Sobre meninos e porcos - Episódio 5: 'Chumbo de caça'
Em 1988, um jovem atacante chamado Viola virou herói ao marcar o título do Corinthians contra o Guarani na final do Campeonato Paulista. Dois anos depois, ele foi esmurrado no vestiário do Pacaembu. No dia 12 de agosto, o Corinthians empatou com o Santos e corria o risco de não chegar à final do Paulista de 1990. Viola foi considerado um dos piores em campo. Ao final da partida, um torcedor se aproximou calmamente. Em vez de pedir um autógrafo, deu um soco na boca do atacante.
O agressor era Edmar Bernardes, um líder respeitado da Gaviões da Fiel. Figura controversa da organizada corintiana, "Gordo", como era conhecido, se equilibrou entre a dedicação à torcida e o mundo do crime.
Essa e outras histórias você escuta em "Sobre meninos e porcos", a terceira temporada do podcast "UOL Esporte Histórias". O quinto episódio foi lançado hoje e você pode conferi-lo no player acima e nas principais plataformas de áudio. O episódio 6, último desta temporada, será publicado em 05 de janeiro de 2022.
É de Edmar a autoria do lema usado até hoje pela Gaviões: "Lealdade, Humildade e Procedimento". Textos em sua homenagem estão espalhados por sites sobre ao Corinthians. Lideranças que o conheceram defendem enfaticamente seu legado. Afirmam que "Gordo" nunca levou questões "pessoais" para dentro da Gaviões.
De fato, não há provas de que Edmar tenha usado a organizada para práticas criminosas. Mas uma série de suspeitas e questões mal explicadas levantam dúvidas sobre a participação dele em um caso famoso: o assassinato de Cleo Dantas, fundador da Mancha Verde, morto a tiros em 17 de outubro de 1988.
A rixa e as brigas protagonizadas por "Gordo" e Cleo levaram o corintiano a se tornar o principal suspeito da morte do palmeirense. Sua ficha criminal e seu passado chamavam a atenção. Em 1987, Edmar foi preso com três pessoas suspeitas de fazer parte de um grupo de traficantes de cocaína que teriam ligação com o italiano Ítalo Antonio D'Alessandro, conhecido como "Gringo". O estrangeiro estaria tentando criar uma rota de tráfico de cocaína de São Paulo até Roma, onde a carga seria recebida por membros da máfia italiana.
Edmar estava na casa quando a polícia chegou e acabou detido também. Foi solto um mês depois, respondeu às acusações em liberdade, foi condenado, voltou para a cadeia e finalmente foi absolvido, em segunda instância, por falta de provas.
"Dentro da Gaviões, o Gordo era uma das nossas maiores lideranças. O problema que ele tinha na vida particular, ele nunca trouxe pra dentro da Gaviões. Isso que é importante sempre salientar", diz José Cláudio de Almeida Moraes, o "Dentinho", ex-presidente da torcida e amigo pessoal de Edmar. "Ele era um cara muito ideológico a nível de história."
Além do envolvimento com tráfico de drogas, os investigadores levaram em conta o histórico de "Gordo" relacionado ao futebol. Viola não foi o primeiro jogador agredido pelo torcedor.
Em 1987, em uma aberração estatística, o Corinthians tinha um atacante que também se chamava Edmar Bernardes. O outro Edmar, o torcedor, também resolveu usar os punhos e agrediu o xará para "incentivá-lo".
Era um comportamento do qual Edmar se orgulhava. Pouco depois de bater em Viola, ele deu uma entrevista ao jornalista Cosme Rímoli e atribuiu a melhora do desempenho do atacante Edmar no Paulista de 1987 ao murro. Sobre Viola, "Gordo" disse o seguinte: "No Viola eu bati porque ele ofendeu uma nação. Nem que eu tivesse de esperar dois mil anos eu daria um murro na cara dele. Muitos amigos meus vão ficar com inveja porque queriam ter batido nele antes de mim".
Sobre o assassinato de Cleo, Edmar apresentou um álibi à polícia. Em seu primeiro depoimento, o torcedor afirmou que estava preso no dia da morte do palmeirense. Isso eliminaria, ao menos, a hipótese de que ele tivesse puxado o gatilho ou a de estar no Escort branco usado pelos assassinos.
"Gordo" só foi ouvido pela polícia quase dois anos após o crime, em agosto de 1990. Em seu depoimento, confirmou que brigou com Cleo várias vezes e ainda acusou o palmeirense de ser o responsável pela introdução da arma de fogo nas brigas de torcida.
Edmar Bernardes morreu pouco depois, em 1991. O assassinato de Cleo nunca foi solucionado.
Sobre meninos e porcos
"Sobre meninos e porcos" é a terceira temporada do premiado podcast "UOL Esporte Histórias", que conta a história de como as torcidas organizadas saíram da festa e chegaram à violência. O relato é centrado no assassinato de Cleo Sóstenes Dantas nos anos 1980, considerado o marco da chegada das armas de fogo às brigas de torcida. Você pode conhecer essa história, que os repórteres Adriano Wilkson e Daniel Lisboa investigam há um ano, em um podcast de seis episódios.
- 1: Respeito é pra quem tem
- 2: E ninguém vai me segurar
- 3: Sangue derramado
- 4. Calibre 38
- 5. Chumbo de caça
- 6. Sem saída
Os podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts e em todas as plataformas de distribuição. Você pode ouvir "UOL Esporte Histórias", por exemplo, no Spotify, na Apple Podcasts e no Youtube.
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