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Porrada, dor de barriga e portada na cara: histórias de 15 min de intervalo

Jefferson e Mariano já se envolveram em histórias até perigosas nos intervalos - Montagem com fotos de Luciano Belford/SSPress e Photocamera
Jefferson e Mariano já se envolveram em histórias até perigosas nos intervalos Imagem: Montagem com fotos de Luciano Belford/SSPress e Photocamera

Luiza Oliveira e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

26/10/2015 06h00

O horário do intervalo é aquele alívio para o torcedor nas arquibancadas. É hora de esquecer o pênalti que o juiz não marcou, aquele gol que o seu atacante perdeu, ir ao banheiro, comprar uma cerveja... O momento certo para dar uma relaxada. Para jogadores e técnicos, no entanto, a pausa de 15 minutos é de muito trabalho no vestiário, onde quase tudo pode acontecer.

Todo mundo tem curiosidade, mas ninguém fica sabendo o que rola dentro do vestiário. O UOL Esporte conversou com técnicos e auxiliares do futebol brasileiro e descobriu que o intervalo pode render muitas histórias inusitadas e que cada minuto é valioso na corrida contra o tempo para acertar o time nos 15 minutos. E cada segundo pode ainda ser mais precioso quando parte do tempo é desperdiçado com imprevistos que todos preferem nem lembrar.

Técnicos lutam contra o tempo

O árbitro apita sinalizando o fim da primeira etapa, e já começa uma luta contra o relógio para o técnico e seus auxiliares. O tempo é tão apertado que na maioria dos estádios já existem cronômetros dentro dos vestiários para que o horário seja calculado com precisão. Atrasos para o time voltar a campo não são permitidos, sob o risco de multa.

Em poucos minutos, os técnicos precisam avaliar os 45 minutos de jogo, selecionar estatísticas e montar uma ‘mini-preleção’. Mas para eles começarem a dar as instruções para os atletas é preciso esperar as entrevistas e todos os procedimentos médicos envolvendo os jogadores. "O momento dos 15 minutos de intervalo é curto, mas muito importante. Na verdade, você não tem 15 minutos, você tem seis minutos", diz o técnico Hélio dos Anjos. "É uma luta contra o tempo, tem muito pouco tempo para fazer muitas observações", conta o também treinador René Simões. 

Dor de barriga

Muitos imprevistos também acontecem no intervalo. Hoje auxiliar do técnico Muricy Ramalho, Tata conta que na época em que era jogador atuou pelo Santos em uma partida contra o Remo, em Belém. Na ocasião, o time chegou a voltar a campo com dez atletas por causa de uma dor de barriga.

“Eu já vi jogador ir para o vestiário correndo para o banheiro, depois eu procurei o cara e só tinha dez em campo. A gente foi para o vestiário normalmente. Aí quando começou o segundo tempo, meti uma bola para o Ailton Lira e ele devolveu para mim, aí eu procurei o Edu (ponta esquerda) e não achei ele no campo. Daqui a pouco eu olho e ele está saindo do túnel. Eu acho que ele fez (necessidades) no túnel mesmo (risos). Isso foi em 76 ou 77, por aí. Aí eu perguntei para ele: ‘onde você estava’? Ele respondeu, deu dor de barriga (risos).”

Porrada

As discussões e brigas com direito a porrada são bem comuns no intervalo, segundo os relatos de vários técnicos. Mas uma chamou a atenção do treinador René Simões envolvendo o lateral direito Mariano, quando ele ainda jogava no Fluminense.

“O lateral direito Mariano veio do Atlético-MG e foi para o Fluminense. Ele era muito engraçado e todo mundo sacaneava muito. Ele jogava muito, mas não conseguia ser titular. Virei para ele e falei: ‘olha, você joga bem, mas não vai conseguir jogar enquanto for o bobo da corte. Todo mundo te sacaneia, faz tudo. Enquanto você não xingar uns dois ou três, não vai ser respeitado’. Fomos jogar na Paraíba pela Copa do Brasil. Aí deu o intervalo, vi ele e o Fabinho indo para o vestiário errado. Quando vi, os dois estavam na porrada mesmo. Eu dei um esporro e perguntei o que houve. ‘Ele veio falar coisa para mim e eu xinguei’. Só que o Fabinho era o capitão, ele ficou louco e disse que tinha que ser respeitado. Eu falei: ‘Mas você xingou o cara errado’. Mas depois disso ele passou a ser respeitado, foi eleito o melhor lateral direito do Brasileiro”.

Portada na cara

No intervalo já aconteceu até de jogador se machucar mesmo sem se envolver em briga. O goleiro do Botafogo e da seleção brasileira Jefferson cortou o supercílio e precisou levar ponto por causa de uma ‘portada na cara’ em um jogo contra o Ceará.

“Fizemos a preleção e os jogadores fizeram a reunião deles dentro do vestiário atrás da porta no Castelão. O quarto árbitro veio e pediu para o segurança abrir a porta. A porta abriu e bateu na cabeça do Jefferson, cortou, precisou dar ponto. Até atrasou o reinício do jogo”, contou René Simões.

Nada de celular: ordem é desconectar do mundo

Todo mundo vive grudado no telefone celular hoje em dia. Vídeos, redes sociais e aplicativos como o WhatsApp são parte da vida das pessoas comuns e dos jogadores também. Mas no intervalo de jogo a regra é manter distância do telefone. O jogador não pode perder tempo nem se desconcentrar caso receba uma notícia ruim. René Simões, por exemplo, conta que certa vez estava descendo para o jogo e recebeu uma notícia de que um amigo estava sofrendo um infarto e o socorro não havia chegado. “Imagine como eu fiquei no jogo. Agora pensa se é jogador?”.

Silas tem o mesmo pensamento. “Quando vier para a preleção, desliga o telefone e só liga quando acabar o jogo, porque você pode receber uma notícia ruim da ida do hotel para o estádio e você não vai poder fazer nada, só vai atrapalhar dentro do campo.” Já Muricy Ramalho considera até falta de respeito com o treinador. “Nunca vi isso, é até uma questão de respeito comigo. O intervalo é momento de concentração e instrução”, conta.

Erro na substituição

René Simões conta uma outra história engraçada quando treinava a seleção olímpica do Irã e enfrentou a Tunísia. No intervalo, o técnico decidiu fazer uma substituição e foi conversar com o jogador com jeito para que ele não ficasse chateado. Foi então que ele disse para o jogador Merdi Poladir que ele havia atuado bem, mas que precisava dar uma mexida no time. O tradutor iraniano, ao ouvir os elogios, não entendeu que era para o atleta sair e não o avisou. Assim, o atleta voltou para o campo normalmente com os outros jogadores e também com o seu substituto. O árbitro não percebeu e o time recomeçou a partida com 12 em campo.