"Quando eu cheguei para cá, não tinha estádio. Eles estavam começando a fazer. Aqui não era assim, eu cavei aqui tudo, levantei a loja. Aluguei o ponto e espero que consiga um dia comprar. Valorizou muito. Tem muito lazer aqui na área. Mudou muito, graças a Deus", disse Vicente de Jesus, um maranhense de 56 anos, dono de um bar ao lado do estádio Nilton Santos, o Engenhão.
A vida como vizinho de um equipamento esportivo pode ser boa. Vicente, por exemplo, era vendedor ambulante no Botafogo x Fluminense de 30 de junho de 2007, que inaugurou o local. 15 anos depois, mantém um negócio próprio. Mas nem sempre foi fácil.
Ele já tinha montado seu espaço, que hoje vende açaí, água de coco e outras bebidas, em fevereiro de 2017, quando o Botafogo recebeu o Flamengo no evento mais violento da história do estádio. "Vendia churrasco e cerveja naquele dia. Tinha umas cadeirinhas aqui. Quando olhei para lá [direita, no sentido da linha do trem], vi aquele formigueiro", conta Vicente.
"Fechei tudo, vi gente correndo para lá e para cá. Fui para dentro, portão fechado, mas voou spray para tudo quanto é lado. Minha mãe tinha 70 anos na época e estava aqui. Invadiu tudo. Foi uma coisa triste", lembra ele.
A rapidez para tirar a mercadoria da frente fez a diferença. Vicente perdeu apenas duas mesas, que foram quebradas. Um pedaço de uma delas foi encontrado na esquina. A hipótese é que foi usada como arma.
Um cliente meu estava tomando cerveja aqui e foi para lá [na briga]. Voltou todo moído, parecia um boneco".
Aquela briga ficou marcada pela morte de Diego Silva dos Santos, que tinha 28 anos. Ele foi atingido por um espeto de churrasco no meio da violência.