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Copa América passa à margem de manifestações e dá alívio à Conmebol

Manifestantes pedem saída de Bolsonaro durante ato em Brasília - Marinho Saldanha/UOL
Manifestantes pedem saída de Bolsonaro durante ato em Brasília Imagem: Marinho Saldanha/UOL

Marinho Saldanha, Bruno Braz e Eder Traskini

Do UOL, em Brasília (DF), Cuiabá (MT) e Goiânia (GO)

19/06/2021 14h15

O dia 19 de junho está sendo marcado por diversas manifestações no Brasil, e até fora dele, contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Atos nas capitais reúnem milhares de pessoas para protestar sobre os mais diversos temas, com foco na chegada à marca de 500 mil mortos pela covid-19 no país. Apesar do temor de patrocinadores e organizadores, a Copa América acabou "esquecida" em meio a tantos pleito.

Em Brasília, houve uma carreata pelas principais ruas da cidade e uma grande caminhada da Biblioteca Nacional até o principal ponto de concentração, no Congresso Nacional. No caminho, faixas de vários movimentos apareceram. Pleitos LGBTQI+, feministas, indígenas, de partidos políticos, de pessoas sem identificação mas descontentes com o governo e, principalmente, pedidos por vacinação e impeachment do presidente Bolsonaro tomaram as ruas e a Esplanada dos Ministérios.

A Copa América, porém, ficou em segundo plano. Não houve cartazes ou citações no carro de som que puxava os gritos contra o Governo Federal. Duas seleções ainda estavam em Brasília pela manhã: Argentina e Uruguai, que jogaram ontem (18). Não houve, porém, registro de qualquer protesto nas cercanias dos hotéis que serviam como concentração, ou do estádio Mané Garrincha.

Em Goiânia, o protesto se iniciou na Praça Cívica e foi até a Praça do Trabalhador, cerca de 2,5 km distante. A principal fala foi contra o presidente Jair Bolsonaro. Gritos de "genocida" e "vacina já" foram os mais entoados.

Assim como em outras sedes da Copa América onde esteve o UOL Esporte, não houve qualquer menção à Copa América no protesto da capital goiana, que reuniu entre mil e cinco mil pessoas — números da polícia e da organização, respectivamente. O estádio Olímpico estava próximo ao local de concentração dos manifestantes, mas foi ignorado.

Protestos tomam as ruas de Goiânia em dia de manifestações pelo Brasil - Eder Traskini/UOL  - Eder Traskini/UOL
Imagem: Eder Traskini/UOL

Em Cuiabá (MT), outra sede da Copa América, as manifestações começaram por volta das 9h na Praça Alencastro, passaram pelo Sesc Arsenal sentido Santa Isabel e voltaram para a Praça Alencastro. Com um carro de som e instrumentos de percussão, o protesto teve diversas faixas e cartazes contra o governo do Presidente da República, Jair Bolsonaro.

O roteiro da manifestação não incluiu a Arena Pantanal, local onde estão acontecendo os jogos da Copa América. Também não foi verificado pela reportagem do UOL Esporte nenhum protesto específico contra a realização da competição. Um grupo de corintianos esteve presente no ato com menções à organizada "Gaviões da Fiel" e à "Democracia Corintiana", organização que aconteceu na década de 80.

Brasília e Cuiabá não divulgaram números de participantes dos eventos até o fechamento desta matéria.

No Rio de Janeiro, o grupo "Torcedores pela Democracia" foi a única relação do futebol com as manifestações. O movimento, porém, não tratou diretamente da competição de seleções. Ainda que em grande escala pela cidade, os pleitos repetiram outras sedes da Copa América.

Manifestação contra o Governo Federal nas ruas de Cuiabá (MT) - Bruno Braz/UOL - Bruno Braz/UOL
Imagem: Bruno Braz/UOL

Pressão virtual, patrocinadores e temor

A Copa América foi cercada por temores. Três patrocinadores da competição — Mastercard, Ambev e Diageo — desistiram de ativar campanhas, embora tenham mantido contratos. Nas redes sociais, a campanha contra o torneio foi muito forte, em razão da crise sanitária no país. A seleção brasileira sentiu bastante essa pressão, sendo arrastada para o centro do debate político brasileiro.

Organizadores e empresas temiam que a competição entrasse na pauta de manifestações como as de hoje. Porém, para alívio da Conmebol, isso não aconteceu na proporção que chegou-se a imaginar.

No dia da estreia da competição, a entidade sul-americana, por exemplo, publicou uma "carta aberta" justificando os jogos no Brasil.

Os jogadores da seleção brasileira se postaram contrários à realização do torneio, mas descartaram um boicote. Atletas de outras seleções, como Luís Suárez, do Uruguai, também se posicionaram contra os jogos. Foi aberto um expediente disciplinar contra Marcelo Moreno, da Bolívia, pelas críticas em entrevista coletiva.

Mas houve também personagens da competição totalmente favoráveis. Na Venezuela, o técnico Jose Peseiro comparou a realização da competição a jogos de Libertadores, Sul-Americana e Eliminatórias. Ontem após o jogo, o técnico uruguaio Óscar Tabárez, perguntado sobre os 500 mil mortos que o Brasil se aproxima de ter, minimizou.

"Jogar aqui é como jogar no Uruguai, na Venezuela, na Colômbia, em qualquer país. Os números assustam, mas temos que considerar a grande população que tem o Brasil. Estamos em um momento duro no mundo todo. Sabemos que há risco de todos os lados, e estamos seguindo os protocolos que a Conmebol impõe. Creio que isso está definido, não vale a pena comentar isso quando o torneio já é uma realidade. Verdadeiramente não sabemos o que pode acontecer, mas isso também acontece em outras atividades. É quase uma questão de sorte se contagiar ou não", afirmou o "Maestro".

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