Ayrton Senna é reconhecido como um dos melhores pilotos da história. O respeito por suas conquistas e atuações é imensa em todo o mundo. Por outro lado, sua personalidade forte também fez com que ele se envolvesse em diversas polêmicas que acabaram, para alguns, arranhando sua imagem.
Sua irritação quando era contrariado dentro da equipe, brigas com direito a empurrões, socos nos boxes e negociações de contrato que deixavam os chefes de equipe malucos fizeram com que ele também fosse visto como arrogante fora das pistas. O UOL Esporte reuniu algumas dessas polêmicas da carreira do tricampeão. Confira:
1 - Pole a qualquer custo
Ele foi "rei de Mônaco", é verdade, mas o caminho rumo à realeza começou de forma controversa. A primeira das cinco pole positions de Senna em Monte Carlo aconteceu em 1985, pela Lotus. Ele havia feito um bom tempo no treino classificatório, que talvez fosse suficiente para a pole. Mas, para garantir que ninguém diminuísse a marca, Senna colocou pneus velhos e voltou à pista, andando lentamente, para atrapalhar os adversários, seguindo orientação do chefe de equipe, Peter Warr.
A atitude foi atacada por nomes importantes da época, como Michele Alboreto e Niki Lauda, que chegaram a procurar o brasileiro nos boxes para discutir a questão. No dia D, Senna teve problemas com o motor, não terminou a prova e a vitória ficou ironicamente com aquele que viria a ser um de seus maiores rivais: Alain Prost. Ao jornalista Ernesto Rodrigues, autor da biografia “Ayrton, o Herói Revelado”, Warr assumiu responsabilidade pelo ato de Senna. Segundo ele, o brasileiro se mostrou arrependido logo após sair do carro, lamentando: “Peter, não quero fazer isso nunca mais. Se alguém tiver que ser mais rápido que eu, que seja. Não faço nunca mais.”
2 - O veto mais famoso
O inglês Derek Warwick ficou conhecido no automobilismo como mais um que poderia ter sido e não foi. Parte deste "vir-a-ser" não concretizado se deve a Ayrton Senna, como conta Ernesto Rodrigues em seu livro “O Herói Revelado”. Para a temporada de 1986, a Lotus já havia acertado com Warwick para ser o segundo piloto do time ao lado de Senna. O chefe da equipe ligou para o brasileiro para avisá-lo e, dias depois, Senna retornou dizendo que não queria o britânico no time não só pelo talento, mas também por ser queridinho dos ingleses. A justificativa do brasileiro, no entanto, foi que a equipe não tinha condições de manter dois carros competitivos durante a temporada. No final do ano, Senna ainda mandou a Warwick um cartão desejando “feliz ano novo”. Com o passar do tempo, no entanto, os dois se reaproximaram e mantiveram uma relação de amizade nos últimos anos de vida do brasileiro.
Os acidentes entre Senna e Prost em 1989 e 90 estão entre os mais famosos da Fórmula 1. Se no primeiro o francês fechou o brasileiro para garantir o título, no segundo Senna também não pensou duas vezes antes de bater no rival para conquistar o seu bicampeonato. A agressividade do brasileiro sempre incomodou diversos adversários. E esta característica vinha de longe. Outro acidente forçado por Senna ocorreu na decisão da F3 Inglesa, quando o carro do brasileiro acabou subindo sobre o carro de seu rival, Martin Brundle, que por pouco não foi acertado na cabeça. Título decidido, mas Senna ficaria por muitos anos com a fama de piloto exageradamente duro. Durante a carreira, não foram poucas as críticas que o brasileiro recebeu pelo seu estilo.
4 - Brigas fora das pistas. Brigas mesmo
Não foi apenas dentro dos carros que Senna travou disputas ferrenhas. Ele também teve algumas brigas fora, que incluíram empurrões e socos. Em 85, seu 1º ano na Lotus, o brasileiro deu uma fechada em seu companheiro, Elio de Angelis, que voltou louco da vida aos boxes. Após uma discussão e empurrões, o italiano acabou acertando um soco em Senna e os mecânicos tiveram que separá-los. Dois anos depois, foi a vez de Mansell não gostar de uma manobra de Senna no GP da Bélgica. Após um toque, ambos abandonaram e o inglês foi aos boxes acertar as contas e também acertou um soco no brasileiro.
Em 92, durante um teste em Hockenheim, o já tricampeão Senna ficou irritado com uma manobra do então iniciante Michael Schumacher e chegou a pegar o alemão pelo colarinho. Novamente, a turma do “deixa disso” evitou algo pior. A última confusão deste tipo aconteceu após o GP do Japão de 93. Mesmo vencendo a corrida, Senna não gostou da maneira agressiva como o estreante Eddie Irvine pilotou quando ele estava colocando uma volta no norte-irlandês. Resultado: mais discussão nos boxes e, desta vez, foi o piloto da McLaren que acertou o “adversário”.
5 - Descumprimento de pacto resultou em briga com Prost
Ter dois pilotos do talento e com o ego de Senna e Prost não é fácil para nenhuma equipe. A McLaren até conseguiu administrar bem a situação por um tempo, mas a coisa se perdeu em 89, resultando em uma das maiores rivalidades da história da Fórmula 1. E tudo começou quando o brasileiro resolveu descumprir um pacto entre os dois em que ficava combinado que eles não se atacariam na primeira volta das corridas para evitar acidentes. Aconteceu na segunda largada do GP de San Marino, depois de uma interrupção na terceira volta da prova. Senna justificou que o acordo valia apenas para a primeira largada, mas Prost não aceitou a desculpa. A partir daquele momento, a relação dos dois, que já vinha desgastada, virou guerra.
6 - Menino mimado
Sete anos depois do episódio com Warwick, foi a vez de Senna ser vetado. Ele não gostou nem um pouco e fez questão de que o mundo todo soubesse, dando mais munição para aqueles que já o consideravam arrogante. Na volta à Fórmula 1, Alain Prost assinou com a Williams, equipe que teria o melhor carro de 1993 e era o sonho de Senna naquele momento. Só que colocou uma cláusula no contrato que vetava o brasileiro como companheiro de equipe. Rebelde, Senna aproveitou uma coletiva de imprensa oficial e o chamou o francês de “covarde” porque não estava agindo de “maneira esportiva”.
7 - Piloto era visto como arrogante nas negociações
Senna sabia que na Fórmula 1 ninguém era santo e por isso sempre foi um negociador de contratos bastante duro. Muitas vezes, até demais. No final de 82, ao se destacar em categorias menores na Inglaterra, ele recebeu uma proposta da McLaren que dava à equipe a opção de tê-lo em 84. Só que as exigências do piloto foram tantas que, revoltado, Ron Dennis chegou a dizer que nunca o contrataria, o que acabou acontecendo seis anos depois.
Suas transferências de equipe também sempre foram cercadas de questionamentos éticos. Em 84, ele usou uma brecha para quebrar seu contrato com a Toleman e ir para a Lotus na temporada seguinte. A punição foi ficar sem carro no GP da Itália daquele ano. Só que três anos depois, a própria Lotus acabou sofrendo do mesmo veneno ao ver sua estrela trocá-la pela McLaren. Peter Warr, chefe do tradicional time, resolveu contra-atacar e não só contratou Piquet como ainda antecipou o anúncio para ganhar as manchetes enquanto Senna ainda não tinha oficializado seu futuro. A última polêmica aconteceu em 92, quando Senna se oferecia publicamente à Williams enquanto ainda corria pela McLaren, mostrando até irritação com a impossibilidade de correr na equipe rival, que tinha um carro muito melhor. Sem contrato para 93, ele acabou conseguindo arrancar mais dinheiro da patrocinadora da equipe corrida a corrida, sempre ameaçando não correr mais.
8 - Traumatizando criancinhas
Em 2007, Felipe Massa revelou uma história que deixou alguns fãs de Senna chateados (com Massa). Ele contou que, quando ainda corrida de kart, foi pedir um autógrafo para Senna e ele teria virado a cara. “Isso me deixou chateado e me fez crescer”, contou Massa à época. No final das contas, a atitude de Senna traumatizou uma criancinha, mas pode ter salvado outras, já que, segundo Massa, a experiência desagradável ensinou a ele que nunca deveria negar autógrafos aos pequenos.
Imagem é mantida com acompanhamento de perto da família
É sabida a preocupação que Senna tinha com sua imagem. Após a sua morte, a família do piloto manteve esse cuidado, tentando controlar tudo que tenha ligação com o nome do tricampeão. A própria irmã dele, Viviane Senna, admitiu, em uma entrevista à jornalista Sonia Racy, de "O Estado de S. Paulo", que a família vetou um filme da produtora americana Warner Bros, que teria Antonio Banderas no papel principal, porque não teria a palavra final em relação ao roteiro e edição. “Não quisemos dar essa liberdade total e ficar sem o menor controle do que vai sair”, disse. Alguns anos depois, eles autorizaram a Working Title a produzir o documentário “Senna”, sempre sob supervisão.
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