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Colombiana que teve perna amputada sonha com prótese para voltar ao futebol

08.04.14 - Jogadora de futebol colombiana Yady Fernández, que perdeu parte da perna em um acidente - AFP PHOTO / RODRIGO BUENDIA
08.04.14 - Jogadora de futebol colombiana Yady Fernández, que perdeu parte da perna em um acidente Imagem: AFP PHOTO / RODRIGO BUENDIA

Das agências internacionais

Em Puerto Hondo (Equador)

08/04/2014 15h57

Yady Fernández se move em uma cadeira de rodas, com a perna esquerda amputada, por uma casa que não é sua, nos arredores de Guayaquil, Equador. Um motorista bêbado colocou essa jogadora de futebol colombiana em drama que comoveu até mesmo Joseph Blatter, presidente da Fifa.

Com 23 anos, Fernández deveria estar nessa época nas Ilhas Canárias, na Espanha, jogando com sua equipe, o Club Deportivo Chamán. Ali, “as meninas”, como ela chama suas companheiras, a esperavam para disputar o acesso à primeira divisão do futebol feminino espanhol. Jogava como segundo volante antes que seus planos mudaram repentinamente.

“Jogaria pelo acesso. As meninas da equipe já jogaram e perderam. Será em outro ano”, afirma, resignada, em entrevista à AFP na modesta casa de sua tia em Puerto Hondo, nos arredores de Guayaquil.

Ex-jogadora da seleção feminina colombiana e órfã de pai, Fernández chegou ao Equador por convite de um familiar. No domingo de 16 de fevereiro ela saiu de moto com seu primo, um cirurgião colombiano de 37 anos, para Montañita, uma praia de surfistas.

“Um carro invadiu nossa pista. O motorista, me disse a polícia, estava bêbado. Não me lembro de nada. Meu primo, que dirigia, morreu ao ter a perna amputada e perder muito sangue”, relata.

Já no hospital, ficou sabendo do tamanho da tragédia. “O médico me disse: ‘Yady, tenho más notícias. A primeira é que seu primo está morto e a segunda é que você perdeu a perna, mas o importante é que está viva’. Eu disse: ‘não, não não... como pode estar morto?’ Não chorei. Estava tão sedada que dormi.”

Ela nunca gagueja. Fala rápido, sorri e raramente expressa raiva. Sentada na cadeira de rodas, com parte da perna amputada à vista, e os lábios levemente pintados, transmite um otimismo difícil de assimilar em uma jovem que foi operada três vezes, e suporta dores intensas pelas sequelas do acidente.

“Meu sonho é voltar ao futebol, marcar, correr, tenho muito pique. A ideia é ter uma boa prótese que me permita voltar a jogar”, disse a esportista horas antes de viajar à cidade colombiana de Palmira, onde iniciará o processo de reabilitação a partir desta terça-feira.

O caso desta esportista, que perdeu a Copa do Mundo Feminina de 2011 por uma lesão de ligamentos e meniscos na mesma perna que seria amputada depois, emocionou o mundo do futebol e motivou campanhas de solidariedade nas redes sociais, mobilizando o governo colombiano.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, escreveu em sua conta no Twitter: “Minhas orações estão contigo em sua recuperação”. Segundo a atleta, o colombiano Reinaldo Rueda, técnico do Equador, se converteu em seu “anjo protetor”.

A jovem se viu envolvida em um dos 80 acidentes de trânsito que acontecem diariamente, em média, no Equador, e que em 2013 deixaram 2.277 mortos e mais de 20 mil feridos, segundo os dados oficiais.

“Suspeitamos que o acusado pelo acidente estivesse sob efeito de álccol”, disse à AFP o investigador do caso, Jorge Torres. O suposto responsável, um ex-militar, que depois da batida disse que haviam roubado seu veículo, fugiu do local e nos próximos dias será acusado formalmente e pode pegar até 12 anos de prisão.

Entretanto, Fernández se pergunta como uma pessoa que matou seus sonhos e causou luto a sua família não está presa. “Eu estava bem e agora tenho que lutar para voltar a andar. É duro. Sem contar toda a dor que senti.”

Admiradora da brasileira Marta e do argentino Lionel Messi, a atleta deixou de buscar notícias sobre seus ídolos para se concentrar em histórias como a do ex-atacante uruguaio Darío Silva, que voltou a praticar futebol depois de ter a perna direita amputada em um acidente de trânsito. “Com uma boa prótese, poderei jogar outra vez. Será fácil, porque sou destra e não preciso ensinar a perna direita a chutar”, diz ela.

Fernández espera regressar em maio à Espanha, país para o qual migrou aos 12 anos e onde sua mãe trabalha em uma quitanda. Antes do acidente, planejava estudar assistência social, mas agora aproveitará uma bolsa que ofereceram na Colômbia para estudar fisioterapia antes de fazer a viagem que, espera, represente seu regresso ao futebol.