Topo

MMA


Campeão do TUF Brasil faz da luta contra síndrome do pânico um exemplo

Antônio "Cara de Sapato" durante treino do UFC Barueri na Arena Palestra - Reinaldo Canato/UOL
Antônio "Cara de Sapato" durante treino do UFC Barueri na Arena Palestra Imagem: Reinaldo Canato/UOL

José Ricardo Leite e Maurício Dehó

Do UOL, em São Paulo

20/12/2014 06h00

Faixa preta de jiu-jitsu e dois títulos mundiais na luta com pano. Boxe afiado treinado por Luiz Dórea, considerado o melhor técnico brasileiro da modalidade e que tutorou Acelino Popó. Quatro lutas no MMA, todas com vitória. Alto, forte, 1,85 m e 93 kg. Campeão do reality show The Ultimate Fighter Brasil 3 e carreira promissora no UFC, maior organização de artes marciais mistas do planeta.

Uma das primeiras sensações ao ver tais características é que não seria nada legal encontrar esse sujeito na rua. Outra é a de ser um brutamontes associado só à força e que não tem medo de nada. Mas o meio-pesado Antônio Cara de Sapato não tem nada a ver com isso. Simpático, de fala mansa e sempre sorridente, não tem melindro ao comentar sobre um problema que chega a ser difícil de imaginar em alguém que lida com uma rotina de pancadaria, pressão e tensão: a síndrome do pânico.

Cara de Sapato passou a conviver com a doença a partir de 2011, quando o ex-lutador Rufino Gomes, um de seus melhores amigos, foi assassinado a tiros em João Pessoa. Ficou traumatizado com a perda e passou a fazer tratamento psicológico e com remédios após os surtos proporcionados pela doença. É medicado até hoje.

Enquanto muitos dos que sofrem o problema têm medo de expô-lo, o lutador faz questão de falar sobre o tema com orgulho pela luta e superação. Fala com a empolgação de quem pode ajudar e incentivar quem sofre do problema por meio de seu exemplo. E quer ter a oportunidade de poder conversar com pessoas que possuem a doença.

Eu fico feliz de poder ajudar e dar entrevistas sobre essa história. É legal, tudo que eu puder fazer pra ajudar pessoas que têm ou tiveram a doença, farei, pois realmente sei o quanto é difícil tudo o que eu passei. Ainda não dou palestras, mas é uma excelente ideia e quero sim poder fazer um trabalho direcionado a isso”, comentou, em entrevista ao UOL Esporte.

O campeão do TUF Brasil 3 incentiva as pessoas a procurarem tratamento em detrimento a não aceitar que os surtos psicológicos que geram medo sejam uma doença. E diz que conseguiu melhorar nos últimos anos graças à ajuda de toda a família e amigos.

“Essa questão da síndrome do pânico foi algo muito difícil pra mim. Mas graças a Deus consegui vencer e passar por isso. O importante é sempre a força de vontade de não se entregar naquele momento, naquilo tudo, de querer sair e mudar a situação”, falou.

“Tem que ter pessoas que você ama, amigos e familiares que lhe entendam. E buscar a parte profissional, como terapia e a medicação também, como foi meu caso. Isso é muito importante. É essencial para passar por isso de uma forma mais branda. E, sem dúvida nenhuma, passa. Eu faço um esporte que a tensão está o tempo todo envolvida. E consigo tentar canalizar isso pra lutar bem”, continuou.

Apesar do problema, o paraibano consegue se controlar e nunca sofreu em dias de luta.” Quando estou na luta, por incrível que pareça, nada acontece. Eu fico muito focado ali pra que tudo aconteça da melhor forma.”

O novo Cara de Sapato

A volta da “versão meio-pesado” do paraibano terá pela frente no sábado, no UFC Barueri, um rival que é respeitado no UFC. Patrick Cummins estreou no UFC 170, quando foi chamado de última hora para substituir Rashad Evans na luta contra Daniel Cormier. O norte-americano perdeu para Cormier, mas venceu suas duas lutas seguintes. É considerado um teste duro.

“Tenho estudado muito, tentado fazer uma leitura do jogo dele. O Patrick é um excelente wrestler e é bem visto pelo UFC, então essa luta foi bem casada”, analisa o brasileiro. Os treinos com Júnior Cigano, seu parceiro de velha data, ajudaram na preparação.

A diferença pós-TUF é que ele trocou Salvador pelo Rio de Janeiro com Cigano. Eles passaram a treinar na Nova União, e isso deu novo fôlego à dupla. Foi a chance de Cara de Sapato respirar novos ares depois de uma temporada agitada com o TUF.

 “Fiz sete lutas em um ano, três antes e quatro já pelo TUF. Foi uma maratona. Esse tempo que tive afastado foi essencial para mim, pude me recuperar de lesões. De um ano para cá, mudou muita coisa. O título foi inesperado, mas algo que eu desejava muito, e agora mudei para o Rio, onde tem uma quantidade maior de pessoas boas, de qualidade. Isso me proporcionou um amadurecimento grande profissionalmente e na vida pessoal”, afirma ele.

Como sempre diz, Cara de Sapato se vê pronto para uma guerra contra Cummins. E garante que com o que tem em sua frente nos treinos, não precisa temer ninguém. “Apanhar do Cigano tem me feito evoluir bastante”, ri o meio-pesado.