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Fórmula 1

Alonso critica a equipe, mas presidente da Ferrari responde com elogios

Livio Oricchio

Do UOL, em Mônaco

22/05/2014 11h07

Carros concebidos sob os princípios da mais elevada tecnologia, o maior laboratório de testes para os recursos que, um dia, chegarão aos veículos de série. Competição reservada a apenas quem pode dispor de um orçamento impensavelmente grande, não menos de 250 milhões de euros (R$ 850 milhões) por temporada, se o objetivo for lutar pelo título. Corridas transmitidas para o mundo todo. Milhões de telespectadores nos cinco continentes. Essas são características louváveis da F1, inequivocamente.

Mas há também o lado provinciano desse universo milionário, capaz de se apresentar em cenários glamorosos, como o de Mônaco, sob o olhar da realeza. E nesse sentido o afago ao ego de alguns de seus personagens tem tanto peso, poder de persuasão, quanto os elevados valores oferecidos para a assinatura de um contrato profissional. O que torna a coisa, sob certo ponto de vista, um tanto cômica, até.

Quando se pensa que são homens que lá estão, na plenitude de sua maturidade técnica e emocional, eis que surge algo que expõe uma realidade inimaginável: sua porção "menino" vive intensamente ainda dentro deles. E, não raro, aflora puerilmente.

Quarta-feira perguntaram a Fernando Alonso, na entrevista coletiva realizada no motorhome da Ferrari, o que achava de o presidente da Mercedes, Dieter Zetsche, afirmar: "Alonso é provavelmente o melhor piloto da F1. Tem provado isso sempre e com carros não competitivos".

A Mercedes venceu as cinco etapas disputadas este ano, é a favorita para estabelecer a pole position do GP de Mônaco, amanhã, e vencer a corrida, domingo. Não com Alonso, mas com Lewis Hamilton e Nico Rosberg.

O piloto espanhol, campeão do mundo em 2005 e 2006, pela Renault, respondeu: "É sempre bom quando as pessoas veem o seu trabalho com bons olhos e respeitam o que você está tentando alcançar". E acrescentou: "É estranho esses cumprimentos virem de pessoas de fora (da equipe). E dos que estão supostamente mais próximos de você recebemos o oposto. Os elogios me motivam, já as críticas dos amigos mais próximos me divertem".

Ao ler as declarações de Alonso, o presidente da Ferrari, ex-presidente da Confindustria, a poderosa Associação Italiana das Indústrias, Luca di Montezemolo, não deve ter acreditado. Como o seu piloto, o mais bem pago da F1, cerca de 25 milhões de euros (R$ 85 milhões) por ano, aquele que quase sempre conta com as preferências da equipe, poderia estar se sentindo assim?

Suas palavras denotam tristeza, carências emocionais, falta de que o compreendam mais no grupo e sugerem até uma pontinha de isolamento na relação com a direção da Ferrari.

Aquela situação não poderia ficar sem uma resposta. E uma resposta à altura das necessidades sentimentais do piloto. Assim, a Ferrari distribuiu nesta quinta-feira um comunicado extra, além do que será emitido pela sua participação nos primeiros treinos livres no Circuito de Monte Carlo, em Mônaco.

Montezemolo fez questão de afirmar, na tentativa de, primeiro, mostrar ao seu piloto que não é o que está pensando, depois esclarecer que as críticas não vêm da cúpula da Ferrari e ainda para superar os elogios do presidente da Mercedes, afinal de contas seu concorrente: "Fernando é o melhor piloto do mundo", começou dizendo, para não haver dúvida do que pensa.

"Ele dá sempre 200% de si nas corridas. Sabe o quanto contamos com ele, mesmo fora das pistas, em termos do quanto seu ímpeto contribui para a equipe. Acho incrível que existam alguns autointitulados especialistas que não conheçam o nosso pensamento e estão sempre à procura de uma situação polêmica que simplesmente não existe."

Pronto, agora Montezemolo espera que Alonso, nutrido da verdade, continue a dar o seu melhor. E quem sabe a Ferrari consiga um resultado diferente do que a lógica de sua condição técnica deficiente indica ser possível na pista onde um grande piloto, como o espanhol, pode fazer a diferença.
 

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