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O que a Alemanha tem a ensinar para o Brasil um ano depois de 7 a 1?

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

08/07/2015 06h00

Não foi um 7 a 1, mas a Alemanha também viveu seu vexame particular antes de tornar-se campeã mundial. E ela tem lições a dar ao Brasil. A revolução interna que fez os germânicos dominarem o futebol passa pela implantação de uma filosofia única na base e paciência. Muita paciência.

Os fracassos que motivaram os alemães foram a derrota para a Croácia nas quartas da Copa de 1998 (3 a 0) e a eliminação na primeira fase da Eurocopa de 2000, com apenas um empate em três jogos. A partir daí, a CBF deles, a DFB, convocou os clubes e iniciou o processo de mudança.

“O futebol no país mudou muito com a mudança na lei dos estrangeiros, na década de 1990, que permitiu a contratação de vários jogadores de outros países. Existia uma necessidade de se aprimorar a formação dos jogadores. O presidente da DFB chamou os presidentes de clubes e criou um método que seria seguido por todos e que culminaria na geração que ganhou a Copa”, disse Oliver Hartmann, jornalista alemão da revista Kicker.

O repórter explica que os dirigentes beberam na fonte de países como Espanha e França, que tinham centro de treinamento exclusivos para suas seleções, mas não se limitaram a isso. A ideia era modificar o modelo de jogador que os clubes formam em suas categorias de base. Para isso, criaram uma metodologia a ser aplicada nas escolas de técnicos do país, que levariam essa teoria para os campos.

"O processo de detecção de talentos na Alemanha não é muito diferente do Brasil, acontece nas escolas. O que difere é o conteúdo repassado, que é ensinado de forma praticamente padrão, devido à formação padrão dos técnicos. Esse fato propicia um desenvolvimento homogêneo e eficiente. A ideia inicial do projeto era colher frutos em dez anos, ou seja, qualificar a próxima geração. O resultado é essa nova safra de jogadores como Mario Götze, Andre Schürlle, Thomas Müller, Marco Reus e outros tantos", disse explicou Fabio Eidelwein, brasileiro que cursou a escola de técnicos do país e hoje trabalha no futebol tailandês, em entrevista à "Universidade do Futebol". 

“Me lembro que tinham reuniões de cada representante da base de cada clube a cada 60 dias. O que se comentava é que iam implantar esse sistema geral em todos os clubes, para que quando ele chegasse na seleção principal todos estivessem com o mesmo objetivo”, relembra Lincoln, meia que atuou na Alemanha de 2001 a 2007.

As diretrizes técnicas partiam da cúpula da DFB e estavam relacionadas aos interesses da seleção, objetivo final do processo. Hartmann ressalta que Klinsmann trouxe muitas novidades ao projeto quando assumiu a Alemanha em 2004, com Joachim Low, atual treinador do time, como assistente-técnico.

“É muito importante falar que em 2006 sai o Klinsmann e entra um técnico que conhecia esses jogadores. E esse trabalho continuou dando sequência. São 12 anos de trabalho de valorização dos atletas. Colheu os frutos desses 12 anos visando a reestruturação dos atletas”, disse Paulo Sérgio, que jogou na Alemanha entre 1993 e 1997 e depois de 1999 a 2002, essa última passagem no Bayern de Munique.

E onde o Brasil entra nessa história? Como a Alemanha, o tradicional país questiona a qualidade dos seus jogadores e do futebol praticado no país, que reflete em maus resultados da seleção. A revolução tupiniquim não precisa, vale ressaltar, seguir os mesmos parâmetros dos germânicos.

“Eu não acho que o Brasil precise copiar a Alemanha, embora eu não conheça o seu país para dizer o que exatamente poderia ser feito. Até porque o modelo da Alemanha já não é necessariamente o melhor. Joachim Low, por exemplo, está olhando com muita atenção para a Bélgica e o que ela vem fazendo”, ressalta Hartmann.

É preciso, no entanto, fazer alguma coisa. E a unidade de trabalho que passa pela criação de uma metodologia para a formação de atletas é um dos caminhos possíveis.