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Padre Júlio: 'Culpabilizam os pobres e não o sistema que causa a pobreza'

De Ecoa, em São Paulo

02/12/2021 12h06

O 1º Prêmio Ecoa, transmitido hoje (2), revelou sua primeira homenageada. Escolhida por votação popular, Irmã Dulce é a vencedora na categoria "Fizeram História", que reuniu 14 mulheres e homens que dedicaram suas vidas a reduzir desigualdades, combater a fome e o racismo e também a promover a ciência.

Padre Júlio Lancellotti esteve no palco para compartilhar a homenagem. "O trabalho dela foi para os pobres e agora estamos vivendo um momento de grande aumento da pobreza e da fome. Uma das ações importantes da Santa Dulce foi isso, cuidar e proteger quem não tem ninguém", disse ele.

Primeira santa brasileira a ser canonizada pelo Vaticano, Irmã Dulce nasceu em 1914, em Salvador, como Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Passou a se chamar Irmã Dulce em 1933, quando se tornou freira. Na Bahia, onde atuou durante a vida toda, ficou conhecida pelo apelido de "Anjo Bom da Bahia".

"Ela também tocava sanfona para as pessoas encarceradas e, o que mais me cativa nela, é que ocupava as casas vazias e o prefeito chamou e falou: 'Irmã, assim não dá'. E ela dizia: 'enquanto tiver gente assim, eu vou ocupar'. Ela defendia com toda a força os mais pobres", conta o padre.

Padre Julio - Júlio César Almeida/UOL - Júlio César Almeida/UOL
Padre Júlio Lancellotti e Tiago Abravanel no prêmio Ecoa UOL
Imagem: Júlio César Almeida/UOL

Padre Júlio Lancellotti nasceu em 1948 no bairro do Belém, em São Paulo, e completou 36 anos de ordenação. Em sua trajetória, dedicou-se principalmente a apoiar os mais vulneráveis e já realizou trabalhos com jovens encarcerados, portadores de HIV e população LGBTQI+, entre outros.

No Prêmio Ecoa, ele destacou que a humanidade vai além da religião: "A solidariedade não é religiosa, é para além. Tem gente que não tem religião e é muito mais humana do que quem tem religião", afirma.

Ele diz ainda que existe um movimento de culpabilizar a pobreza. "Não é falado sobre o sistema que causa a pobreza. A pobreza e a miséria não acontecem por acaso, e quando você está do lado do povo negro, dos indígenas, do público LGBTQIA+, você vai ser criticado", afirma.

Para finalizar, o padre deixa uma mensagem: "Não discrimine, não seja preconceituoso, não julgue os pobres, trate-os como seres humanos. Temos que defender a juventude negra, acabar com esse genocídio, defender os povos indígenas, toda pessoa do grupo LGBTQIA+ e não aceitar nenhum preconceito e discriminação. Isso é algo que todos podemos fazer e não custa nada."

A premiação nasceu para reconhecer e impulsionar as histórias e soluções de quem está na linha de frente da transformação social no Brasil. O Prêmio ECOA quer agregar valor tanto às iniciativas, pessoas e empresas indicadas quanto para a sociedade brasileira, amplificando as vozes que são silenciadas e construindo pontes entre agentes de transformação, audiência e a sociedade, de forma propositiva e inspiradora.