Frieza, blindagem e pressão zero. Segredos de Medina na busca por título
A maneira como o atleta reage à pressão é um divisor de águas em qualquer modalidade esportiva. Separa os bons dos excepcionais, bifurca o caminho entre a glória e o fracasso.
O mesmo trunfo de Gabriel Medina em seu início de carreira poderia ter sido também sua perdição. Ao entrar no WCT aos 17 anos, vencendo etapas e batendo de frente com os grandes nomes do surfe, Gabriel gerou sobre si uma expectativa assombrosa que, apesar dos percalços nas duas temporadas passadas, conseguiu corresponder.
Mas a vitória em três etapas nesse ano, a liderança do ranking por tantas etapas e a possibilidade de alcançar um feito inédito para o país na modalidade alçaram o jovem brasileiro à condição de ícone nacional, agregando-lhe o involuntário fardo de ser o responsável pela popularização da modalidade no país, sendo comparado à ídolos históricos como Guga e Senna.
Nesse início de fim de semana, o Brasil queria saber se seu novo xodó daria o primeiro passo rumo ao título mundial em Pipeline. Câmeras ligadas, celulares à postos. Quando Medina foi notado, correndo no horizonte em direção ao palanque do Pipe Masters, a praia explodiu. Gabriel apenas sorriu de canto de boca sem desritmar a passada, ao som do fone de ouvido e pensamentos misteriosos. Apesar da constante tentativa de explorarem seu lado midiático, Medina é introvertido, poucos são os que sabem o que ele realmente sente. Mas quem sabe, garante: ele está preparado.
Para o padrasto Charles Saldanha, figura mais próxima de Medina, a frieza e a competitividade são características inatas de Gabriel: “Eu acho que o Gabriel tem essa frieza dentro dele e sabe levar isso. Talvez melhor que eu, você e que todo mundo. Acho que por isso Acho que esse é o forte do Gabriel, por isso que ele está disputando o título agora”.
Mesmo assim, Charles decidiu proteger o filho. Adotou um esquema de blindagem, restringindo o contato com a mídia, fãs e, inclusive, familiares. Mas na hora da competição não tem jeito, mesmo com o padrasto se colocando na frente de Gabriel como um escudo.
“É aquele negócio: muita gente! Até peço ajuda de todo mundo para não amontoar muito, porque o moleque tem 20 anos. Eu que tenho 40 me assusto, imagina ele com 20, né?”, conta Charles.
Por sorte, apesar de invadido pelos brasileiros, o North Shore de Oahu tem um limite de capacidade para receber turistas. “Agora que a gente já veio pra praia, a gente já sentiu como está o clima, que está bom, apesar de tanta gente, dá para dizer que está muito mais fácil trabalhar aqui do que, por exemplo, no Brasil ou em Portugal”, diz Charles, que acredita que o surfe ajuda a aliviar qualquer tipo de pressão: “o surf é esse esporte que deixa a pessoa tranquila, porque é o mar, a água salgada. É o coral, o perigo que tem lá dentro também. Então, a última coisa que ele pensa é em pressão. Quando está lá dentro, só pensa em surfar”.
No primeiro round do Pipe Masters, Gabriel voltou da água classificado e um passo à frente na busca pelo título mundial. Título que nos últimos dez anos foi conquistado nove vezes por dois monstros do surfe: Kelly Slater e Mick Fanning, justamente os perseguidores de Gabriel.
Um dos melhores amigos do brasileiro e também surfista da elite, Miguel Pupo, acredita que este tabu joga, na verdade, a cobrança para o outro lado:
“Acho que ele é o que tem menos, comparando ao Mick e ao Kelly, porque eles estão tentando defender um troféu que é deles há muito tempo. Então, eles tão ali sondando...como eu posso dizer, eles são os guarda-costas do troféu. E o Gabriel não. Ele é novo, tem 20 anos, tentando o título mundial pela primeira vez. Se ele não conseguir agora, tem mais 15, 16 anos pela frente pra tentar de novo. Então, acho que a pressão para ele é quase zero. Ele está tentando algo novo, enquanto os caras têm que defender o que já é deles”.
Mas se os guarda-costas do troféu perderem suas próximas baterias, o caneco da ASP terá um novo guardião. Pela primeira vez, um brasileiro.
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