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Berna descobre ser 'rei' de títulos e pôquer no Flu após quase aposentar

Ricardo Berna (d) deve alcançar a marca de 100 partidas pelo Fluminense em 2013 - Dhavid Normando/Photocamera
Ricardo Berna (d) deve alcançar a marca de 100 partidas pelo Fluminense em 2013 Imagem: Dhavid Normando/Photocamera

Renan Rodrigues

Do UOL, no Rio de Janeiro

28/05/2013 06h01

Sempre lembrado como jogador mais antigo no elenco do Fluminense, o goleiro Ricardo Berna também é detentor de uma marca bem mais importante na equipe carioca. Desde 2005 nas Laranjeiras, o camisa 1 é o atleta com mais títulos de destaque na história do Tricolor. São três conquistas nacionais - dois Brasileiros e uma Copa do Brasil - e um Estadual. Titular na estreia do torneio nacional, o jogador sonha agora com o título da Libertadores para completar o ciclo com uma taça internacional.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o goleiro comenta os altos e baixos nas Laranjeiras, admite que já pensou em buscar outro clube e que quase desistiu do futebol no começo da carreira. Além disso, conta que mesmo nascido em São Paulo, já era torcedor do Fluminense desde criança, e brinca ao comentar as disputas de pôquer na concentração do time. Confira abaixo todo o bate-papo com Berna:

UOL Esporte: Você está no Fluminense há oito anos e conquistou dois Brasileiros, uma Copa do Brasil e um Estadual. Já tinha pensando que é o atleta com mais conquistas importantes da história do clube?
Berna:
Não sabia. Foram torcedores que começaram a me abordar desta forma. Eu sabia dos títulos, claro, mas não tinha parado para pensar no sentido histórico. Quando alguns tricolores começaram a me falar, fui levantar essa informação e fiquei feliz demais em saber disso. Me identifico demais com esse clube. Tenho um compromisso particular com nosso torcedor, pois eu também sou torcedor, sempre fui. Particularmente é muito gratificante poder ter um rótulo como esse.

UOL Esporte: Depois de deixar o Guarani você rodou por clubes pequenos de São Paulo, como o Capivariano e São José. Chegou a pensar em desistir do futebol?
Berna:
Pensei em parar várias vezes. Minha família que me ajudava muito, minha esposa. Foi um momento muito difícil onde tive que acreditar muito no meu potencial e persistir. A parte financeira era complicada. Mas fiz uma leitura e percebi que era possível chegar em times grandes novamente, disputar um Campeonato Brasileiro de Série A, títulos internacionais. E que, para isso, teria que saber definir bem para onde eu iria me transferir quando tivesse a chance.

DISPUTA COM FRED NO PÔQUER DURANTE AS CONCENTRAÇÕES

  • UOL ESPORTE: Como são as disputas de pôquer na concentração com o Fred?
    Berna:
    Ninguém se compara ao meu nível (risos). Alguns caras tentam chegar perto, por exemplo, o Fred, que aposta alto. Mas eu falo ‘não quero ganhar seu dinheiro, vamos pela honra, se não vai ficar complicado’. Como a gente joga na concentração, quero ele bem para o jogo, não humilho tanto para ele não ficar abalado (risos). O Edinho também joga, mas eles estão atrás. Só que a gente tem tido tanto trabalho ultimamente que nem conseguimos jogar tanto.

UOL Esporte: Nos oito anos de Fluminense, além dos títulos, você também alternou momentos como titular e reserva. Pensou em mudar de equipe para atuar com mais frequência?
Berna:
 É natural, você sempre pensa isso [em procurar espaço]. É complicado falar sobre isso, estou focado, pensando no Brasileiro, não passa na minha cabeça nesse momento. Mas não vou mentir, o jogador pensa sim, quer estar sempre buscando as situações que vão lhe trazer maior benefício. Por trás de cada atleta sempre existe uma família, a preocupação de tentar oferecer conforto, pessoas que são dependentes.

UOL Esporte: Quais os objetivos com o Fluminense? Como vê as chances do time na Libertadores?
Berna:
Se a gente conquistar a Libertadores, já estaremos pensando no próximo passo. Uma carreira vitoriosa é construída dessa forma, temos que estar sempre pensando em vencer. Procuro não perder tempo na minha vida lamentando nada. Temos um adversário forte, uma tarefa difícil que é superá-los no campo deles. Até por isso, o professor Abel Braga fez com que todos ficassem só focados nessa tarefa e nos deu essa oportunidade de estrear no Brasileiro.

UOL Esporte: Qual fator foi fundamental para permanecer por tantos anos no Fluminense?
Berna:
 Acho que, acima de tudo, primeiramente minha vontade. Claro que tive que desempenhar bem meu papel para que os contratos fossem renovados. Mas minha vontade foi fundamental. Graças a Deus, depois da oportunidade que tive no América-MG, o Fluminense gostou do meu trabalho. Me procuraram e eu soube escolher também, tinha outras oportunidades. E a vontade prevaleceu, mesmo que naquele momento fosse para compor elenco. Era para ter vindo dois anos antes, em outra oportunidade, mas não deu certo por motivos que nem vale a pena falar. Era um pouco pessoal vir para o Fluminense e conquistar títulos.

UOL Esporte: O técnico Abel Braga sempre aponta o trabalho do Marquinhos [preparador de goleiros] como um dos fatores pelo bom momento do Cavalieri e demais goleiros. Como é a relação com ele?
Berna:
 Ele é meio carrasco, né? É sacrificante, mas importante para sempre estarmos aprimorando nossa forma física e estarmos aptos para desenvolver um bom papel dentro de campo. Eu passo mais tempo com ele do que com minha filha e minha esposa. O grupo é muito tranquilo, todos se respeitam muito, não tem nenhum tipo de problema. O trabalho é feito da melhor maneira possível e todos cumprem muito bem sua função aqui no Fluminense.

UOL Esporte: Como é disputar posição com o Diego Cavalieri, que vive grande momento e foi convocado à Copa das Confederações?
Berna:
 Não disputo com o Cavalieri, disputo comigo mesmo, com meu melhor nível. Se o profissional que escala não entende que meu momento é o melhor, tenho que acatar, ele está lá para isso. Procuro ser o mais profissional em relação a isso, respeito a condição dos outros jogadores e procuro meu limite sempre. É difícil manter um nível muito elevado, assim como ninguém fica por baixo muito tempo.

UOL Esporte: Quais jogadores passou a admirar e manteve amizade nesse período no Fluminense?
Berna:
 São vários, mas um é o Roger [auxiliar técnico do Grêmio], que fez o gol do título na Copa do Brasil. Ele dividia o quarto comigo e naquele dia acordou e falou 'não sei, acho que vou fazer um gol hoje’. E eu ainda provoquei, falei ‘você é jogador de defesa, fica lá atrás só e está ótimo’. Mas no final ele estava predestinado para aquilo mesmo. O Luiz Alberto acabou sentindo uma lesão e ele foi para o jogo. Mas comentei sobre o Roger principalmente pelo profissionalismo dele. 

UOL ESPORTE: Você fala sempre como torcedor do Fluminense, mas sua família é de São Paulo. Como começou essa relação? Era torcedor quando criança mesmo?
Berna:
Minha família toda é corintiana, meu pai é corintiano roxo, mas quando comecei a assistir futebol na televisão, acompanhar com mais atenção os craques, assistia com meu pai. Um dia jogaram Corinthians e Fluminense, e ele me perguntou de quem eu estava gostando mais. Comentei que era o time da roupa colorida e ele respondeu ‘então você torce para o Fluminense’. Gravei aquilo e comecei a acompanhar conforme fui crescendo. Claro que torcia com meu pai para o Corinthians também, mas por ter ‘escolhido’ o Fluminense, tinha essa relação diferente. No momento da saída do América-MG, tinha três outras oportunidades e isso acabou prevalecendo, pesou bastante também. Consegui realizar um sonho de pequeno.

UOL Esporte: Como assim?
Berna:
Onde passou foi vitorioso. Mesmo na hora de encerrar a carreira mostrou muito do caráter e aquilo me marcou. Ele poderia continuar insistindo para cumprir contrato, tinha convite de vários clubes, foi para os EUA onde seria capitão, ganharia dinheiro, mas foi de um caráter fenomenal. Abriu o jogo lá dizendo que não poderia render o melhor pelas limitações físicas. E ainda teve outra proposta do Palmeiras quando voltou ao Brasil, que também não aceitou. Isso foi um espelho para mim, até uma guinada que dei na minha carreira.

'EX-CORINTIANO', TORCIDA PARA O FLUMINENSE COMEÇOU DESDE CEDO

UOL Esporte: E a relação com o Fred? Como é a liderança dele?
Berna:
A chegada do Fred foi fundamental para o crescimento do Fluminense. Muitas coisas que aconteceram aqui se iniciaram na chegada dele. Um jogador que sempre pensa positivo, procura olhar também a condição dos companheiros. Um líder nato, não é a toa que é nosso capitão. Poderia ficar falando vários nomes, mas os dois jogadores que vem à mente como referência são ele e o Roger.

UOL Esporte: O que gosta de fazer quando não está treinando, os interesses fora do futebol?
Berna:
 Eu tenho tanto livro que não li ainda. Eu gosto de comprar, sou viciado, mas tempo para ler é difícil. Mesmo nas viagens, procuro sempre ter outras atividades, não fico parado. Em casa até brincam comigo, falam que eu sempre estou calculando tempo. Mastigo duas vezes, porque se mastigar três vou perder tempo. Sou curioso, estudioso, mas teimoso também. Gosto de procurar aplicativos, assistir filmes também. Apesar da minha esposa dormir toda vez (risos). Estar com amigos sempre é bom também.

UOL Esporte: Já pensa no que fará quando se aposentar? Quer seguir no meio do futebol?
Berna:
 Conforme o tempo vai passando a gente vai pensando cada vez mais. Engraçado (risos). Até o ano passado, quando me faziam essa pergunta, respondia ‘não, não sei muito’. Esse ano eu sei mais um pouquinho, mas ainda não sei não. Tenho que pensar sobre esse momento.

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