Venceu o melhor
Antes da partida contra a Argentina, escrevi que, por motivos óbvios, seria surpresa a vitória do Brasil. A Argentina jogava em casa e tem um time bem melhor. Houve várias reações contrárias. Na pesquisa da TV Globo, antes do jogo, a maioria absoluta dos torcedores achava que o Brasil iria ganhar.
Vivemos num mundo de ilusões. As pessoas têm o receio e constrangimento de dizer que o grande rival é superior e teria mais chances de vencer. Seria politicamente incorreto, antipatriótico, pessimista ou sentimento parecido.
Antes do jogo, tinha medo de que o Brasil levasse uma goleada. Imaginava que a pressão e a ampla superioridade da Argentina no segundo tempo contra o Brasil aconteceriam durante toda a partida.
Tudo favoreceu o Brasil. O gol surpreendente e estranho aos dois minutos de jogo apavorou os argentinos e incendiou e tranquilizou os brasileiros. O time correu muito no primeiro tempo e cansou no segundo. Para minha surpresa, a Argentina não marcou por pressão no primeiro tempo, como faz normalmente. Mauro Silva e Eduardo Costa trocaram passes no meio-campo. Chegaram até a driblar e fazer firulas. Inacreditável!
Outro fator favorável ao Brasil foi a escalação errada do excelente técnico Marcelo Bielsa. Ele pôs dois atacantes canhotos pela esquerda (Gonzalez e Lopez) e nenhum pela direita. No segundo tempo, o técnico mudou, e o habilidoso Ortega infernizou a marcação brasileira pela direita.
Na segunda etapa, houve o massacre esperado. Ataque contra defesa. Time grande contra time pequeno. O Brasil não saía da defesa, encurralado.
O jogo mostrou novamente o óbvio: não temos time. Há um amontoado de jogadores em campo. A atuação no primeiro tempo foi surpreendente e heróica. No segundo, o comportamento esperado.
Apesar das deficiências, a seleção está quase classificada. Falta de quatro a seis pontos contra equipes já desclassificadas e serão dois jogos no Brasil. Porém, o time está tão ruim que terá dificuldades de vencer até a Venezuela.
Os jogadores atuam mal porque são ruins ou não há conjunto? O problema principal é coletivo. Nesses dois meses sob o comando de Felipão, não houve progresso. Se grandes jogadores como Verón e Zidane jogarem no atual time brasileiro, também vão atuar mal.
É uma ilusão pensar que, de repente, o time vai se acertar. Sem planejamento fora de campo, conjunto, boa tática e tempo, será difícil a recuperação. Faltam somente nove meses para a Copa. As minhas esperanças de formar uma excelente equipe diminuem a cada partida.
Tostão escreve no UOL Esporte com exclusividade às quintas-feiras; para ler colunas anteriores, clique aqui.
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P.Tostão, começo a pensar que só uma "tragédia" pode tirar o futebol brasileiro dessa inércia. Começo a me perguntar se não seria melhor para o futebol brasileiro a seleção ficar fora da próxima Copa. Realmente estou desiludido. João Cesar Pereira R.João, de vez em quando tenho também essa visão catastrófica, mas acho que o Brasil pode se recuperar sem ficar fora da Copa. Se o Brasil escalar os melhores jogadores e definir uma tática, tem condições de formar um bom time e disputar o título mundial. P.Olá, Tostão! Parabéns pela coluna e pela sobriedade em seus comentários. Qual sua opiniao sobre a seleção argentina. As eliminatórias são um parâmetro para dizer que são hoje a melhor seleção do mundo? Christian Medeiros R.A seleção argentina é quase a mesma da última Copa. É um ótimo time, mas não é nenhuma maravilha. A seleção francesa está no mesmo nível. As duas são, hoje, as melhores. Espero que, até a Copa, o Brasil cresça.
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