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Ex-campeões viram técnicos e mudam até o jeito de Federer jogar tênis

Do UOL, em São Paulo

24/09/2014 06h00

O público do tênis se acostumou a ver ex-campeões sentados ao lado de autoridades e mulheres lindas nas tribunas de honra das quadras. Mas nesta temporada de 2014 algumas lendas do esporte estão em outra parte das arquibancadas, os boxes dos jogadores. Eles viraram técnicos de tenistas tops do circuito.

Roger Federer entrou na onda e e recrutou o sueco Stefan Edberg. Decisão semelhante tomaram Marin Cilic e Stanilas Wawrinka que, com a ajuda de nomes consagrados do passaram, se juntaram ao grupo dos vencedores de um Grand Slam. Confira a seguir as parcerias firmadas e como elas mudaram a forma de jogar dos tenistas:

Com Edberg, Federer vai mais à rede

Federer ressuscitou o voleio nesta temporada. É junto a rede que ele procura finalizar os pontos na tática escolhida de ser bastante agressivo e encurtar os pontos. A estratégia vai na contramão da tendência do circuito de jogadores mais velozes e resistentes que apostam nas trocas de bola.

Mas o modo de jogar tem tudo a ver com o nove técnico, o sueco Stefan Edberg, dono de seis títulos de Grand Slam usando o voleio como principal arma. Uma prova da mudança ocorrida desde que o treinador assumiu o cargo é o percentual de vezes em que o tenista subiu para rede em Wimbledon após o primeiro serviço.

No ano passado ele optou pela estratégia em 10% dos saques, enquanto na última edição o percentual subiu para 22%. Uma declaração do suíço atesta a mudança. Num circuito com cada vez mais jogadores correndo como loucos no fundo da quadra e alongando os pontos, Federer é vintage.

Ivanisevic tornou o saque de Cilic letal

Cilic sempre foi visto como um jogador de qualidade, mas caiu num limbo até se juntar com o também croata Goran Ivanicevic, campeão de Wimbledon em 2001. A parceria iniciada ano passado rendeu o primeiro Grand Slam para o tenista.

Uma mostra da qualidade apresentada está na declaração do treinador depois da partida de semi-finais de Cilic contra Roger Federer. “Me sinto orgulhoso hoje. Este é a segunda semi-final (de Grand Slam) e assisti ele jogando contra o provável melhor jogador da história e dando uma aula de tênis nele”.

Considerado pela própria ATP como o sacador mais devastador da história, Ivanisevic promoveu mudanças neste no golpe de Cilic. A ideia foi simplificar o movimento e facilitar a execução. O tenista tem 1,98 metros e precisava aproveitar a estatura. Deu certo.

“Certamente adicionou mais força ao meu saque e me deu mais opções para bater a segunda bola. Eu posso correr mais riscos e colocar mais pressão no oponente”, afirmou Cilic.

Os números comprovam a eficácia do golpe. Nos dois primeiros meses a média de aces estava em 11,2, acima da maior marca da carreira obtida em 2009 com 9,1 serviços indefensáveis por jogos. Ivanisevic também trabalhou para o pupilo ser mais agressivo no fundo de quadra e deu atenção especial ao voleio de Cilic. Ou seja, armou o tenista com as armas para executar a tática que considera a mais adequada, ser agressivo. Resultado, ele venceu o US Open neste ano.

Wawrinka ganhou força mental com Magnus Norman

Stanislas Wawrinka era o suíço que perde. Ou perdia. Ninguém duvidava da qualidade técnica, mas cabeça do tenista não aguentava e ele sucumbia nos momentos de pressão. Foi assim até o Aberto da Austrália deste ano, quando bateu Novak Djokovic e Rafael Nadal e levantou a taça. Créditos para quem estava no banco de reserva, o sueco Norman. Ele foi derrotado por Guga na final de Roland Garros de 2000, mas conseguiu fazer o jogador acreditar que pode vencer qualquer um.

Depois do torneio Wawrinka falou: “é muito sobre confiança, especialmente com meu jogo de bolas rápidas da linha de base sempre tentando ser agressivo. Eu assumo uma série de risco as vezes então é importante estar com a cabeça relaxada.”

Norman sabia que o caminho para o sucesso era melhorar a força mental do tenista. Em setembro do ano passado, começo do trabalho, ele disse a ESPN: “a coisa mais importante que nós temos de trabalhar é a confiança. Stan é um cara muito legal, mas as vezes um pouco inseguro. Temos falado bastante em como lidar com os nervos em situações difíceis em grandes torneios. Não é um segredo. Estou tentando convencê-lo e fazer que acredite que pode vencer”.

Além de tênis, Norman entende de psicologia. Wawrinka conseguiu.

Nishikori está mais versátil depois de Chang

Os dois têm nome asiáticos, mas Michael Chang é americano de origem chinesa e foi campeão de Roland Garros em 1989. Nishikori é um jovem japonês que chegou ao top 10 e é apontado como possível número um no futuro. Ocorre que o jogo dele atingiu um teto e o jogador não conseguia bater os melhores do circuito.

A realidade começou a mudar ano passado ao contratar Chang como treinador. O resultado apareceu no último Aberto dos EUA e chegou a final batendo Novak Djokovic na semifinal. Em abril deste ano, Chang revelou como ia trabalhar com o pupilo.

“Eu quero das a ele um pouco de flexibilidade. A base do jogo dele é ser sólido, mas contra os caras do top 10 você tem que fazer algo diferente e ser menos previsível.”

Antes mesmo de ser treinador, Chang já ensinara uma lição a Nishikori. Técnico e tenista se conheceram quando o japonês tinha 16 anos numa exibição que contou a participação de Federer. O então garoto se comportava como uma tiete diante do maior vencedor de Grand Slam da história. Chang alertou que ambos seriam adversários no futuro e enquanto estivesse feliz apenas em dividir a quadra com o suíço jamais o venceria.