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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Como a fake news quase arruinou a vida de Goycochea, herói da Copa de 1990

Sergio Goycochea, goleiro argentino da Copa do Mundo de 1990 - Reprodução Twitter
Sergio Goycochea, goleiro argentino da Copa do Mundo de 1990 Imagem: Reprodução Twitter

Colunista do UOL

02/11/2022 07h27

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Foi há 34 anos, muito antes de o termo ''fake news'' existir. Em 1988, um boato sobre a Aids quase acabou com a carreira do goleiro argentino Sergio Goycochea, que seria importante na Copa do Mundo de 1990 ao defender pênaltis contra Iugoslávia e Itália e ajudar a azul e branca a jogar a decisão daquele Mundial. A Argentina foi vice, perdendo a decisão para a Alemanha.

Goycochea era reserva do River desde 1982, e em 1988 entraria numa troca com o San Lorenzo, que repassaria ninguém menos que José Luis Chilavert ao gigante de Núñez. Foi quando Goyco ficou doente e precisou de meses para se recuperar.

''Não houve um culpado por este rumor da Aids'', relembrou o goleiro em entrevista publicada pela revista El Gráfico em 2008.
''Tive um problema na clavícula, e os médicos preservaram o diagnóstico. Se pensassem que eu tinha artrite, o mundo do futebol poderia achar que eu não servia mais.''

''Criou-se um manto de dúvida, e aí surgiram os rumores. Tudo se potenciou com um título da El Gráfico, 'A estranha doença de Goycochea'. Era estranha porque ninguém explicava bem. O erro foi não dizer a verdade com todas as letras.''

goyco - Reprodução Viva - Reprodução Viva
Ex-goleiro Goycochea, da seleção argentina, River e Inter de Porto Alegre
Imagem: Reprodução Viva

'Carniceiros'

De uma hora para outra, Goyco ficou isolado.

''Percebi quem era meu amigo e quem não era. Tomei consciência de que integrava um meio carniceiro. Poucos tiveram interesse em saber como eu estava, pensavam só na transferência para o San Lorenzo. Ainda bem que um ano e meio depois pude ter a minha revanche no Mundial. Caso contrário, não sei quanto tempo mais teria carregado esta cruz.''

Goyco relembra um momento difícil em particular.

''Minha mãe me ligou chorando pedindo para eu dizer a verdade. Aí eu me quebrei emocionalmente, larguei tudo o que tinha em Buenos Aires e fiquei perto da família. Sem querer discriminar, mas na época todos tinham a cabeça muito fechada e dizer Aids era dizer drogado ou homossexual. Fui e expliquei tudo a ela.''

O ex-goleiro precisou sair da Argentina para voltar a jogar - defendeu o Millonarios, da Colômbia, no auge da corpulência financeira do narcotráfico do esporte no país.

Hoje, Goycochea é um renomado comentarista e apresentador de TV na Argentina. Em entrevista publicada hoje (2) pelo jornal "Olé", ele disse que mantém contato constante com Dibu Martínez, o goleiro da seleção nesta Copa do Mundo do Qatar.

"Não dou conselhos, seria uma falta de respeito minha", comentou. "Prefiro compartilhar minhas vivências e dar um ou outro apoio pontual. Me sinto mais confortável assim. Ele [Dibu] sabe que pode contar comigo."