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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como a prevenção do HIV pode mudar a vida de pessoas trans no Brasil

Mural com fotos de pessoas trans no Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS de São Paulo. - Arquivo pessoal
Mural com fotos de pessoas trans no Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS de São Paulo. Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

17/12/2022 06h00

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Essa semana, tive a oportunidade de conhecer mais a fundo o trabalho da equipe de Educação Comunitária da Casa da Pesquisa do Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS de São Paulo.

Ali, existem alguns estudos em andamento que podem contribuir para ampliar a prevenção contra o HIV:

  • Com o cabotegravir: droga injetável adequada para a PrEP (Profilaxia Pré-exposição), que evita a contração do vírus HIV em 95% dos casos. Atualmente está na chamada fase 4, ou seja, em estudo numa grande população para compreender sua adesão e, posteriormente, a aprovação ou não para ser distribuída no sistema público de saúde. É uma injeção intramuscular aplicada a cada dois meses;

  • Com o lenacapavir: outra droga injetável que, em tese, superaria o cabotegravir por ter aplicação apenas subcutânea e a cada seis meses. É um estudo de fase 3, em que se procura entender a eficácia em públicos específicos e mais vulneráveis a contrair o vírus HIV.

Essas pesquisas costumam durar em média de três a quatro anos.

A intenção não é ter o medicamento perfeito, mas trazer uma oferta de várias formas de prevenção, como o Truvada (que hoje está disponível em farmácias), para que as pessoas possam ter direito ao tratamento que mais faça sentido para cada um - em especial a populações vulneráveis.

Esses estudos são financiados por laboratórios privados, o que dá a entender que a indústria farmacêutica percebeu que hoje é a prevenção, mais que o tratamento, que vai barrar o avanço da pandemia de HIV.

Quando soube que o público prioritário da pesquisa do lenacapavir era pessoas trans — tanto por estarem mais suscetíveis, por razões históricas, a contrair o vírus, quanto pela necessidade de serem acolhidas pelo serviço de saúde com um atendimento que lhes faça sentido — fiquei interessada em saber como era o trabalho da equipe para com essa população.

Não sem luta, a equipe de Educação Comunitária conta com várias pessoas LGBTQIA+, em especial pessoas trans, no atendimento e acolhimento às pessoas que participarão dessas pesquisas.

Há todo um trabalho para fazer com que essas pessoas, em geral em situações muito precárias de vida, se vejam com outros olhos e entendam que elas também têm direito ao serviço público de saúde.

E isso é muito mais interessante a meus olhos que o simples procedimento de participar de uma pesquisa. É trazer de alguma forma dignidade a quem teve essa dignidade negada desde muito cedo. E fazer com que as pessoas entendam que elas podem ser o que quiserem, desde que tenham acesso aos equipamentos públicos que podem fazê-las mudar de vida.

E, com isso, finalizo com meus desejos para 2023: de que os novos ventos trazidos pelas transformações, pelas quais passaremos, superem o ódio e tragam cada vez mais conscientização para que haja dignidade para todo mundo e que o preconceito seja apenas uma vaga lembrança ruim de um tempo que passou.

Um feliz ano novo para todes!

Serviço

O estudo PURPOSE2 está recrutando pessoas para participar de estudo que tem como objetivo comprovar a eficácia e segurança do lenacapavir, uma nova modalidade de profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, de aplicação subcutânea a cada seis meses. São pré-requisitos para participar da pesquisa:

Ser pessoa trans, pessoa não-binária ou homem cisgênero que faz sexo com pessoas que tenham pênis, com vida sexual ativa;

  • Ter idade de 18 anos ou mais e residir na cidade de São Paulo;

  • Não ter realizado teste de HIV nos últimos três meses;

  • Não ter utilizado PrEP nos últimos três meses

Maiores informações podem ser obtidas no Instagram da Casa da Pesquisa do CRT