Irmãos Nogueira ousam ao criar "faixa" e diploma no boxe e geram polêmica
Uma tradição de diversas artes marciais, como jiu-jítsu, judô e caratê, a graduação dos lutadores faz parte da evolução dentro destas lutas, geralmente com a distribuição de faixas de diferentes cores. No boxe, isso não é uma prática comum e uma metodologia aplicada pela Team Nogueira, rede de academias dos irmãos Minotauro e Minotouro, do UFC, gerou polêmica entre os praticantes da nobre arte.
Primeiramente, é bom explicar: a Team Nogueira não forma “faixa-pretas”, de fato, já que não distribui faixas aos seus lutadores. A graduação dos lutadores que frequentam 31 academias pelo Brasil, uma em Abu Dhabi e outra nos EUA é representada por um certificado e eles são ensinados de acordo com o nível dado após cada avaliação.
Os alunos que passam pelos exames de graduação são divididos em cinco níveis: um iniciante, dois intermediários e dois avançandos. Tudo, de acordo com a equipe, para nivelar os lutadores, facilitar o método aula a aula a que se propõe o curso de boxe e equiparar as coisas na hora de sparrings ou campeonatos internos (leia mais abaixo).
Para os críticos do método, mexer com o tradicional boxe não é aceitável. Há quem critique simplesmente o fato de se inventar a graduação e o objetivo disso e há quem considere a ideia um “caça-níqueis”, já que o procedimento para a graduação gera pagamento extra nos planos dos alunos.
A discussão tomou as redes sociais depois que a imagem do certificado de um aluno da academia Team Nogueira de Garulhos surgiu, com o grau “rash guard branca”.
Esquiva Falcão, medalhista olímpico de prata em Londres-2012, é um dos que se posicionou contra. O capixaba afirmou que nunca viu esse tipo de método e afirmou que o boxe não funciona como o jiu-jítsu, por exemplo.
“Para mim, o que faz o boxeador é o cartel”, afirmou Esquiva. “Acho que não é adequado para a modalidade e nem para o atleta. Ele vai pensar que está concluindo certa graduação e já estará pronto para enfrentar um adversário de alto nível. Iniciei no boxe profissional lutando em 6 rounds, depois, por me achar preparado, passei para 8 rounds, e por aí vai. Mas isso vai de acordo com as lutas, com os adversários que enfrento, não de acordo com o andamento do meu treino.”
Esquiva nega que o fato de a Team Nogueira ter origem no MMA ajude na polêmica, já que há rixas entre os praticantes das modalidades. “O método vem de uma equipe ótima, mas não vejo sentido para o boxe. Não precisamos de graduação, mas sim de experiência. Basta o atleta saber qual passo ele pode dar”, adicionou.
Blogueiro de boxe do UOL Esporte, Wilson Baldini, cita o lado financeiro. “Isso não existe no futebol, basquete, vôlei, atletismo, por que existir nas lutas? Talvez porque nelas as pessoas sofram mais e precisem de motivação. Ou para professores ganharem dinheiro, pois o aluno paga inscrição para o exame e o diploma. A graduação no boxe não vai significar nada. Então vamos dar uma faixa preta para o Neymar e uma branca para o Firmino”, ironizou.
A Team Nogueira se prontificou rapidamente a comentar a polêmica e, primeiramente, usou as redes sociais para se posicionar. A empresa destacou que seu método foi criado com a ajuda de Luiz Dórea, técnico de longa data dos irmãos Nogueira e de boa parte da carreira de Popó, para uniformizar o tratamento com clientes e nivelar os alunos.
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Resultado parcial
Total de 926 votosWarner Hammerle, coordenador técnico que realiza viagens para adequar os novos franqueados na metodologia da Team Nogueira, explicou que entende a polêmica, mas afirma que a intenção nunca foi espantar a classe.
“O trabalho foi criado há cerca de dois anos. Como se trata de clientes, a preocupação é com a qualidade de vida de cada um. Não existe aquela forma de tratamento com alunos que existia antes, de fez errado ou atrasou paga dez (flexões), tapa na cabeça para levantar a guarda. E a ideia foi ter uma metodologia, aula por aula, para que pudesse organizar e padronizar em todas as academias. Por ser uma franquia, tem que ser igual em todo lutar, como McDonalds”, afirmou Hammerle.
O coordenador técnico disse que ver erros do passado ajudaram na decisão, já que muitas vezes lutadores com pouca experiência faziam treinos e lutas com outros mais rodados, e que isso aumentava os riscos de lesão.
“O que causou toda a polêmica foi usarmos um certificado, um nivelamento de grau, ter escrito o ‘rash guard’, que nada mais é do que um diferencial para identificar as divisões. Esse nivelamento é feito com o tempo, e também é uma forma de estimular o aluno, passar de um nível para o outro, ter uma promoção. Os tradicionalistas realmente se sentiram ofendidos, mas não fizemos para espantar ninguém, é para que tenhamos uma forma de manter a integridade dos clientes”, completou Hammerle, que confirmou a existência de um custo para inscrição e certificados, mas afirmou que os alunos não obrigados a passar por esse processo.
Consultada pela reportagem, a Confederação Brasileira de Boxe não reconhece graduação na modalidade. "As instruções normativas da AIBA, não contemplam metodologia onde os lutadores sejam 'nivelados e divididos em níveis de instrução'. Assim, a Confederação não adota nem reconhece essa metodologia. A Confederação Brasileira de Boxe possui alçada para impor seu regulamento somente aos seus filiados. Não consta que tal academia tenha qualquer tipo de vínculo com a CBBoxe ou com alguma Federação a ela filiada. Assim, não nos compete opinar sobre a referida academia."
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