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Oncins vira professor nos EUA e carrega trauma de ver amigo baleado

Jaime Oncins com o filho em inauguração de academia em 1999 - Lili Martins/Folhapress
Jaime Oncins com o filho em inauguração de academia em 1999 Imagem: Lili Martins/Folhapress

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

17/10/2014 06h00

Ex-jogador profissional com títulos em simples e duplas, passagem como capitão brasileiro da Davis e também treinador. Mas, a partir de 2015, Jaime Oncins terá um novo desafio que vai  um pouco mais além do tênis e do mundo esportivo: será coordenador de um colégio particular nos Estados Unidos que tem como objetivo preparar adolescentes para a vida universitária tanto na questão estudantil como esportiva.

Jaime será diretor técnico de tênis da Montverde Academy, escola de primeiro e segundo grau localizada na cidade de Montverde, próxima de Orlando, na Florida, onde vive com sua mulher e três filhos. O colégio particular funciona como base de apoio para que estudantes consigam ingressar nas mais renomadas universidades americanas.

E no país da América do Norte a prática do esporte está atrelada ao ensino, não só nas universidades, mas mesmo nos colégios. O Montverde, por exemplo, tem 500 mil metros quadrados, quatro quadras de tênis, pista de atletismo e campos de futebol, beisebol, softball e futebol americano.  Há local para dormir e refeitório.

“Vou fazer agora o que sempre quis, que é não só preparar um atleta, mas também formar uma pessoa. A ideia é deixar o aluno também apto para ser um tenista profissional, mas também deixa-lo pronto para a universidade. Sempre sonhei em unir essas duas coisas”, falou Oncins, ao UOL Esporte.

“Essa é a mentalidade do americano, eles acreditam no esporte como educação e o estudante faz tudo isso dentro da escola. No Brasil é impossível de imaginar uma coisa dessas, infelizmente não temos espaço pra isso e essa mentalidade. O esporte é importantíssimo para a formação da pessoa e a companha na sua formação até a universidade. Eles têm isso na cabeça desde pequeno”, prosseguiu.

Apesar da nova aventura no mundo estudantil,  Oncins ainda continuará como técnico particular do português Gastão Elias. Como jogador, o paulistano foi um dos principais nomes do tênis masculino antes da aparição de Gustavo Kuerten. Chegou a ocupar o posto de 34º do mundo em 1993.

Tem vitórias históricas como sobre o norte-americano Michel Chang, ex-número 2 do mundo, nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, quando parou nas quartas de final. No mesmo ano, fez sua melhor campanha em um Grand Slam, com as oitavas de final em Roland Garros. Lá, venceu o lendário Ivan Lendl, ex-número um do mundo e considerado um dos melhores jogadores da história.

O brasileiro conseguiu uma histórica virada por 3 sets a 2 depois de estar perdendo por 2 a 0. Ganhou o derradeiro set por 8 a 6 depois de o rival ter a chance de sacar para fechar o jogo.  Mas, após ter seu serviço quebrado, Lendl se irritou e jogou a raquete no chão. O jogo foi interrompido por falta de luz natural e só prosseguiu no dia seguinte.

“Tem algumas vitórias especiais, e a sobre o Lendl foi, sem dúvida, uma delas. Um ídolo do esporte, em Roland Garros, onde sempre sonhei em jogar. Foi uma vitória especial. Lembro (dele nervoso). Foi quando quebrei seu saque. Depois do jogo ele só me deu um cumprimento básico com aquele mau humor. Só cumprimentou mesmo e tchau”, recordou.

Oncins participou das melhores campanhas da história do Brasil na Copa Davis, nas semifinais de 92 e 2000. Na primeira, jogou simples quando o Brasil bateu Alemanha e Itália para depois perder da Suíça, na semi. Já em 2000 jogava apenas duplas.

“Tive dois momentos diferentes, desfrutei dos dois. Adorava jogar simples e tive um prazer enorme. Depois de várias coisas que aconteceram veio a chance de fazer a de dupla, tive meu momento . Adorava jogar a Davis, sempre gostei muito de pressão. Era um momento especial pra caramba. Sinto mais falta da Davis do que do circuito.”

Desilusão ao vivenciar tragédia no futebol

Corintiano fanático, Oncins foi até o Pacaembu em dezembro de 1994 para acompanhar a decisão do Campeonato Brasileiro, entre seu time de coração e o arquirrival Palmeiras. Aquela noite acarretaria um momento de baixa em sua carreira nos anos seguintes.

Oncins voltava do Pacaembu com amigos em uma saveiro e estava na parte de trás. Quando o carro estava na avenida Henrique Schaumann, palmeirenses balearam um dos amigos do tenista, Paulo Sérgio Elias Costabile, que acabou morto com um tiro na cabeça.

“Sempre frequentei estádios. Agora nunca mais vou. O futebol morreu pra mim”, falou Jaime dias após o ocorrido. Depois do episódio, Ele teve uma descendente na carreira e levou alguns anos para voltar a jogar em bom nível. Conta que até hoje vem recordações negativas do que ocorreu e que por muitos anos ficou desiludido com o futebol.

“Aquilo lá vai estar sempre na minha cabeça. Você acaba aprendendo a conviver, mas imagine só um amigo de infância caindo no seu colo com um tiro na cabeça? Nunca mais vai sair. É um episódio triste. Na época mexeu muito comigo e tive que lidar com isso durante um bom tempo. Tinha dificuldade pra dormir pelas cenas que tinha vivenciado. Foi passando com o tempo, mas incomodava bastante”, recordou.

“Não posso negar que durante um tempo atrapalhou (a carreira). Fiquei meio atordoado, perdi o ranking e fiquei um tempo sem jogar. Durante um tempo fiquei sem ir a estádios e uns dois anos sem acompanhar mais”, prosseguiu. Apesar da distância do futebol pelo ocorrido, o Corinthians não sai do seu coração “Sempre, isso sempre”, finalizou.