Depressão, álcool e vida íntima invadida. Veja os dramas de Ian Thorpe
A luta contra uma forte infecção que pode causar a perda dos movimentos do braço esquerdo está longe de ser a única batalha na carreira do polêmico pentacampeão olímpico Ian Torphe. A vida do australiano tem batalhas contra depressão, alcoolismo e até de questionamentos sobre sua sexualidade.
Há cerca de dois meses, o atleta de 31 anos deu entrada em uma clínica privada para tratar de depressão depois de ser encontrado pela polícia local em estado de atordoamento pelo uso excessivo de medicamentos.
Os problemas psicológicos também foram os responsáveis pela aposentadoria precoce que teve em 2006, aos 24 anos, quando decidiu parar alegar estar desmotivado. Depois, veio à tona que a interrupção foi pelo uso excessivo de álcool e forte depressão.
Há pouco mais de um ano, ele lançou uma biografia em que revelava os problemas psicológicos que teve e que aventou a possibilidade de fazer algo pior. “Até pensei em lugares concretos ou um modo específico de cometer suicídio, mas sempre recuava ao perceber que era ridículo... Poderia ter cometido suicídio? Olhando para trás, acredito que não, mas existiram dias na minha vida que mesmo hoje me fazem tremer”, escreveu.
Diz que usava álcool para poder ter boas noites de sono, até que isso virou um circulo vicioso. “Era a única maneira de poder dormir. Usava a bebida sozinho em meio à desgraça”, disse na obra.
O nadador sempre foi alvo da imprensa de seu país quanto a questionamentos sobre sua sexualidade, o que sempre gerou desgaste no campeão, que visivelmente não gostava desse tipo de pergunta sobre sua vida particular.
Em 2009, o jornal “The Daily Telegraph” chegou a insinuar que ele tinha um caso com o desconhecido nadador brasileiro Daniel Mendes, ao relatar que os dois viajaram juntos de férias para o Brasil e que chegaram a morar na mesma casa, na Austrália, por três anos. O australiano teve que falar na época sobre isso e cita em sua biografia a chatice que era ter esse tipo de questão à sua sombra.
“Em várias ocasiões respondi questões sobre minha sexualidade com a mídia abertamente e honestamente... Desde então, minha situação não mudou”, falou Thorpe, em uma das declarações sobre o assunto. “O que acho mais doloroso é ver as pessoas questionando minha integridade, e que isto seria algo com o qual me sentiria embaraçado ou quisesse esconder. Não quero ofender alguém ficando nervoso ou frustrado com isso.”
Os ex-nadadores brasileiros Gustavo Borges e Fernando Scherer, o Xuxa, foram contemporâneos de Thorpe e chegaram a ter contato com o australiano em competições internacionais. Gustavo diz que nunca percebeu no atleta qualquer sinal de que pudesse ser um jovem infeliz ou com problemas. O que transparecia era seu espírito de competividade.
“Não, nada, nunca percebi. Ele parecia ser um cara determinado, que era pelos resultados e a maneira de competir. Não tinha nada que identificasse um perfil diferente não, ele parecia até ser um cara bem equilibrado, com muita determinação, não lembro nada que tivesse chamado atenção, a não ser pela determinação dele de ganhar”, falou Borges.
“Ele foi um cara que parou muito cedo e ganhou muita coisa jovem. É difícil falar, mas pode ser que ele tenha tido uma mistura de sentimentos muito jovem. Ele voltou tarde demais, era extremamente talentoso. Uma pena”, continuou.
Xuxa diz que a maior lembrança que tem no contato é de que Thorpe era um cara extremamente humilde. E diz que a primeira lembrança que tem dos momentos que pôde presenciar era de sua disposição em tratar muito bem a todos. “Ele era um moleque atencioso e carismático. Lembro que ele atendia as crianças e fazia tudo de maneira profissional. Já vi muito campeão olímpico negar foto até pra atleta em Olimpíada, mas ele ficava lá atendendo as crianças. Ele sempre tratava muito bem todo mundo”, falou.
“Não posso comentar sobre a vida pessoal dele, porque não conheço. Mas quando se fala em medicamento e álcool é uma mistura que não dá uma combinação muito boa. Ele era recordista mundial com 15 anos e depois teve uma parada brusca. Imagino que possa ter perdido o chão. Não é fácil para um atleta parar de representar seu país, ouvir hino e fazer a sua nação feliz.”
Ian vinha tentando retomar a carreira desde 2011, mas nunca conseguiu nenhum resultado expressivo. A TV australiana Network Seven divulgou na terça-feira que o cinco vezes campeão olímpico está internado na UTI de um hospital em Sydney, na Austrália, com uma infecção forte que pode causar a perda dos movimentos do braço esquerdo. Em entrevista à emissora britânica BBC, um porta-voz do nadador confirmou a hospitalização do australiano, mas negou que ele estivesse em cuidados intensivos.
A agência Reuters publicou entrevista com James Erskine, empresário de Thorpe, que afirmou que o caso é de risco à vida do australiano, mas considerou que este pode ser o fim da carreira do atleta. "De um ponto de vista competitivo, eu acho que ele não vai nadar competitivamente de novo", afirmou.
Falta de privacidade pode causar distúrbio
A psicóloga esportiva Maira Ruas ressaltou que não há como fazer qualquer avaliação do caso sem acompanha-lo de perto, mas viu algumas situações que podem ter sido determinantes para a depressão do ex-campeão olímpico.
A profissional entende que apenas o fato de ter ganhado tudo muito cedo pode não ter sido o diferencial, mas sim a exposição de sua vinda íntima e a sensação de ter que prestar contas à sociedade pelos padrões impostos.
“Era uma pessoa muito jovem, que estava em formação de sua fase adulta e tinha uma imensa responsabilidade na vida pessoal e não tinha privacidade na vida pessoal. Ela é julgada o tempo todo, seja para ganhar um título ou porque sai junto com fulano ou sicrano; então a questão humana dele não existe. Ele tem que produzir medalhas e responder questões para a sociedade, como a opção sexual, sela ela qual for. E isso pode render um esvaziamento interno e ser o fator desencadeador de depressão e alcoolismo”, explicou.
“A depressão pode ter origem fisiológica ou social, com situações externas interferindo. O sucesso de forma prematura pode ter ajudado a desenvolver algumas características nele.”
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