O pai do Nivus

Chefe de design da VW diz que fazer SUV cupê foi 'mais divertido' do que sedã

Vitor Matsubara Do UOL, em São Bernardo do Campo (SP) Vitor Matsubara/UOL

Como nasceu o Nivus

Novo rebento

"Deixa eu ver se ainda lembro", brinca José Carlos Pavone enquanto pega um de seus lápis. É claro que ele se lembra: menos de 10 minutos depois, um belo esboço do Nivus (feito à pedido de UOL Carros) estampa a folha em branco que guardei como recordação.

Afinal de contas, não é todo dia que a gente testemunha o trabalho do homem que comanda o departamento de design da Volkswagen do Brasil. De suas pranchetas já saíram alguns dos modelos mais famosos da marca nos últimos anos, como Jetta e Passat.

Desde seu retorno ao país, em agosto de 2016, José Carlos (ou JC, como assina nos esboços) trabalhou em projetos grandiosos. Mas nenhum deles foi tão importante quanto o do próximo lançamento da VW: o Nivus.

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Ideia de Pavone

A ideia de ter um SUV cupê compacto na linha partiu do próprio Pavone e foi apoiada pela cúpula da filial brasileira. "Era o momento de fazer algo novo, então comuniquei para o meu time que a gente tinha de fazer uma coisa completamente nova", lembra.

Àquela época, por volta de 2017, a Volkswagen ainda estava desenvolvendo o T-Cross. Mas a equipe do designer já pensava no próximo passo.

"A silhueta do cupê veio da necessidade de ter algo nunca visto em nosso portfólio. Nossa ideia era democratizar um pouco o segmento (de SUV cupê), que já tem representantes em marcas premium. Aí vieram também as tendências de SUV, carro aventureiro com suspensão elevada e peças que comunicam mais proteção. E juntar tudo isso em uma receita que fosse mais atraente".

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Fazer diferente

A partir daí chegou a hora de definir os detalhes do projeto. Desde o início, Pavone sabia que o Nivus precisaria ser diferente de tudo que havia na linha de produtos da VW.

"A inspiração foi pegar o DNA atual da VW e tentar fazer algo novo e moderno que pudesse chamar atenção. A parte superior tem o 'V' da Volkswagen que a gente encontra no Jetta, então a novidade está na assinatura de LED. Fomos muito pragmáticos em fazer uma coisa nova. Nós pensamos: 'não vamos colocar o típico DNA horizontal que temos em outros carros'. Essa necessidade de fazer o novo estava presente em qualquer pedacinho do carro", afirma.

"É claro que desenhar um SUV é diferente de um sedã, que é um modelo mais elegante e premium. Esse projeto foi mais divertido, até por ser mais novo. Lembro do dia em que pedi para o meu time que tivéssemos mais cor, com formatos mais diferentes. E o pessoal se inspirou em várias referências, até o capacete do Star Wars (risos). Tudo que fosse diferente, mas seguindo o universo do design Volkswagen".

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Herança do T-Cross

O designer diz que não se inspirou em nenhum modelo da Volkswagen (ou até de outras marcas) antes de desenhar o Nivus. Mesmo com o desejo de fazer algo diferente, ele sabia que algumas referências deveriam ser seguidas.

"Não vou dizer que teve uma inspiração visual. Mas as lanternas conectadas já tínhamos no T-Cross, e vários show cars possuem essa identidade. Então era meio que natural usar essa solução, mas adaptá-la ao tipo de tecnologia. Isso define também um pouco as dimensões: o T-Cross é um pouco mais alto, mais 'boxy' (quadrado)? Ele casa melhor com a arquitetura do carro. Aqui (Nivus) teria que ser mais afilado, mais moderno. São referências do DNA atual da própria Volkswagen", afirma.

Pavone diz que não realizou muitas mudanças durante o desenvolvimento do Nivus. No entanto, admite que, por via das dúvidas, resolveu sugerir uma ideia apenas para descartá-la.

"Inicialmente eu quis propor uma versão com a grade superior mais fina, parecida com a do Polo, mas foi mais para confirmar que não seria o caminho certo. E eu queria ticar que não estava legal, então partimos para uma grade mais dominante. Mas a traseira teve essa característica de unificar as lanternas desde o princípio, como o T-Cross".

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É do Polo?

Quem olha o Nivus ao vivo se surpreende com a harmonia do design, algo difícil de ser obtido em um SUV cupê, até por conta das proporções fora do padrão.

Algumas peças são compartilhadas com o Polo, como portas, teto e para-brisa. Só que é praticamente impossível identificá-las no Nivus. Isso torna o resultado final ainda mais impressionante, a ponto de ter confundido até um executivo da matriz.

"Quando o board veio conhecer o carro um executivo da engenharia elogiou bastante o projeto e disse que fizemos um bom resultado no caimento do teto. Só que ele não percebeu que era o mesmo teto do Polo", lembra Pavone.

No caso do teto, o spoiler traseiro ajuda a "disfarçar" a semelhança com o hatch e suaviza a queda da traseira típica dos SUVs cupês. Daí fica difícil mesmo achar semelhanças.

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Do Brasil para a Europa

A versátil plataforma modular MQB serve como um quadro em branco para o time de design. Isso porque é possível "brincar" um pouco com as proporções. Uma das primeiras providências do time de design foi aumentar o balanço traseiro e "jogar" as lanternas para trás. Isso faz com que as colunas "C" fiquem 'mais rápidas', nas palavras do designer. Na prática, a medida realça o caráter de esportividade do Nivus.

"Eu não tive receio que o projeto ficasse ruim, mas queria que ficasse muito bom, sabe? As proporções da plataforma MQB já são naturalmente boas. Então não tinha a preocupação de que ficasse muito ruim, mas fizemos ajustes até o final. Até porque tem aquela brincadeira que o ótimo é inimigo do bom (risos)".

Aparentemente os gringos concordam com Pavone, que não disfarça o orgulho ao falar de sua cria. O SUV cupê foi elogiado pela imprensa especializada nos Estados Unidos e na Europa, onde o carro será fabricado na Espanha.

"O board veio até o Brasil para conhecer o carro e eles gostaram tanto do projeto que decidiram que seria vendido no mercado europeu".

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Sobre o lançamento

Desenvolvido totalmente no país, o Nivus será lançado na semana que vem. Feito sobre a plataforma do Polo, ele terá 4,26 metros de comprimento, 1,49 metro de altura, 1,75 metro de largura e 2,56 metros de distância entre eixos, sendo 7 cm mais comprido e 1 cm mais estreito do que o T-Cross.

Chega às concessionárias em três versões de acabamento: 200 TSI, Comfortline e Highline. Todas sairão da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) com o motor 1.0 turbo de até 128 cv e 20,4 kgfm quando abastecido com etanol. A única opção de câmbio disponível será o automático de seis marchas.

A fabricante promete equipar o Nivus com itens inéditos na categoria de SUVs compactos, como central multimídia VW Play com tela de 10 polegadas (sem internet nativa nem Wi-Fi), faróis full LED e piloto automático adaptativo.

Estes itens, porém, devem vir apenas na versão Highline com todos os opcionais, cujo preço deve passar de R$ 100 mil. Posicionado entre Polo e T-Cross, o Nivus (que inaugura o segmento de SUVs cupês compactos no país) deve custar entre R$ 80 mil e R$ 100 mil.

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