Duda Yankovich conta detalhes do derrame e como Minotauro salvou sua vida
"Eu escutei a palavra AVC e o pedido para chamar a ambulância". Em um minuto, Duda Yankovich colocava seu protetor bucal e se preparava para começar um treino de muay thai com o time profissional da Team Nogueira, no Rio de Janeiro. No outro, via os rostos assustados dos seus companheiros de time e enfrentava um risco de morrer maior do que passou em toda uma carreira como lutadora, na qual foi campeã mundial de boxe. Seis meses depois, a sérvia radicada no Brasil vive mais um capítulo de uma história de vida marcada pela superação. Já retomou sua rotina e aguarda para voltar aos ringues, no MMA, mas o susto mantém vívidas as memórias do ocorrido.
O AVC (acidente vascular cerebral, também conhecido como derrame) foi grave. O risco de morte e de que Duda acordasse com sequelas existia, a ponto de os médicos pedirem ao atual marido dela, o lutador Douglas Silva, praticamente se despedir da lutadora. Mas o rápido diagnóstico do técnico Vander Valverde, o direcionamento de Minotauro encaminhando Duda para o hospital correto e o cuidado da equipe médica resultaram em uma Duda Yankovich 100% após sua cirurgia.
Duda evita falar sobre o caso, para não cometer injustiças com quem a ajudou nos bastidores, mas aceitou relembrar e detalhar o caso em entrevista para o UOL Esporte. Para uma sérvia que chegou a ver a casa de um vizinho ser derrubada em um bombardeio, durante a guerra, o AVC aparenta ser apenas mais um obstáculo. Naquele momento, não parecia ser tão simples.
"O episódio aconteceu numa quarta-feira, 9 de julho. Na véspera, eu estava na casa de um casal de amigos e estava com uma enxaqueca muito forte, algo que nunca tive antes. Estava vendo uns flashes. Mas não sou uma pessoa que corre para ver médico", conta a lutadora, que chegou em casa tarde, completou algumas obrigações de trabalho e, no dia seguinte, foi para seu treino, mesmo sem se sentir bem disposta.
"Eu estava com dificuldade de aquecer para o treino. Estava sentindo cansaço e estava lenta. Para minha sorte, meu treinador, hoje técnico principal da equipe, o Vander Valverde, percebeu que algo estava errado. Ele me fez algumas perguntas que eu pensei que tenha respondido na boa, mas logo em seguida ele me pediu para sentar e retirar meu protetor bucal. Escutei a palavra AVC e o pedido para chamarem uma ambulância", era o começo da luta pela vida da sérvia. Duda não queria acreditar no que estava ouvindo, mas as expressões de seus colegas entregavam a seriedade.
Carregada no colo, ela foi levada rapidamente para o hospital. Valverde e seus companheiros de treino conversavam, para mantê-la consciente. "Me lembro dos meus colegas me carregando no colo e tentando falar comigo, depois só me lembro de acordar CTI hospital". Além da rápida ação de Valverde, os conselhos de Minotauro e da fisioterapeura Ângela Côrtes, e a ajuda de André Elias, que pagou parte das despesas hospitalares, foram importantes.
"O Rodrigo não é quem é por acaso. Para muitos ele é apenas um atleta famoso e homem de negócios. Pra gente, é muito diferente disso. Ele participa nas nossas vidas pessoais e profissionais, como ídolo, mentor, amigo e irmão. Para minha sorte, ele indicou o hospital certo para eu ser levada (ela foi encaminhada ao hospital Barra d'Or), e consultou a Doutora Ângela Côrtes, que por sua vez entrou em contato com a equipe médica que estava a caminho do hospital. Eu fui operada a tempo pelos médicos, muito competentes, e este fato me fez sobreviver e ficar nesta condição física e mental boa", explicou.
O marido de Duda chegou a dormir no estacionamento do hospital, dentro de seu carro, para não se afastar da sérvia durante o tratamento. Foi ele quem segurou uma das maiores barras do caso. "O susto de tudo isso foi grande, uma vez que o médico teve de fazer o cateterismo e havia chance de não sobreviver ou de voltar com sequelas graves. Meu marido foi avisado pelos médicos a praticamente se despedir de mim, eles não sabiam o que iria acontecer."
Para uma lutadora, como Duda, o fato de se ver presa a uma cama e ainda dependendo de outras pessoas faz com que a recuperação seja um processo doloroso. Mas o fato de uma amiga próxima ter passado pelo mesmo encorajou Duda, ainda mais apoiada pelos amigos e colegas. Minotauro manteve visitas constantes. "Tive muita sorte de ter o técnico Vander por perto naquele dia, para identificar o acidente, e o Rodrigo Minotauro, que em tempo recorde conseguiu me direcionar para lugar certo, por isso eu estou ainda aqui", comemora ela.
Duda teve uma recuperação rápida e em seis dias deixou o hospital com apenas alguma lentidão de movimentos, que melhorou nos dias seguintes. Menos de duas semanas depois, voltou à academia, mas para exercícios leves. Hoje, ainda não está em ritmo de competição - não tem luta marcada -, mas treina com a equipe profissional integralmente.
As sequelas físicas não existiram, mas emocionalmente o incidente fez com que Duda tivesse dificuldades. Sem treinar e trabalhar na intensidade normal de sua vida, ela ainda se preocupava em ter alguma consequência do AVC. "Tinha que lidar com as pessoas me analisando o tempo todo e corria para espelho toda hora para ver se estava bem. Passei a não sair muito de casa, para não ter que sentir isso, me incomodava toda vez que alguém insistia em saber se eu estava bem. Cheguei até a evitar encontros com amigos e familiares. Mas isso passou."
Uma das conquistas de Duda, na prática, foi para seu time. A lutadora não tinha plano de saúde e, depois de ir parar no hospital, a Team Nogueira fez uma parceria com uma seguradora para seus atletas. Neste quesito, inclusive, a ajuda do amigo André Elias, pagando parte da conta do hospital e garantindo seu atendimento, foram também fundamentais para Duda. ""O André, sócio da empresa Delinea Seguros, hoje grande amigo e parceiro, me conhecia há poucas semanas e ajudou a pagar a conta do hospital e se assegurou de eu receber o atendimento necessário", agradece ela, que não teria como arcar com custos de exames básicos para sua situação, muito caros para quem não tem plano de saúde.
A lutadora agora pensa até em escrever um livro sobre tudo o que viveu. "Já tem um tempo que estou escrevendo os capítulos sobre a minha vida, sobre de onde venho e como foi morar lá (na Sérvia), sobre a minha família, as guerras, a minha trajetória como atleta, o preconceito, a minha vinda para o Brasil, a minha determinação de ser a campeã... Enfim, é um projeto meu, pensei em fazer isso há muito tempo, mas estar tão perto de morte me fez agir. Hoje tenho a esperança de conseguir despertar o interesse de algum profissional para me ajudar a terminar de contar e publicar a minha história."
Razões do AVC e volta
As causas do AVC não foram relacionadas aos impactos na cabeça provenientes dos treinos e lutas, segundo os médicos. À época do incidente, Duda estava levando uma rotina desgastante, trabalhando muito e dormindo cerca de quatro horas por noite. O estresse acabou sendo demais para a lutadora.
Resolvido o problema, a sérvia já volta as atenções novamente ao MMA. "Estou voltando aos poucos. Eu poderei, e quero mais do que nunca lutar, quando eu me sentir forte e confiante suficiente para isso. Eu não faço nada para provar coisa nenhuma. Ainda sou atleta do Invicta FC, tenho mais três lutas pelo contrato e pretendo cumprir o mesmo."
Além dos treinos para lutar, hoje Duda tem como trabalho principal ser professora da Beone, um núcleo de desenvolvimento de performance humana, que tem como a filosofia de trabalho o treinamento personalizado. Além disso, ela é a coordenadora de uma atividade chamada Ladiescamp da Team Nogueira, que leva para a academia mulheres que não gostam de contato físico das lutas, mas gostam da filosofia desse tipo de treino.
Duda Yankovich conquistou seu título mundial de boxe em 2006, quando faturou o cinturão das superleves da WIBA (Associação Internacional de Boxe Feminino). Ela encerrou sua carreira na nobre arte com 11 vitórias e quatro derrotas. No MMA desde setembro de 2012, venceu uma de quatro lutas.
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