Ela é a única brasileira na elite do surfe e pode surpreender em 2015
A temporada 2015 da Liga Mundial de Surfe (WSL) começa nesta sexta-feira em Gold Coast (Austrália) e os olhos de todos os brasileiros estarão em Gabriel Medina. Mas você sabia que no circuito feminino o país conta com uma surfista capaz de fazer frente às grandes estrelas e também lutar pela taça?
Ela atende pelo nome de Silvana Lima, é cearense, tem 30 anos e será a representante solitária do Brasil no Circuito Mundial de 2015, que conta com 17 competidoras. A nordestina está de volta à elite após um ano de ausência. Em 2014, disputou a segunda divisão (WQS), ganhou duas etapas (na Nova Zelândia e na Espanha) e sagrou-se campeã. Isso depois de ir mal no WCT em 2013 em decorrência de muitas dores no joelho que a impediram de obter bons resultados.
Veterana, Silvana poderia muito bem já ter escrito seu nome na história em 2008 e 2009 como a primeira atleta do país a ficar com o título mundial de surfe. Em ambas as temporadas, porém, acabou com o vice-campeonato. Desde que ingressou no WCT, em 2006, ela soma vitórias em três etapas.
“Agora, estou na melhor fase do meu surfe, pronta para brigar pelo título. A expectativa é a melhor possível, porque tem três etapas novas em lugares que eu gosto muito de surfar que são Lowers (Trestles), Fiji e Mauí. Estou ansiosa para tudo começar. Estou muito feliz por estar de volta à elite, um lugar de onde eu nunca deveria ter saído”, disse a surfista em entrevista ao UOL Esporte.
Em que pese ser a única brasileira na elite e ter obtidos resultado que a credenciem a brigar em pé de igualdade com as melhores do mundo na atualidade como a australina hexacampeã mundial Stephanie Gilmore (uma de suas adversárias na estreia) e a havaiana bicampeã Carissa Moore, Silvana ainda tem dificuldades para disputar as competições. E o principal problema é financeiro.
A cearense estima que neste ano terá de gastar R$ 145 mil para disputar as nove etapas do circuito, e isso contando apenas com uma pequena ajuda de custo da Vult Cosméticos e do designer Johnny Cabianca, do estúdio Pukas Surfs, que fornece as pranchas. Conseguir patrocinadores tem sido um dos principais problemas de Silvana.
“Continuo à procura de uma empresa que acredite em meu potencial, que queira fazer parte de minha história. Saí do nada, pobre sem dinheiro algum, nem cama para dormir eu tinha. Somente com meu esporte consegui dar uma casa para minha mãe, criar meus sobrinhos, dar estudo a minhas irmãs e ter uma casa própria morar. Sou a melhor brasileira por 8 anos consecutivos, vice-campeã mundial duas vezes e atual campeã mundial do WQS e sigo sem patrocínio. Mas acredito que minha hora vai chegar, alguém empresário vai acordar”, desabafou Silvana.
Até mesmo por conta da falta de incentivos, teve de se sacrificar para poder competir no WQS em 2014.
“No ano passado, tive de vender meu apartamento no Rio de Janeiro e meu carro para correr todo o WQS”, contou Silvana, que espera por mais dificuldades em 2015.
“Costumo comprar as passagens aéreas mais baratas e com isso muitas vezes não chego direto no destino exato, tenho de fazer várias conexões, passar dias inteiros sentada no aeroporto esperando o próximo voo. Faço de tudo para tentar pagar menos, mas não é fácil. Aos lugares que vou, procuro sempre saber se tem algum brasileiro que queira me hospedar durante os eventos. E pensar em todas estas coisas acaba atrapalhando um pouco, pois enquanto isso, as outras meninas estão treinando com a cabeça focada somente em surfar”, disse Silvana.
Efeito Medina não ajudou
Segundo a cearense, a conquista do título mundial de Gabriel Medina em dezembro do ano passado não mudou em nada a sua situação e do surfe feminino brasileiro. Enquanto ela é a única atleta do país na Circuito Mundial, sete homens estão na disputa em 2015.
“A mídia sempre mostra mais os meninos, portanto as marcas querem mais homens do que meninas. Estou aqui porque realmente tenho talento. Imagine para quem vai começar sem nenhum incentivo financeiro tudo é muito caro”, disse.
“O Medina é simplesmente um fenômeno, um garoto completo, que graças a Deus teve um patrocinador que permitiu que ele viajasse com a família e comprasse tudo que há de melhor em equipamentos. Ele aliou tudo isso ao seu talento e conseguiu o primeiro de muitos títulos que virão”, completou.
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