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Com Hamilton e Russell, Mercedes vai enfrentar seu maior desafio desde 2014

Mercedes voltou a usar o prateado no carro de 2022 da Fórmula 1 - Divulgação/Mercedes
Mercedes voltou a usar o prateado no carro de 2022 da Fórmula 1 Imagem: Divulgação/Mercedes

Colunista do UOL

18/02/2022 06h37

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As flechas de prata voltarão ao grid da Fórmula 1 com a Mercedes abandonando a pintura preta dos últimos anos e adotando novamente seu tradicional prateado para a temporada 2022. O time é um dos poucos a ter uma dupla neste ano, com George Russell como companheiro de Lewis Hamilton, que pode fazer história nesta temporada se conquistar um inédito oitavo título mundial.

Hamilton falou pela primeira vez desde a polêmica decisão do campeonato do ano passado, quando ele foi ultrapassado na última volta do GP de Abu Dhabi por Max Verstappen, que ficou com o título. E um dia depois de a Federação Internacional de Automobilismo divulgar algumas mudanças na direção de prova, muito em função do episódio, trocando Michael Masi por dois novos diretores, que se revezarão nas corridas, limitando a comunicação via rádio entre as equipes e os diretores e criando um sistema parecido ao VAR na Fórmula 1.

"Eu nunca disse que iria parar. Eu amo fazer o que eu faço. Foi um período difícil, em que eu precisava me afastar, precisava estar presente. Me cerquei da minha família, foquei em criar novas lembranças. E em determinado momento decidi que era o momento de atacar novamente."

Já Russell terá finalmente a chance de comprovar que é o substituto natural de Hamilton quando o inglês de 37 anos e que tem mais duas temporadas de contrato com a Mercedes se aposentar. O piloto de 23 anos vem de três temporadas com a Williams, time pelo qual subiu ao pódio no atípico GP da Bélgica do ano passado. O inglês teve uma boa recepção no lançamento, com o chefe Toto Wolff e Hamilton salientando que é até natural vê-lo na equipe, já que ele fazia parte há anos do projeto de jovens pilotos da Mercedes.

George lembrou da famosa foto em que ele, ainda piloto de kart, está ao lado do já campeão da F1 Hamilton. "Ele era um super-herói para mim na época", reconheceu. "Aqui, são tantos rostos parecidos, a adaptação é mais fácil, embora os relacionamentos sejam construídos com o tempo. Mas o mais importante nessa temporada será trabalhar para a equipe, para desenvolver o carro, porque isso será decisivo ao longo do ano."

Time luta contra regulamento que 'penaliza' o campeão

A Mercedes fez algumas opções interessantes no carro, começando pelo bico mais baixo, a exemplo da Ferrari, com todos os elementos da asa dianteira afixados nele. Outros times, como a Aston Martin e a McLaren, optaram por não conectar a primeira lâmina ao bico, focando no fluxo de ar debaixo do carro. Também ao contrário da McLaren, a Mercedes continuou com a mesma geometria de suspensão usada até o ano passado, com push rod na dianteira e pull rod na traseira. Outro ponto que chamou a atenção foi o posicionamento do espelho retrovisor, usando uma aleta que ainda não tinha aparecido em outros carros.

Mas o que mais se destaca é o recorte dramático da lateral do carro, que se afunila rapidamente para uma traseira bastante enxuta, nos moldes do que a Williams apresentou também nesta semana quando levou seu carro à pista. Esta área é aquela em que os carros mais têm se distinguido entre si, embora o diretor técnico da Mercedes, Mark Elliot, tenha lembrado durante a apresentação que "os segredos dos carros estão escondidos debaixo deles", referindo-se à parte não visível do assoalho, responsável por grande parte da performance do carro, e também pela maneira como as equipes organizaram os equipamentos internos.

w13 mercedes - Divulgação/Mercedes - Divulgação/Mercedes
O modelo W13, que será usado na temporada 2022 pela Mercedes
Imagem: Divulgação/Mercedes

Dá para dizer que está tudo desenhado para a Mercedes não ser tão dominante nestas regras. Por outro lado, o time demonstrou em mais de uma oportunidade desde o início de sua sequência de títulos, em 2014, que tem uma organização sólida o suficiente para driblar os obstáculos que apareceram no caminho.

O ano passado foi um bom exemplo disso. Quando a Mercedes percebeu o tanto que tinha perdido em termos de desempenho em relação aos rivais entre 2020 e 2021 devido a uma mudança de regulamento que atingia mais seu carro que os outros, eles tinham vários desafios para enfrentar. Era o primeiro ano do teto de gastos e da limitação no desenvolvimento aerodinâmico baseado na posição do campeonato, e essas são duas coisas que afetam diretamente o time. Isso porque eles foram uma das três equipes que mais sofreram com o teto de gastos e teriam menos tempo no túnel de vento na primeira metade de 2021 por serem os campeões. A solução? Mudar de abordagem, focando em apenas um pacote de novas peças e apostando na compreensão do carro que tinham em mãos.

Foi uma abordagem completamente diferente da Red Bull, que colocou mais peças novas no carro e acabou sofrendo para compreendê-las. E que acabou permitindo uma virada que parecia improvável até o último quarto do campeonato, juntamente com uma estratégia agressiva com os motores.

Mas nada se assemelha ao teste por que a organização vai passar agora. Este carro foi desenvolvido em meio à reestruturação gerada pelo teto, que fez com que a equipe tivesse que cortar cerca de 100 milhões do orçamento, e também com as restrições de túnel de vento e simulações de computador: a Mercedes começou o ano como o time que tinha menos tempo à disposição. A partir de 1° de julho, passou a ser a segunda com menos tempo, pois a Red Bull estava na frente no campeonato.

Como eles foram campeões entre os construtores, agora eles voltam a ser quem tem menos tempo de desenvolvimento aerodinâmico, e por uma margem maior do que ano passado, já que a regra de 2021 prevê que o líder tenha 45% a menos de tempo de túnel de vento e CFD que o último colocado. E a diferença entre a Mercedes e a Red Bull, por exemplo, dobrou em relação ao ano passado (pulando de 2.5% para 5%). É permitido à Mercedes 70% do tempo de desenvolvimento aerodinâmico em comparação ao limite em vigor até 2020.

Do lado do motor, a Mercedes precisa resolver a questão que afetou a confiabilidade em 2021. Isso, em meio a uma reestruturação depois de perder seis funcionários da divisão de motores justamente para a Red Bull. O time, no entanto, está confiante de que conseguiu solucionar o problema, e também se adaptar bem ao novo combustível, outra novidade deste ano. Durante o lançamento, o time adiantou que fez "mais mudanças na unidade de potência para este ano do que para qualquer outra temporada de 2014 para cá."

Por todo lado que se olha, fica claro porque é importante para a Mercedes começar bem a temporada 2022, já que as regras foram construídas para que quem venceu o ano anterior tenha menos chances de se desenvolver.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL