, eu não tinha esse interesse no carro. É um assunto difícil para mim e não tenho condição financeira. Mas passei a considerar essa possibilidade para resgatar a memória do meu pai [o romeno Ferry Lazar, falecido em 2014]. Nos víamos muito pouco e nosso último encontro foi em 1999, durante um passeio nessa mesma Ferrari, na cidade de São Paulo", relata.
"Só soube da morte do meu pai quase cinco anos depois, justamente ao ser procurado por um interessado em comprá-la, que me deu a notícia", complementa.
Bruno diz que recebeu o contato de interessados em ajudar a trazer a Ferrari de volta à vida.
Mesquita 'abraça a causa'
"Já tenho parceria para fornecimento dos pneus, recuperação das rodas e serviço de funilaria. Acabei de conversar pelo telefone com o Otávio Mesquita, que se identificou com a história e disse que vai ajudar. Já pediu fotos do veículo e documentos para tentarmos liberá-lo", relatou Bruno Lazar à reportagem na quinta-feira passada.
Há cerca de duas semanas, durante uma entrega de pizza na residência de Mesquita, no Morumbi, Bruno Lazar teve a chance de conhecê-lo e contar pessoalmente a história da Ferrari deixada para apodrecer.
O apresentador confirma a conversa e a intenção de colaborar.
"Já tinha visto as reportagens. Ferrari é Ferrari e esta deveria estar exposta, é um patrimônio automotivo brasileiro. Acho que a Justiça deveria levar em consideração o valor histórico desse carro, após resolver todas as pendências, claro", afirma Mesquita, de 60 anos.
O comandante do programa "Operação Mesquita" (SBT) é um apaixonado por carros e automobilismo - tanto que mantém na parede da sala de casa uma Jordan que participou do campeonato da Fórmula 1 em 2003, além de luvas, macacões e capacetes de pilotos como Ayrton Senna, Rubens Barrichello e Felipe Massa, para citar alguns.
Mesquita também é piloto e já ganhou provas, inclusive ao volante de uma Ferrari no Brasil. Ele também teve uma Testarossa na década de 1990.
Quanto à Dino 208 GT4 que permanece exposta ao sol e à chuva no ABC Paulista, o apresentador informa que vai ter uma reunião com Lazar nos próximos dias para definir uma estratégia de ação e como poderá colaborar.
"Vamos ver se conseguimos retirar ela de lá para depois buscarmos eventuais patrocínios. Não entrei nessa para ganhar dinheiro nem tenho a intenção de comprar essa Ferrari. Queremos contar a história que envolve esse veículo", explica Mesquita.
Ele pretende "nos próximos dias" produzir uma reportagem a respeito da saga de Bruno Lazar e da sua relação com o pai, que ele conheceu apenas quando tinha quatro anos de idade. Seus pais nunca se casaram.
Otávio Mesquita também cogita produzir um documentário sobre processo de restauração do esportivo italiano, a depender de parceiros que viabilizem a iniciativa. Bruno conta que, antes de tratar sobre o assunto com o apresentador, já havia uma produtora interessada.
A Dino mantém motor e câmbio, bem como volante e todos os itens de acabamento interno, nas durante todo esse tempo os carburadores foram roubados. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o restauro da Ferrari deixada para enferrujar pode custar mais de R$ 1 milhão.
História de separação entre pai e filho
O herdeiro da Dino 1975 viu a Ferrari ao vivo no pátio da prefeitura pela primeira vez no começo deste mês, em reportagem do "Balanço Geral", da TV Record.
"Foi emocionante. Senti como se meu pai, que gostava tanto desse carro, estivesse enterrado ali. Essa Ferrari traz muitas lembranças".
Ele relata que "nunca teve interesse em nada que viesse de herança", mas hoje sonha em ver o carro recuperado.
"Eu e meu pai nunca vivemos juntos, isso era um sonho na época para mim. Isso fez com que me afastasse porque não conseguia conviver em família com ele, não conseguia ter esses momentos" diz.
"Eu tinha uma percepção de que ele era um exemplo ruim de pai porque não ligava no aniversário, não ia visitar, não me pegava na escola. Porém, agora, dentro de mim, eu não falo mais que não tinha pai".
Bruno considera Ferry um gênio incompreendido.
Bruno relembra a participação do pai no programa "Ídolos" (SBT), quando ele foi reprovado pelos jurados ao cantar uma versão da música "Surfin' Bird", há quase 15 anos.
"Ali a gente vê as sequelas que uma série de internações em manicômios públicos por opção da família dele. Eu não concordava com isso. Eles tratavam o Ferry como um louco, mas na verdade ele era uma pessoa acima da média. O QI dele era absurdamente alto", opina.
Ele conta que o pai "mandava teorias para a Nasa", fazia projetos de aeromodelismo e chegou a ser condecorado por projetar um aeromodelo "que atravessou Israel de ponta a ponta".
Como a Ferrari foi apreendida
Segundo registro da Polícia Civil, em 2002 Ferry Lazar levou a Dino 208 GT4 azul para reparos em uma oficina. Ao retornar, o estabelecimento tinha fechado e o carro, desaparecido.
Em 2006, o romeno conseguiu localizar o cupê, porém com pintura amarela e registrada no nome de um terceiro. Lazar apresentou denúncia à polícia e, durante as investigações, constatou-se que o veículo tinha sido adquirido no Paraguai sem recolher os impostos e as taxas de importação. Além disso, o chassi teria sido adulterado após o sumiço.
Por conta dessas irregularidades, a polícia apreendeu a Ferrari e ela nunca mais foi recuperada. O caso rendeu pelo menos dois processos na Justiça. Tanto Ferry quanto a pessoa que se dizia dona do carro, um colecionador do interior paulista, morreram sem que houvesse uma definição sobre o destino do esportivo.
"Quando a Ferrari desapareceu, meu pai ficou louco. Isso acabou matando ele também. Era o xodó dele. Quando sumiram com o carro, ficou anos procurando. Quando encontrou, começou essa luta".
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