Melhor vitória de Senna - segundo ele mesmo - completa 30 anos
Esqueça a aula de pilotagem na chuva em Donington Park em 1993. Ou a sofrida conquista no GP do Brasil de 1991. A vitória que o próprio Ayrton Senna considerava a sua melhor na Fórmula 1 faz 30 anos hoje.
E foi logo a primeira de suas 41, conquistada sob forte chuva no GP de Portugal de 1985, dia 21 de abril, quando o tricampeão ainda estava em sua segunda temporada na Fórmula 1 e corria pela Lotus. Quem garante o lugar especial que o triunfo tinha na memória de Senna é o jornalista inglês Nigel Roebuck, um dos poucos que estava cobrindo a prova no Estoril e que segue acompanhando o ‘circo’ até hoje.
“Quando perguntei a Ayrton se a vitória de Donington [em que foi de quinto a primeiro na primeira volta e venceu com 1min23 para o segundo colocado] havia sido sua melhor, ele disse: ‘Não! Claro que aquela foi boa, e não foi fácil – mas não foi como Portugal em 1985. Em Donington eu tinha um [motor] Cosworth, mas em Estoril tinha o Renault turbo – era muito mais potência! Mas a maior diferença é que agora temos controle de tração, e naquela época não...’”, lembrou o jornalista ao UOL Esporte.
“Eu poderia entender por que a vitória do Estoril na Lotus-Renault era tão importante para ele. Não foram muitas pessoas que estiveram lá para assistir, mas foi um daqueles dias em que todos tinham certeza, mesmo durante a prova, que estávamos assistindo a uma corrida destinada a construir uma lenda”, defende Roebuck. “Assisti à prova na primeira curva com Denis Jenkinson [um dos jornalistas mais respeitados da época] e lembro como ele estava exultante quando Senna cruzou a linha de chegada: ‘É um novo Villeneuve, não é? Um piloto que sempre está à frente de seu carro’”, comparou. Gilles Villeneuve, lenda da Ferrari entre os anos 1970 e 1980, era conhecido pela agressividade.
“Algum tempo depois eu mencionei isso a Ayrton, e ele ficou muito grato com a comparação com Gilles. ‘Mas não estava sempre à frente do carro. As condições estavam tão ruins que as curvas estavam mudando, volta após volta, e às vezes o carro está me conduzindo’”, revelou o brasileiro.
Dilúvio em Portugal
De fato, o GP da primeira vitória de Senna ficou marcada pelas péssimas condições de pista, que pegaram vários pilotos de surpresa. Era a segunda corrida do campeonato – e a segunda prova do brasileiro pela Lotus, depois de ter feito sua temporada de estreia na Toleman.
Ayrton largava pela primeira vez na pole position – o que se tornaria de praxe naquele ano, em que foi o primeiro na classificação em sete oportunidades – e a chuva começou a cair ainda antes da largada, após todas as sessões anteriores serem disputadas com pista seca. “Nos tempos de hoje as condições eram tão ruins que a corrida provavelmente começaria com Safety Car, mas na época nem se pensava nisso”, compara Roebuck.
Senna conseguiu sair bem e foi aumentando sua vantagem na ponta enquanto os rivais sofriam – no final da segunda volta já tinha 3s de distância para o segundo colocado. A água era tanta que, depois de 16 voltas, Jacques Laffite parou sua Ligier dizendo que o carro era inguiável em tais condições, e Nelson Piquet chegou a parar no box para colocar um macacão seco antes de também abandonar: os pneus Pirelli da Brabham do brasileiro não tinham um bom rendimento na pista. “Dentro do carro eu estava amaldiçoando Bernie [Ecclestone, chefe da equipe] por ter aceitado o dinheiro da Pirelli”, revelaria o piloto. Em determinado momento, até Senna passou a gesticular no carro, pedindo o fim da prova.
À medida que a chuva ia piorando, contudo, o brasileiro ia abrindo mais na ponta e mais rivais ficavam pelo caminho. Keke Rosberg, da Williams, e Alain Prost, da McLaren, bateram na caça ao brasileiro, que abriu meio minuto depois de 30 voltas. A prova seria encerrada no limite de 2h, duas voltas antes do fim, com Senna batendo Michele Alboreto por 1min02s978. Assim, fez um grand chelem – pole, volta mais rápida, vitória liderando todas as voltas da corrida - logo na primeira conquista da carreira.
"Foi sorte"
Mas o que poderia ser visto como uma pilotagem de outro mundo foi diminuída por Senna, então com 25 anos. O que ele consideraria sua melhor vitória nos anos seguintes não lhe pareceu tão fenomenal logo após a bandeirada. “O maior perigo era que as condições mudavam o tempo todo. Ás vezes a chuva apertava muito, às vezes nem tanto. Não conseguia ver nada atrás de mim. Era difícil até manter o carro na reta e certamente a corrida poderia ter sido paralisada. Em um momento eu quase rodei na frente dos pits, como Prost”, revelou.
“As pessoas estão dizendo que não cometi erros, mas não têm ideia de quantas vezes eu saí da pista! Em certo momento estava com as quatro rodas na grama, tinha perdido o controle... mas de certa forma o carro voltou para o circuito. Todos disseram ‘que controle fantástico’ mas foi só sorte – e sorte, também, que isso não apareceu na TV”, brincou.
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