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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Aids: sintomas iniciais da infecção por HIV podem ser confundidos com gripe

Febre, cansaço e dor de garganta são alguns sintomas apresentados na fase inicial da infeção pelo HIV  -  Camila Rosa/VivaBem
Febre, cansaço e dor de garganta são alguns sintomas apresentados na fase inicial da infeção pelo HIV Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Tatiana Pronin

Colaboração para o UOL VivaBem

04/12/2018 04h00

A Aids é provocada pelo vírus HIV, que ataca o sistema imunológico e e deixa o corpo vulnerável a doenças. Veja causas, sintomas e como prevenir e tratar

A síndrome da imunodeficiência adquirida, ou Aids (da sigla em inglês), é uma doença causada pelo HIV (vírus da imunodeficiência adquirida), que ataca o sistema imunológico e deixa o organismo vulnerável a doenças. Embora a infecção já tenha sido encarada como sentença de morte, a evolução dos tratamentos deu à Aids um status de condição crônica —como tal, exige muitos cuidados, mas não impede ninguém de ter uma vida plena e longa.

História

Cientistas acreditam que o HIV tenha se originado a partir do vírus da imunodeficiência símia (SIV). A caça e domesticação de um chimpanzé típico da África ocidental teria favorecido a transmissão e adaptação daquele micro-organismo no ser humano ainda no século 19. Os primeiros casos da doença, que causava pneumonia e um tipo raro de câncer de pele (sarcoma de Kaposi), foram registrados na África central, no Haiti e nos Estados Unidos nos anos de 1970.

No Brasil, o primeiro caso foi registrado em 1980, mas confirmado apenas dois anos mais tarde, quando a Aids foi reconhecida. Por algum tempo, foi chamada de "doença dos 5 H", porque afetava homossexuais, hemofílicos, haitianos, usuários de heroína injetável e profissionais do sexo ("hookers", em inglês). Os infectados morriam em pouco tempo. Não demorou para que a condição fosse referida na imprensa como "câncer gay" ou "praga gay".

O HIV foi isolado e descrito em 1983 pelo virologista francês Luc Montagnier, e confirmado pelo norte-americano Robert Gallo. Em 1987, o AZT começou a ser utilizado no tratamento da Aids. Também nesse ano, a Organização Mundial de Saúde e a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceram o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta Contra a Aids.

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Como o vírus age

O HIV é um retrovírus da subfamília dos Lentiviridae, que se propaga por meio de certos fluidos corporais (sangue, leite materno, sêmen e líquidos secretados durante o sexo). Ele ataca as células T CD4, um tipo de linfócito (glóbulo branco) que ajuda a proteger o organismo de doenças.

Tipos e variantes

Existem dois principais tipos de vírus: o HIV1, de longe o mais prevalente, e o HIV2, que é mais comum no continente africano e de mais difícil transmissão. Como esses micro-organismos se multiplicam muito rapidamente, existem diferentes variantes genéticas, identificadas pelos cientistas por letras e números. Essa variabilidade enorme é um dos principais obstáculos para a criação de uma vacina.

Ter HIV não significa ter Aids

Quando uma pessoa é infectada, o HIV vai para dentro do DNA (código genético) da célula CD4 e faz milhões de cópias de si mesmo, rompendo a célula em busca de outras para continuar a infecção. Com o passar do tempo, a quantidade de células CD4 diminui muito, o que torna o organismo vulnerável para outras doenças. Só nessa fase, mais avançada é que podemos falar em Aids. Ou seja: o aparecimento de infecções oportunistas e cânceres é o que define a doença.

Em indivíduos não tratados, estima-se que o tempo médio entre o contágio e o aparecimento da doença é de cerca de dez anos. Mas isso pode acontecer muito antes para alguns indivíduos. Outros podem nunca vir a ter Aids, ou porque iniciaram tratamento logo após o diagnóstico, ou porque o sistema imunológico consegue controlar a infecção —esses indivíduos são chamados "Controladores de elite" e mantêm carga viral HIV indetectável e contagem elevada de células CD4 sem uso de antirretrovirais. Pesquisadores descobriram um gene específico, denominado HLA B57, que faz com que o portador tenha mais linfócitos T e, como consequência, seja menos vulnerável ao HIV.

Sintomas

- Fase aguda (ou Síndrome Retroviral Aguda) O período de incubação (tempo da exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais) do HIV é de três a seis semanas. Na fase inicial, a replicação é intensa e a carga viral aumenta, assim como o risco de transmissão. A contagem de células CD4 pode chegar a menos de 200 células por mm³ de sangue (em adultos saudáveis, esse valor varia entre 800 a 1.200 unidades). Essa fase é acompanhada por um conjunto de manifestações clínicas, que podem incluir:

  • Febre;
  • Sudorese;
  • Cefaleia;
  • Cansaço (astenia);
  • Dor de garganta;
  • Dores no corpo;
  • Rash cutâneo (Erupções avermelhadas na pele);
  • Aumento dos gânglios linfáticos (ínguas);
  • Aumento do volume do baço;
  • Perda de apetite e de peso;
  • Depressão;
  • Sintomas gastrointestinais (como náuseas, vômitos e diarreia);
  • Feridas na boca.

Em casos raros, a pessoa pode ter meningite ou problemas neurológicos, como a síndrome de Guillan-Barré. Mas a verdade é que, em geral, os sintomas se assemelham aos de uma gripe ou virose e desaparecem sozinhos, por isso a maioria dos casos passa despercebida. Para algumas pessoas, as ínguas e a astenia podem durar vários dias ou mesmo semanas, o que pode estar associado a uma progressão mais rápida da doença.

- Fase de latência O organismo leva de 30 a 60 dias após a infecção para produzir anticorpos anti-HIV (período em que o vírus pode não aparecer no exame), mas, após o processo, a contagem de CD4 volta a subir para mais de 350 céls/mm³. O nível geralmente não retorna ao anterior à infecção, mas o organismo não fica enfraquecido o suficiente, pois os vírus amadurecem e morrem de forma equilibrada. Esse período, que pode durar muitos anos, é chamado de assintomático.

Aids e doenças oportunistas

Se o CD4+ estiver acima de 350 céls/mm³, os episódios infecciosos mais frequentes são geralmente bacterianos, como as infecções respiratórias ou mesmo tuberculose. À medida que a infecção progride e a contagem de células CD4 diminui, pode haver febre baixa, perda de peso, sudorese noturna, fadiga, diarreia crônica, cefaleia, alterações neurológicas, infecções bacterianas (como pneumonia, sinusite, bronquite) frequentes, lesões orais, hepatites virais e herpes-zoster.

- Infecções oportunistas mais comuns: pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, meningite criptocócica e retinite por citomegalovírus.

- Tipos de câncer mais comuns: sarcoma de Kaposi (SK), linfoma não Hodgkin, câncer de colo uterino e de borda anal.

O HIV também pode causar doenças por dano direto a certos órgãos ou por processos inflamatórios, tais como miocardiopatia, nefropatia e neuropatias, que podem estar presentes durante toda a evolução da infecção pelo HIV.

Números do HIV/Aids

Cerca de 1,8 milhão de pessoas são infectadas a cada ano no mundo, segundo estimativas da Unaids, o programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids. Em 2017, quase 37 mil pessoas viviam com o vírus, e 940 mil morreram por causas relacionadas à Aids, sendo que a região mais afetada do globo é a África subsaariana.

No Brasil, são 40 mil novos casos por ano, ou um a cada 15 minutos. A taxa de detecção é estimada em 18,5 casos por 100 mil habitantes. A prevalência média do HIV na população é de 0,4%, segundo o Ministério da Saúde.

De 2007 até junho de 2017, foram notificados 194.217 casos de infecção pelo HIV no Brasil. Os dados que você vê a seguir, com base nesse total, dão uma ideia de quem são os mais afetados pela doença:

Sexo e etnia

  • 68% dos infectados são homens e 32% são mulheres;
  • No sexo masculino, 49,6% dos casos estão entre brancos e 49,4% entre pretos e pardos;
  • Entre as mulheres, 43,2% dos casos são entre brancas e 55,9% entre pretas e pardas.

Faixa etária

  • A maioria (52,5%) dos novos casos ocorre em indivíduos de 20 a 34 anos;
  • De 2006 a 2016, a taxa de detecção quase triplicou na faixa de 15 a 19 anos, e mais que duplicou na faixa de 20 a 24 anos;
  • Em homens e mulheres, a taxa vem apresentando tendência de queda em quase todas as faixas etárias, exceto entre jovens e pessoas com 60 anos ou mais;

Transmissão

O HIV pode estar presente nos seguintes fluidos corporais: sangue, sêmen, líquido pré-seminal, secreções retais, secreções vaginais e leite materno. Para que o vírus seja transmitido, esses fluidos devem entrar em contato com as mucosas (boca ou órgãos genitais) ou algum tecido lesionado; ou devem ser injetados diretamente na corrente sanguínea (por meio de agulha ou seringa).

É possível contrair o vírus assim:

  • Sexo anal sem camisinha;
  • Sexo vaginal sem camisinha;
  • Sexo oral sem camisinha (o risco é muito baixo, mas existe em teoria, principalmente se o parceiro ejacular);
  • Uso de agulha ou seringa por mais de uma pessoa;
  • Transfusão de sangue contaminado (algo que não ocorre no Brasil, já que os bancos de sangue realizam a testagem e adotam critérios de descarte);
  • De mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação (transmissão vertical);
  • Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

Mas assim não pega:

  • Pelo sexo com uso correto da camisinha;
  • Beijo no rosto ou na boca;
  • Masturbação a dois;
  • Suor e lágrima;
  • Aperto de mão ou abraço;
  • Sabonete/toalha/lençóis;
  • Picada de inseto;
  • Assento de ônibus;
  • Piscina;
  • Banheiro;
  • Doação de sangue;
  • Pelo ar (com tosse, espirro etc.);

Casos muito raros de transmissão:

  • Mordida (para o risco existir é preciso que o trauma seja grave e com presença de sangue);
  • Beijos de língua com feridas ou sangramentos na gengiva (se ambos estiverem com a boca ou a gengiva sangrando transmissão pode ocorrer).

Fatores de risco

A epidemia brasileira, assim como tem ocorrido em outros países, é mais concentrada em certos segmentos da população mais vulneráveis ao HIV por razões que envolvem estigma, preconceito e falta de acesso a recursos para diagnóstico e prevenção. As populações-chave, segundo o Ministério da Saúde, são homens que fazem sexo com outros homens (referidos pela sigla HSH), pessoas trans, trabalhadores do sexo, indivíduos privados de liberdade e pessoas que usam álcool e outras drogas. Mas é importante frisar que qualquer pessoa pode contrair o vírus se transar sem camisinha.

Diagnóstico

Qualquer pessoa que tenha passado por alguma uma situação de risco, como ter feito sexo desprotegido ou compartilhado seringas, deve fazer o teste anti-HIV. O exame também pode fazer parte dos check-ups regulares, a critério médico.

Existem os exames laboratoriais e os testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos. Ambos são realizados gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). É possível se informar sobre locais de testagem pelo Disque Saúde (136).

A infecção pelo HIV pode ser detectada cerca de duas a três semanas após a situação de risco. Antes disso, período chamado de janela imunológica, os anticorpos ainda estão sendo fabricados e podem não ser detectados no exame, gerando um falso negativo. Veja a seguir as modalidades de testes disponíveis:

- Imunoensaio: a sorologia que detecta a presença de anticorpos contra o HIV a partir de uma amostra de sangue é o tipo de exame mais realizado desde o início da epidemia. Ao longo dos anos, o método conhecido como ELISA (do inglês Enzyme Linked Immunoabsorbent Assay) foi aperfeiçoado e a quarta geração de testes não apenas detecta anticorpos, como também uma proteína do vírus (o antígeno p24), por isso é mais preciso e a janela imunológica é menor. O exame pode dar "não reagente" (a pessoa não tem o HIV), "indeterminado" (é preciso repetir o exame depois de um mês, pois alguma outra condição pode ter interferido no resultado) ou "reagente" (positivo para HIV).

- Testes complementares: em geral, qualquer sorologia positiva é confirmada pelo próprio laboratório com um exame mais sofisticado e preciso. Os métodos mais utilizados para isso são o Western Blot, o Immunoblotting e a Imunofluorescência indireta para o HIV-1. Mais recentemente, os testes moleculares como o PCR também foram incluídos no diagnóstico. O PCR (Reação em cadeia da polimerase) geralmente é positivo antes dos testes de anticorpos.

- Testes rápidos: são imunoensaios mais simples, que dão resultado em até 30 minutos. São feitos com uma gota de sangue tirada do dedo ou mesmo com amostra de saliva. É possível realizá-los fora do ambiente laboratorial, o que ajuda na política de estímulo à detecção precoce. Atualmente, dois testes rápidos positivos, feitos com dispositivos de diferentes fabricantes, já são considerados diagnóstico. Quando um teste dá positivo e o outro negativo, é preciso fazer o teste confirmatório.

- Testes caseiros (ou autotestes): também são testes rápidos (por punção digital ou saliva) que podem ser adquiridos e realizados pelo próprio paciente. Esse teste é considerado como triagem e, portanto, há a necessidade de o indivíduo com resultado reagente procurar um serviço de saúde para conclusão do diagnóstico.

- Detecção direta do HIV: testes que detectam o antígeno p24, ou testes moleculares que detectam RNA ou DNA pró-viral são extremamente úteis para adultos com infecção aguda (quando o risco de transmissão é mais alto), bebês com menos de 18 meses e após possível exposição durante o parto. Nesses casos, os ensaios baseados em anticorpos não são eficazes.

Tratamento

Não existe ainda uma terapia capaz de eliminar o HIV, mas os medicamentos antirretrovirais impedem a multiplicação do vírus no organismo e o consequente enfraquecimento do sistema imunológico. A terapia antirretroviral deve ser iniciada assim que o diagnóstico é feito. "Antes, se esperava a contagem de células CD4 cair para começar com o tratamento. Hoje, sabe-se que é melhor iniciar antes disso, assim que o HIV é descoberto", declara o infectologista José Valdez Madruga, coordenador do comitê de Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Como o perfil de efeitos colaterais das drogas melhorou e o esquema de tomada foi simplificado, é mais fácil que um paciente mantenha a aderência ao tratamento mesmo sem ter vivenciado as consequências do vírus. Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os antirretrovirais a todas as pessoas vivendo com HIV. Atualmente, existem 22 medicamentos com diferentes apresentações farmacológicas. Eles pertencem às seguintes classes:

- Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa Atuam sobre a enzima transcriptase reversa, impedindo a transcrição do RNA viral antes da integração do mesmo no DNA da célula CD4, o que impede a multiplicação (Zidovudina ou AZT, Tenofovir, Lamivudina, Didanosina e Abacavir).

- Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa Também atuam sobre a transcriptase reversa, mas bloqueiam diretamente sua ação e multiplicação (Etravirina, Nevirapina e Efavirenz).

- Inibidores de protease Bloqueiam a ação da enzima protease, impedindo a produção de novas cópias de células infectadas (Tipranavir, Saquinavir, Ritonavir, Nelfinavir, Lopinavir, Fosamprenavir, Darunavir, Atazanavir).

- Inibidores de fusão Impedem a entrada do vírus nas células de defesa (Enfurvirtida).

- Inibidores da integrase Bloqueiam a enzima integrase, responsável por inserir o DNA do vírus ao DNA humano. Isso inibe a replicação do vírus (Dolutegravir e Raltegravir).

- Inibidores de entrada Classe mais recente, que impede a entrada do vírus nas células de defesa, por meio do bloqueio dos receptores CCR5 (Maraviroc).

Combinações

A terapia inicial deve sempre incluir três antirretrovirais combinados, sendo dois medicamentos de classes diferentes, que podem estar em um só comprimido. Os chamados "2 em 1" ou "3 em 1" facilitam bastante a adesão dos pacientes ao tratamento, segundo os especialistas.

O esquema preferencial atualmente é a combinação Lamivudina + Tenofovir associada ao Dolutegravir, ou seja, dois comprimidos tomados uma vez ao dia. Os efeitos colaterais mais frequentes são enjoos e dor de estômago no início da terapia. Espera-se que, em breve, os brasileiros tenham acesso a uma droga que reúne as três drogas em uma única cápsula.

Existem casos que requerem outras combinações, como na coinfecção com a tuberculose, ou mulheres com possibilidade de engravidar e gestantes. Vale mencionar que o esquema atual —apenas uma ou duas cápsulas ao dia— seria impensável há algumas décadas, em que era preciso tomar vários comprimidos e em horários diferentes.

Uma das tendências para o futuro é o surgimento de injeções mensais ou bimensais que substituem as cápsulas. Isso ajudaria os pacientes a evitar esquecimentos, algo que não apenas compromete a ação do remédio, como pode favorecer o surgimento de mutações (alterações no código genético do vírus) que tornam o vírus resistente ao antirretroviral usado.

Carga viral zerada é a meta

Com os esquemas antirretrovirais modernos, pelo menos 80% dos pacientes alcançam a supressão viral e conseguem mantê-la nos anos seguintes. Para a minoria que tem falha com o esquema inicial, há estratégias que trazem resultados animadores. A persistência de carga viral detectável, ainda que em níveis baixos, aumenta o risco de progressão da doença e de resistência às drogas, o que reduz as opções terapêuticas.

Em 2014, a Unaids lançou as metas 90-90-90, consideradas as mais ambiciosas na história da luta contra a epidemia. A ideia é que, até 2020, 90% de todos os infectados conheçam sua condição, 90% dos soropositivos sejam tratados e 90% dessa população tenha a carga viral zerada. De acordo com a Unaids, a evidência agora é clara de que as pessoas vivendo com uma carga viral indetectável não transmitem o HIV em relações sexuais (indetectável = intransmissível). Assim, incentivar a testagem e o tratamento correto é o caminho para o combate à Aids.

Existe cura?

Não. Pesquisadores do mundo todo buscam formas de combater o HIV, vacinas para evitar ou tratar a infecção, bem como géis capazes de bloquear a entrada do vírus durante as relações. Mas não é possível prever uma cura. O único caso cientificamente aceito de um paciente curado até hoje é o do americano Timothy Brown, conhecido como "paciente de Berlim".

Por causa de uma leucemia, ele teve que ser submetido a um transplante de medula óssea, e o doador tinha uma mutação genética que o tornava resistente ao HIV. Trata-se de uma alteração no cromossomo 32, que faz a pessoa não produzir uma proteína, a CCR5. É preciso que pai e mãe tenham a alteração para que o filho também tenha. Estima-se que apenas 1% da população do norte da Europa tenha essa característica.

Por que não submeter outros pacientes a um procedimento como o de Brown? Primeiro, porque é extremamente difícil encontrar um doador compatível com essa mutação. Segundo, porque a mortalidade é alta e, quem recebe o transplante, precisa tomar medicamentos imunossupressores, que têm efeitos colaterais.

Além dos remédios

O avanço dos recursos para controlar a doença é inegável, mas o tratamento do HIV/Aids requer, também, mudanças no estilo de vida. É preciso ter disciplina e não se esquecer de tomar os remédios todos os dias e no horário, para evitar que o vírus se torne resistente, além de ir às consultas e fazer exames regularmente.

Ter uma alimentação saudável e fazer exercícios (aeróbicos e anaeróbicos), além de evitar álcool, drogas e cigarro são medidas que ajudam a evitar problemas como perda óssea, processos inflamatórios, doenças cardiovasculares, renais ou hepáticas.

Cuidar do psicológico é outro pilar fundamental, já que o estigma que ainda existe em relação ao HIV pode deflagrar isolamento social, baixa autoestima, disfunção sexual e depressão, entre outros transtornos.

É possível engravidar com o HIV?

Sim. Os tratamentos de inseminação artificial ou fertilização assistida impedem o risco de transmissão do vírus para o parceiro e/ou o bebê. Nos casos em que a mulher é soropositiva, o tratamento com antirretrovirais permite a manutenção da carga viral em níveis baixos para minimizar a probabilidade de transmissão durante o parto.

Pesquisas indicam que o risco de transmissão do HIV da mãe para o feto é de 25% a 30%, mas cai para menos de 1% quando a mulher recebe tratamento e tem a carga viral controlada. Já a amamentação é contraindicada.

Como evitar o HIV

Nunca houve tantos recursos disponíveis para combater o HIV. Os especialistas utilizam o termo "prevenção combinada" para se referir à estratégia que reúne diferentes abordagens de prevenção. As intervenções podem ser comportamentais (informação, incentivo ao uso da camisinha, redução de danos etc), biomédicas (tratamento de todos os indivíduos diagnosticados, uso preventivo de antirretrovirais etc) e também estruturais (enfrentamento do preconceito, combate à violência sexual, garantia de direitos humanos etc).

1) Use camisinha em todas as relações sexuais (anais, vaginais e orais). O preservativo é o método mais acessível para se prevenir da infecção pelo HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como sífilis, gonorreia e alguns tipos de hepatite, além de evitar uma gravidez não planejada. Vale lembrar que ter uma IST aumenta o risco de contrair o HIV numa relação sexual desprotegida.

A camisinha masculina deve ser colocada no pênis ereto pouco antes da penetração e desenrolada até a base, segurando-se a ponta para evitar o acúmulo de ar. Após a ejaculação, deve ser retirada com o pênis ainda duro, com cuidado para não vazar. Depois, deve-se dar um nó no preservativo para isolar o sêmen e jogá-lo no lixo.

Já a camisinha feminina pode ser colocada dentro da vagina algumas horas antes da relação sexual, o que dá maior poder de controle para a mulher. A argola interna deve ser inserida bem no fundo da vagina com o dedo indicador. A argola externa fica para fora, e deve ser segurada com uma das mãos no momento da penetração. Após a relação, é só torcer a argola externa, retirar com cuidado e jogar no lixo.

Atenção: nunca use duas camisinhas ao mesmo tempo, pois há o risco de estourar. O uso de gel lubrificante ajuda a evitar rompimentos, mas é preciso que seja um lubrificante à base de água, próprio para isso. Para saber onde adquirir preservativos gratuitamente, ligue para o Disque Saúde (136).

2) Nunca compartilhe seringas, agulhas e outros objetos que cortam e furam. Utilize apenas produtos descartáveis

3) Use luvas para manipular feridas ou líquidos corporais.

4) Se estiver grávida, faça todos os exames pré-natais e siga o tratamento corretamente.

5) Caso se exponha a risco, considere o uso da PEP (Profilaxia Pós-Exposição). A utilização de antirretrovirais durante 28 dias seguidos logo após a exposição pode reduzir o risco de infecção pelo HIV. É indicado em situações como relações desprotegidas com parceiros de sorologia desconhecida, rompimento da camisinha, sexo sem consentimento, violência sexual ou acidentes com perfurocortantes ou material biológico. A profilaxia deve ser iniciada o mais rápido possível —de preferência nas primeiras duas horas e no máximo 72 horas após a exposição.

O tratamento, disponível gratuitamente no SUS, dura 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada pela equipe de saúde. Os efeitos colaterais podem incluir náuseas, vômitos, dor abdominal, cefaleia, fadiga e icterícia (cor amarelada da pele nos indivíduos que usam PEP com atazanavir).

6) Se você se expõe a situações de risco com frequência, considere a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição). Consiste no uso regular de antirretrovirais, ou seja, tomar remédio todo dia, para evitar uma eventual infecção. É indicada para indivíduos em um relacionamento com parceiro HIV+, homens que fazem sexo com outros homens (HSH) e não usam camisinha em todas as relações sexuais, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis, usuários de drogas ou álcool que apresentam comportamentos de risco, transexuais com comportamento sexual de risco e indivíduos com várias prescrições de PEP. A combinação utilizada na PrEP é de Tenofovir + Emtricitabina (Truvada). Os efeitos colaterais mais comuns são cefaleia, náuseas, vômitos, tonturas, fadiga e dor nas costas, que costumam passar após algum tempo. É importante lembrar que a PrEP não é um substituto para a camisinha, mas uma estratégia a mais de proteção.

Como ajudar um familiar com HIV

Ter o apoio da família e/ou dos amigos é o ideal para quem recebeu o diagnóstico, mas nem sempre a pessoa que se infectou revela a descoberta pelo medo do preconceito. "A pessoa deve compartilhar seu diagnóstico quando se sentir segura para isso", sugere Roseli Tardeli, fundadora da Agência de Notícias da Aids que teve um irmão soropositivo.

Para os parentes que desejam ajudar da melhor forma possível, uma conversa com psicólogos, um profissional de saúde especializado em acolhimento ou mesmo grupos de apoio pode ser útil.

Fontes: Jairo Bouer, psiquiatra especialista em sexualidade e colunista do VivaBem; José Valdez Ramalho Madruga, médico investigador de estudos clínicos do CRT-DST/Aids e coordenador do comitê de Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia; Mariliza Henrique da Silva, médica infectologista do Apoio Técnico da Gerência de Assistência do CRT DST/AIDS - Programa Estadual de São Paulo; Roseli Tardeli, diretora fundadora da Agência de Notícias da Aids; CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, nos EUA); Grupo de Incentivo à Vida (giv.org.br); Agência de Notícias da Aids (agenciaaids.com.br); Ministério da Saúde (Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das hepatites virais; Unaids (unaids.org.br).

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